Aproximamo-nos mais uma vez do dia 07 de setembro, data que tem um simbolismo importante para o nosso país, pois marca assim como mostram os registros históricos, a nossa Independência de Portugal e o fim do período colonial brasileiro.
Por: Luiz Henrique Ferfoglia Honório
A forma encontrada pelos governantes de festejar essa data especial foi à instituição de feriado nacional pelo então Presidente da República, o General Eurico Gaspar Dutra em 1949. Desde então, busca-se exaltar o sentimento de patriotismo e construir uma memória coletiva do povo brasileiro. Seguindo exemplos de outros países, o Brasil seguiu a tradição de comemorar essa data através da realização da organização de desfiles cívico-militares, realizados nas principais cidades brasileiras. A presença das forças armadas e das autoridades políticas são marcas frequentes em todos esses eventos. Para engrossar a participação no ato, os estudantes, corpo diretivo das unidades escolares e entidades filantrópicas são convocados a compor a solenidade, adotando as mesmas formas militares de apresentação no cortejo.
Os símbolos nacionais como a Bandeira Nacional são exibidos e cultuados numa estratégia de reforçar o tom patriótico da festividade e o culto ao nacionalismo fica extremamente evidenciado. Infelizmente, percebe-se que nos últimos anos, por conta de uma estratégia sofisticada utilizada por grupos extremistas no Brasil e que também se verifica em outras partes do mundo, os mesmos tem sequestrados esses símbolos nacionais e dão a eles, uma nova conotação ao sentido dos conceitos de patriotismo e de nacionalismo, gerando um efeito negativo e contrário a esses termos.
Na teoria, a data é um dia de festas, porém nem toda a população brasileira é convidada a estar presente, já que uma parte expressiva da sociedade ainda é esquecida pelo Estado Brasileiro. O que se percebe também nessa cerimônia é um tipo de participação passiva por parte da sociedade, que assiste calado a exaltação de uma tal independência política formal onde não se discute ou compreende o sentido da soberania nacional.
É dessa constatação da participação passiva e da ausência de uma camada esquecida da sociedade, que a festividade passou a contar com outro tipo de proposta de evento para resignificar essa data, surgindo assim o Grito dos Excluídos e das Excluídas que acontece desde 1993 na cidade de Montes Claros/MG e partir de 1995, passa a ser realizado desde então, em todo o território brasileiro.
O Grito, assim como ele é conhecido, é uma manifestação popular que visa chamar a atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira.
Em cada ano, o Grito busca priorizar suas ações, tendo como propostas três princípios fundamentais que dão sentido as suas mobilizações, que são:
- Denunciar todo o sistema de organização política, cultural, econômica e social na qual nossa sociedade está organizada, que tem como marca principal a concentração da riqueza produzida por todos, nas mãos de uma pequena parte da elite dessa sociedade, fazendo do país, um dos primeiros do mundo em desigualdade e exclusão social;
- Revelar nas ruas e praças, o rosto dos invisíveis e excluídos de nossa sociedade, vítimas do preconceito, do desemprego, da ganância, da miséria, do abandono e da fome;
- Indicar alternativas ao modelo econômico vigente e sua política neoliberal, onde se privilegie como forma de combate a esse modelo, a adoção de uma política de inclusão social, tendo como princípio fundamental a ampla participação de todas e todos.
Como se vê, é um processo que conta com um longo histórico de manifestações realizados nos últimos 25 anos e que novamente nesse ano, teremos a oportunidade de participar. Nesse 26º Grito dos Excluídos/as, que tem como tema: “Vida em primeiro lugar, queremos terra, teto, trabalho e participação”, somos chamados novamente a fazer acontecer essa importante manifestação em cada canto desse país.
Nesse ano, nosso grito talvez precise ecoar com mais força, já que vivemos em nosso país nos últimos anos, a tentativa da imposição de um modelo autoritário que trata como inimigo, aqueles que se posicionam de forma contrária a esse modelo, taxando-os de comunistas, perigosos, baderneiros, …
Nosso grito precisar ecoar contra toda a tentativa de destruição das instâncias e instituições democráticas que regulam de certa forma a organicidade democrática da sociedade brasileira.
Um grito forte precisa ser dado contra a tentativa de imposição do negacionismo histórico que não admite os erros cometidos por tiranos e torturadores, propondo a ditadura como o período de melhor regime político adotado em nosso país até então.
Um grito contra um modelo político centralizador que privilegia a elite governante e que não incentiva a participação cidadã nas instâncias de decisão que interessam a todos.
É preciso denunciar através de nossos gritos, a cultura da violência, principalmente contras as mulheres, idosos, negros e negras, lideranças sociais, crianças e adolescentes, vítimas preferencias do sistema opressor que vê o crescente desejo da liberação e o uso das armas, dividindo a sociedade entre os “bons” e os maus.
Hoje somos chamados a gritar de forma ainda mais forte contra o ataque ao nosso meio ambiente e da biodiversidade que se vê ameaçada pela devastação das nossas florestas, poluição dos rios, contaminação do solo por conta do uso abusivo de agrotóxicos e da contaminação das águas pela indústria ilegal do garimpo em terras indígenas, além da proliferação das queimadas que se tornem cada vez maiores e mais frequentes.
Por fim, é preciso ecoar nosso grito contra esse sistema que não vale, que exclui, descarta e mata. Que gera milhões de desamparados e desabrigados, que não possuem emprego digno e justo, que não possuem terra para cultivar seus sustentos básicos e quem não tem um teto onde possam abrigar aos seus e a si próprio.
Ousemos sonhar por um outro Brasil, que seja independente de fato e traga para reflexão, o “Brasil que queremos” e que não precise mais no futuro termos um grito alternativo para denunciar as mazelas de nossa sociedade.