A Universidade de Georgetown acolhe, de 19 a 21 de março, um evento internacional intitulado “Ecologia Integral: uma resposta sinodal da Amazônia e de outros biomas/territórios chave para o cuidado da nossa casa comum”, pretende ser uma contribuição ao Sínodo para a Amazônia.
Por: Luis Miguel Modino
Coordenado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, e co-patrocinado pelo Departamento para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, a missão do Observatório Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, a Universidade de Georgetown e a Conferência Jesuíta do Canadá e dos Estados Unidos, com o apoio da Caritas Internationalis e a participação da Secretaria do Sínodo dos bispos, o encontro, em que são esperados mais de 120 participantes de todo o mundo, pretende ser uma resposta à necessidade urgente de agir como humanidade enfrentando o futuro do planeta.
Não podemos esquecer, conforme relatado pelo site da REPAM, que “a região da Pan-Amazônia tem sido historicamente concebida como um espaço a ser ocupado, controlado e integrado dependendo de interesses externos. É a partir da descoberta de recursos naturais que se posiciona como uma região prioritária, no entanto, cresce em torno dela uma concepção de atraso, longe da centralidade urbana e que tem um vazio demográfico, que permite tomá-la como terra disponível para servir os interesses dos grupos econômicos e de poder, sua riqueza cultural, faunística e de flora torna-se invisível. Ela passou de “quintal” para “praça central do planeta”. É um bioma, isto é, um sistema vivo, que funciona como um estabilizador climático regional e global, produzindo 1/3 das chuvas que alimentam a terra”.
A Pan-Amazônia tem uma grande biodiversidade, albergando 2.779.478 indígenas, pertencentes a 390 povos, 137 povos isolados ou não contatados; existem 240 línguas faladas pertencentes a 49 famílias linguísticas. Tem quase 35 milhões de habitantes no total. A Pan-Amazônia cobre uma área de 7,5 milhões de quilômetros quadrados, distribuída em 9 países da América do Sul, incluindo a Guiana Francesa. Representa 43% da superfície da América do Sul. A região amazônica concentra 20% da água doce não congelada do planeta. Concentra 34% das florestas primárias do planeta que abrigam entre 30% e 50% da fauna e flora do mundo.
A REPAM quer encarnar o cuidado da Casa Comum e uma conversão sócioambiental na Pan-Amazônia, se colocando ao serviço dos seus povos, e pretende lutar em defesa de sua sabedoria ancestral, seus territórios e seu direito a uma “participação eficaz nas decisões” que são feitas com relação à sua vida e seu futuro. A partir dessa perspectiva, “é absolutamente urgente e até mesmo imperativo que a Laudato Sí se faça vida, que se sustente ao longo do tempo e tornar-se uma característica fundamental e inerente a toda a nossa tarefa eclesial”, como reconheceu Mauricio Lopez, Secretário Executivo da REPAM.
Na mesma linha, outras redes estão nascendo “estão tentando dar outra resposta também para a situação urgente de vulnerabilidade da nossa Casa Comum e dos mais pobres, incluindo os povos indígenas”, disse Mauricio Lopez. É uma conversão socioambiental, de modo que também estão presentes nesta reunião a Rede Eclesial da Bacia do Congo – REBAC, a recentemente criada Rede Eclesial Mesoamericana, o Sistema de Florestas Tropicais de Ásia-Pacífico, que também está se formando, América do Norte, Europa, também como entidades territoriais que devem acompanhar essa mudança fundamental.
Este evento é realizado no âmbito do Sínodo “Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral”, que como referido no Documento Preparatório é a fonte de reflexões que “superam o estritamente eclesial amazónico”, e tem como objetivo refletir e debater a consciência global da Pan-Amazônia e dos demais biomas e territórios essenciais para o futuro do planeta. Nesse sentido, Mauricio López insiste na necessidade de que “a ecologia integral seja uma categoria essencial para toda a humanidade e para toda a Igreja”.
Portanto, a reunião em Washington, que vai ter como metodologia de trabalho o ver-julgar-agir, “também pretende se concretizar de forma territorial, com uma perspectiva de teologia da encarnação, o apelo à conversão ecológica que o Papa Francisco está pedindo”, insiste o Secretário Executivo da REPAM. Deste ponto de vista, entende-se que a reunião tem “uma perspectiva global, para afirmar os outros processos regionais, que como acontece na Amazônia, com a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, estão sendo gestadas e dando origem a uma nova eclesiologia” afirma Mauricio López.
Segundo o secretário da REPAM, “um novo sujeito eclesial está nascendo, é um sujeito que complementa, reforça as ações de toda a Igreja, em parceria com todas as mulheres e homens de boa vontade, com as organizações dos povos indígenas, com organizações internacionais e regionais, para dizer: precisamos de uma mudança!”. Nós podemos dizer que o Sínodo para a Amazônia é uma oportunidade especial para incentivar mudanças profundas sobre como a Igreja pode acompanhar e responder aos sinais dos tempos que ameaçam a vida dos biomas, o futuro dos povos indígenas e suas culturas, e o que coloca as gerações futuras em risco.
O Secretário Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica agrdece a presença dos diferentes organismos eclesiais que co-apoiam a reunião, juntamente com “organismos internacionais, como o Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, a Relatora Especial para os Direitos dos Povos Indígenas, Nações Unidas Meio Ambiente e, especialmente, organizações dos povos indígenas como a Coordenação das Organizações indígenas da Bacia Amazônica – COICA, na Amazônia, como a Aliança Mesoamericana para os Povos e Florestas, na região da América Central, e outros representantes de povos originários da Ásia, Congo, América do Norte”.
Entre os representantes eclesiais, Mauricio López salienta “muitas presenças de organismos regionais, são cardeais e bispos responsáveis pelas conferências em diferentes regiões do planeta, e por outro lado também, entidades como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos com quem REPAM está trabalhando em relatórios especiais para a defesa dos direitos dos povos indígenas. A Conferência Episcopal da União Europeia, assim como representações da América do Norte e outras, também estarão presentes. ”
Da mesma forma, Lopez valoriza muito “o apoio da Secretaria do Sínodo dos Bispos, em preparação para o Sínodo da Amazônia, que é um elemento que acompanha, dando contexto para esta discussão, desde a preparação do Sínodo dos Outubro deste ano. O Cardeal Secretário do Sínodo dos Bispos também estará presente, e isto dá um impulso ao processo sinodal “.
Podemos dizer que tudo o que se pretende levar a cabo nestes três dias de debate, “é um grito de vida, um grito antes da mudança”, enfatiza Mauricio López. Ele insiste que “queremos ter um eco global, acompanhando o Papa Francisco e afirmando que Laudato Sí simplesmente não pode morrer, nós simplesmente não podemos permitir que ela se apague, tem que se tornar um elemento orgânico da nossa própria identidade”. Por tudo isso, parece essencial “acompanhar este caminho para incorporar a encíclica Laudato Sí e também responder a essas conversões urgentes, incluindo a conversão pastoral”, conclui o secretário da REPAM.