“Cebs: uma igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas”. Este é o tema do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil, que vai ocorrer em julho de 2022 em Rondonópolis (MT), Regional Oeste 2. O lema será “Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra…” (Is 65, 17ss).
Por: Ana Paula Ramos Carnahiba
A definição foi tomada ontem (sábado, 26) durante a reunião da equipe da ampliada nacional das CEBs, que se realiza desde quinta-feira, dia 24, no Centro Nova Evangelização (Cene), em Cuiabá, capital mato-grossense, e termina neste domingo, 27.
A expressão “igreja em saída” foi utilizada pelo papa Francisco na exortação apostólica Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho) e aos poucos ganha significado na vida pastoral católica. Significa uma igreja missionária, que deve sair de si mesma e se dirigir às periferias físicas e existenciais.
“O tema e o lema escolhidos vão nos ajudar no diálogo com as comunidades, pastorais, movimentos, grupos, serviços e organismos da igreja. Vai ser uma porta de entrada inclusive para as CEBs se apresentarem a quem não conhece sua identidade e sua história”. Palavras de Rinaldo Cardoso, da articulação das CEBs do Regional Oeste 2 (MT) e atuante em Rondonópolis.
O espírito ousado de uma “igreja em saída” já foi responsável no papado de Francisco pelo Sínodo da Juventude (em outubro de 2018) e orienta a realização do Sínodo da Amazônia, marcado para outubro deste ano em Roma, para ouvir os povos da floresta, em especial os indígenas.
Esse vento inspirador também moveu Francisco a realizar encontros com movimentos populares de todo o planeta. Nessas ocasiões o papa criticou a cultura do descarte do sistema capitalista e afirmou uma plataforma revolucionária, com terra, teto e trabalho para todas e todos.
Enfim, exemplos que estimulam as CEBs a refletirem sobre sua caminhada, levando em conta o contexto atual e, ao mesmo tempo, o compromisso com os mais pobres, como consolidou a Conferência Episcopal Latino-americana de 1968, em Medellín (Colômbia).
É como explicou a irmã Maria de Fátima Cavalcanti, articuladora do Regional Nordeste 4, Piauí. “No difícil contexto político que vivemos, as propostas das CEBs reafirmam o compromisso de sermos fermento de resistência, sal e luz na sociedade. Isso ocorre na defesa dos povos indígenas, dos quilombolas, nas periferias, na defesa dos direitos roubados dos pobres. Temos consciência que somos minoria, mas o fermento pode crescer e transformar a realidade”.
Essa “santa teimosia” também se conecta com a “vida plena para todos e todas”, presente no lema do 15º Intereclesial. Afinal, estar cheio, completo, repleto, inteiro, nos indica uma ampla utopia, que envolve as dimensões econômica, política, social, cultural, ecológica e tantas outras.
Pensar a vida plena subentende mostrar o que nos afasta da plenitude e afirmar aquilo que nos aproxima dela. E aí, de um lado, aparece algo bastante mencionado na Ampliada: um modelo de sociedade baseado no consumismo, individualismo, concorrência desleal e exploração. Ou seja, na concentração de terras, sobreposição do agronegócio à agroecologia, construção de grandes empreendimentos em terras indígenas, preferência empresarial pela terceirização em vez da geração de empregos com carteira assinada.
De outro lado aparecem experiências ricas em sabedoria popular, tecnologia social, respeito à mãe natureza e democracia participativa. Entre elas, a recuperação de nascentes de rios, a economia solidária, a saúde homeopática, os quintais produtivos, o hip hop e as batalhas de rima nas praças em meio à juventude, a leitura popular e feminista da bíblia.
Esse anúncio aponta para o “novo céu” e a “nova terra”. E nas palavras do padre Benedito Ferraro, da Articulação Continental das CEBs, “A passagem bíblica presente no livro de Isaías garante o caráter concreto ao debate a ser proposto pelo 15º Intereclesial”.
Presente!
A reunião ampliada reúne coordenadores e articuladores de CEBs do Nordestão, Nortão, Sulão, Lestão e Oestão. Assessores regionais e nacionais e a Articulação Continental e do Cone Sul das CEBs também participam. A reunião tem ainda a presença de representantes do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), entre outros.