A missão e responsabilidade dos cristãos leigos e leigas passaram a ser mais estudadas e mais normatizadas a partir do Concílio Vaticano II e das diversas publicações do Magistério tanto no nível, pontifício como regional e local.
Por: Suzana Alves da Motta
No entanto, não podemos esquecer que os grandes personagens do Antigo Testamento foram leigos. Maria, mãe de Jesus, e as outras Marias mencionadas no Novo Testamento eram leigas. A história da Igreja está repleta de santos e mártires cuja ação foi decisiva para a propagação da fé cristã.
O que caracterizou a ação desses leigos do passado?
Certamente a coragem foi uma delas. Todos os dons do Espírito Santo, que o cristão leigo e leiga recebem pelo sacramento da Crisma, produzem frutos e podem transformar o mundo em qualquer tempo, inclusive hoje, em que isso nos parece tão difícil.
O Papa Francisco denuncia: “Apesar de se notar uma participação de muitos nos ministérios laicais, este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos nos mundos social, político e econômico; limita-se, muitas vezes, às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do evangelho na transformação da sociedade” (EG 102).
A ação das organizações laicais, especialmente do CNL, têm a tarefa da divulgar e incentivar e valorizar a participação dos leigos no âmbito que lhe é próprio: família, política, trabalho, cultura e educação, meios de comunicação e cuidado da casa comum. A missão dos leigos e leigas se exerce no mundo, é uma ação secular.
Quem se engaja em movimentos que atuam nesses âmbitos correm riscos, uns porque se refugiam numa alienação histórica, no individualismo, no fundamentalismo, no rigorismo, no secularismo ou no mundanismo espiritual (cf. Doc.105 da CNBB); outros porque preservam uma mentalidade clericalista e outros ainda, criticam os que militam na defesa dos direitos humanos porque consideram isso uma ideologização do Evangelho.
A falta de ação comprometida dos cristãos leigos e leigas, particularmente no Brasil de hoje, é responsável diretamente por tornar esses campos os mais prejudicados quando se trata de promover a dignidade da pessoa humana. A ausência de leigos e leigas comprometidos com a fé recebida no Batismo faz crescer entre nós o racismo, o preconceito, a marginalização, a violência e tudo o que deveria ser objeto de políticas públicas. Só uma espiritualidade encarnada, servidora, missionária, baseada numa fé madura poderá garantir uma efetiva transformação social.
Jesus inspirou-se em Isaías para iniciar sua missão. Precisamos ter presente o Evangelho da liturgia de hoje (Lc 4, 14-21), para não deixarmos de lado a promessa de ser fiel à nossa vocação.
Coragem! Ele está conosco!