É bom falar de “Jesus crucificado”, mas, também, devemos falar do “povo crucificado” que nos desafia para a missão. O documento de Puebla descreve os rostos sofridos na América Latina, rostos nos quais devemos reconhecer as feições sofredoras de Cristo…
Por: Orides Bernardino (CNLB SUL 4)
O Senhor que nos questiona e interpela: rostos de crianças, golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer; rostos de jovens desorientados e frustrados; rostos de indígenas e afro-americanos que podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres; rostos de camponeses submetidos a sistemas de comércio que os enganam e os exploram; rostos de operários que tem dificuldade de se organizar e defender os próprios direitos; rostos de subempregados e desempregados; rostos de marginalizados e amontoados das nossas cidades; rostos de anciãos postos à margem da sociedade do progresso (Cf. Puebla, 32-39).
Novos rostos sofredores são retratados pelo documento de Aparecida, somando aos que já foram apresentados pelas conferências anteriores: rostos dos migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e sequestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na rua das grandes cidades, os indígenas e afro americanos, agricultores sem-terra e os mineiros (Cf. Aparecida 402).
Quando assimilamos o Evangelho percebemos que Jesus via a multidão e se compadecia, volvia o coração em direção às pessoas miseráveis para transformar sua situação, pois eram como “ovelhas sem pastor”; as acolhia para ensinar (Mc 6,34). Nossa fidelidade ao Evangelho exige que proclamemos a verdade sobre o ser humano e sobre a dignidade de toda pessoa humana. Somos convocados a fazermos a opção preferencial pelos pobres e excluídos, opção “que está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”.
Somos Igreja, Povo de Deus. Somos fiéis ao Evangelho. Sendo assim, nossa missão pastoral é “cuidar e dar de comer”. E este “cuidar e dar de comer” significa organizar e estruturar a sociedade para que as instituições do Estado funcionem de modo que os irmãos e irmãs não se venha a encontrar na miséria, ter iniciativas que se opõem ao individualismo, à diferença e ao distanciamento entre as pessoas, afastando todas as formas de preconceitos e intolerância, inclusive a religiosa. A verdadeira missão evangelizadora consiste em se fazer presente, com a luz do Evangelho, na vida dos povos, nas transformações sociais, econômicas, políticas. Caminhando com o povo e não ficar fora dos seus desafios e projetos, dos seus sofrimentos e esperanças. Nossa missão é conhecer os rostos dos crucificados, dos pobres que nos desafia para a missão
Referências:
CNBB, Puebla: A Evangelização no presente e no futuro da América Latina. III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano. Vozes, Petrópolis, 1980.
Os rostos dos crucificados/pobres que nos desafia para a missão
Bento XVI, Discurso Inaugural da V Conferência, Aparecida
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’. Sobre o Cuidado da Casa Comum. Documentos Pontifícios 22. Brasília. Edições CNBB, 2015.
REIMER, Ivoni Richter. Compaixão, cruz e esperança: teologia de Marcos. São Paulo: Paulinas, 2012.