A Assembleia Eclesial e o caminho da escuta

A caminhada é longa quando vista de um determinado ponto de partida. É difícil, se os passos forem movidos pelos obstáculos naturais do caminhar.

Por: Ivânia Vieira

É socioambiental diversa, bonita, feita ora em terra plana, cheia de buracos, ora pelas águas fartas dos mares e dos rios ou nos estreitos igarapés em luta para sobreviverem à destruição promovida pela ação humana enquanto convoca os humanos para percebê-los como fundamentais à espiritualidade. É uma jornada e tanta.

No caminhar, mapas estão sendo reinventados, redesenhados em novas cartografias. Demarcações com linhas fortes ganham visibilidade em gestos mais coletivos. É o que faz a Igreja Católica, viva, ao inaugurar as trilhas do percurso da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e o Caribe.

O primeiro gesto: 24 de janeiro de 2021, sob a animação do Papa Francisco ao lembrar que “nascemos como povo de Deus” e se colocar caminhante com todos e todas encarnando o lema do encontro – “Todos somos discípulos missioneiros em saída”.

Caminham juntos laicos, laicas, religiosos, religiosas, diáconos, seminaristas, sacerdotes, bispos e com eles seguem as pessoas de boa vontade até alcançarem a cidade de Santa Maria Guadalupe, na Cidade do México onde ocorrerá, de 21 a 28 de novembro deste ano, a Assembleia Eclesial.

Os caminhantes fazem paradas necessárias. Uma delas, a que se desenvolve neste mês de maio é a do aprender a escutar. Que sons estão sendo ouvidos? Que vozes são ouvidas? Os cristãos católicos estão sendo chamados a conversar e a desconstruir a pressa como mecanismo da não escuta do Outro, da Outra porque a prioridade é correr e se sobrepor sobre os demais.

Escutar é prestar atenção a qualquer tipo de som, diferente do ouvir quando inexiste a intencionalidade do sujeito. A atitude de escuta compromete, envolve, coletiviza o gesto, a voz, o olhar, o agir.

Os temas em pauta

Os encontros que estão ocorrendo são exercícios preparatórios da Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe são o caminhar e o escutar em movimento intercontinental polifônico. Articulados por dois eixos temáticos: 1) A realidade sociocultural e 2) A realidade da nossa Igreja hoje em nossa história, todos e todas participantes da caminhada são chamados a refletir a respeito dos subtemas.

Do eixo 1: A pandemia da Covid-19, signo de mudança de época; um modelo econômico e social que se volta contra o ser humano; a crescente exclusão, a cultura do descarte e as práticas de solidariedade; escutar o clamor da terra cuidando da nossa casa comum; a crescente violência em nossas sociedades; diante das grandes brechas educativas, é necessário um ‘Pacto Educativo Global’; os migrantes são os novos pobres; os povos indígenas e afrodescendentes: na direção de uma plena cidadania na sociedade e na Igreja; a globalização e a democratização da comunicação social; informação  transbordante, conhecimentos fragmentados e a urgência de uma visão integradora.

Do eixo 2: a secularização que avança em vários países da América Latina e do Caribe; um crescimento cada vez maior das igrejas evangélicas e pentecostais no nosso continente; o desafio de um maior desenvolvimento da pastoral urbana; os jovens como atores sociais e gestores de cultura; as mulheres e o desafio da sua plena participação na sociedade e na Igreja; os abusos sexuais na Igreja; o clericalismo, obstáculo grande para uma igreja sinodal; em direção a uma Igreja itinerante e sinodal, andando por novos caminhos.

Como participar da escuta: cada subtema vem sendo apresentado em forma de painel remoto de conversas que podem ser acompanhados por meio dos seguintes canais:

https://www.cnbb.org.br/celam-abre-processo-de-escuta-para-assembleia-eclesial-da-america-latina-e-do-caribe/

Ivânia Vieira é jornalista e professora na Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (FIC-UFAM)

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