A fome que assola nosso país em tempos de pandemia.

Dia 25 de maio de 2021, o dia em que oBrasil supera a marca de 450 mil mortos, leio uma notícia do site EL PAÍS que tem por título “Não é doença, é fome”!

Por: Robson Ribeiro de Oliveira Castro

Essa doença me fez parar o que estava fazendo e refletir alguns segundos diante do título, tentando entender se era um jogo de palavras, ou até mesmo um erro, mas não, é a mais pura e dura realidade!

Na notícia apresentam-se três cenários de famílias que perderam seus empregos e passam por situações de pobreza em meio a pandemia. A reportagem ainda afirma que: “Além da perda de renda durante a maior crise sanitária do planeta, há outro desastre que une esses três moradores de Brasília: eles estão doentes de fome. ”

Essa afirmação é cruel, pois sabemos que é preciso observar a fome, algo que não mata de uma vez, mas vai matando aos poucos. Entrevistas inseridas na notícia afirma que:“Médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde relatam que, nos últimos meses, têm percebido um aumento no número de pessoas que dão entrada em centros de saúde pública com sintomas que acreditam ser de alguma doença, mas, na verdade, estão famintas.”

Os relatos são os mais diversificados, e a realidade é só uma: a fome voltou a ser o cenário da vida de milhões de brasileiros. Como já escrevi, outra vez, sobre o tema afirmando que, mesmo em tempo de pandemia, o Brasil ganhou novos bilionários. É preciso sentir a dor da pessoa que sofre e olhar para esta realidade e se compadecer.

O Papa Francisco apresenta o desejo de um mundo mais humano e coerente com o Evangelho, sendo ético nas suas ações. É preciso reafirmar a dignidade do trabalho e do trabalhador todos os dias. “A crise do nosso tempo, que é econômica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova ‘normalidade’, em que ninguém seja excluído”, afirma Francisco na Carta Apostólica Patris Corde.

Não estamos sozinhos, somos fruto da realidade e do ambiente em que vivemos. A nossa condição humana e a nossa conduta ético-moral devem ser pautadas em princípios, pois diante do outro e da sua agonia, devemos considerar como nossaa sua dor e o seu sofrimento.

Contudo, é necessário cobrar das autoridades um posicionamento, e que não deixemos de lado a luta por melhores condições de vida. Neste aspecto, os fracos que estão caindo de fome, sofrem com a falta de alimento e políticas públicas que deem resultados.

Afala de um morador de rua da mesma reportagem mostra bem clara a realidade, com um pacote de arroz e dez pães velhos que ganhou de uma padaria, ele teria que fazer comida numa fogueira para ele, a mulher e três filhos (de 5, 7 e 8 anos), a frase ressoa em nossas mentes: “Hoje, o dia vai ser tranquilo. Amanhã, eu penso depois. Cada dia tem a sua agonia”.

Por isso é preciso fazer um apelo: uma realidade nova e um contexto humano diferente só será possível se formos responsáveis com a dor da outra e do outro,e ajudar a construir a mudança.

Diante deste cenário do aumento da vulnerabilidade social é preciso cuidar da vida, especialmente de quem mais precisa. Falta uma justa distribuição de alimentos, falta o emprego e a moradia, falta eliminar a violência doméstica e falta uma política a serviço do bem comum. No entanto, uma realidade nova e um contexto humano diferente, só serão possíveis se, de maneira coletiva, estivermos dispostos a colaborar nos processos de transformações sociais. Cada uma e cada um fazendo a sua parte, agindo com solidariedade e buscando um mundo justo e mais fraterno.

Robson Ribeiro de Oliveira Castro – Leigo, casado, pai da Emília e do Francisco. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH. Membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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