A cada dia que passa os meios de comunicação nos assustam com nova contagem de corpos achados na lama e anunciam o número de desaparecidos. Estamos sempre mais horrorizados com uma catástrofe que ceifou a vida de tantas pessoas. Ficamos de coração partido pensando nas famílias inconsoláveis pela perda de um ente querido. Partilhamos a sua dor e saudade rezando pelos falecidos e suplicando ao Nosso Bom Deus que conforte com seu amor e ternura os familiares, parentes e amigos aflitos.
Não hesitamos, porém, de denunciar a negligência e omissão dos responsáveis por esse crime e insistir que sejam apuradas as verdadeiras causas do rompimento da barragem. Os desastres de Mariana, Barcarena e de outros lugares ficaram até hoje sem explicação convincente e manifestam a face cruel e desumana da mineração no Brasil.
Na Prelazia do Xingu, depois de Belo Monte com seus efeitos tão negativos para os ribeirinhos e indígenas, chega uma empresa canadense que pretende explorar as minas de ouro na Volta Grande do Xingu. Se o projeto chegar a concretizar-se ameaçará de modo dramático os sítios arqueológicos e afetará sensivelmente o ecossistema da região.
Estamos muito apreensivos e temerosos diante dos enormes riscos que esse empreendimento significa para o ser humano e o meio ambiente. Quem realmente pode garantir que as instalações previstas tenham a segurança apregoada? Sabemos, no entanto, que as consequências de um desastre serão irreversíveis e jamais haverá recuperação das águas e das áreas atingidas no Xingu. Apelamos aos Governos Federal e Estadual para que se abstenham de conceder licenciamento a uma empresa estrangeira que quer levar o ouro do Brasil deixando atrás de si uma paisagem lunática envenenada.
Altamira, 10 de fevereiro de 2019
Dom João Muniz Alves, ofm Bispo do Xingu
Dom Erwin Kräutler, cpps Bispo em. do Xingu