Nós, cristãs e cristãos leigas e leigos participantes da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe viemos a público expressar como estamos experimentando este importante evento de nossa Igreja. Sabemos que é o primeiro passo de um longo processo que teve início nas escutas e que visa, como deseja nosso Papa Francisco, introduzir a sinodalidade eclesial como forma habitual de tomar decisões e repensar estruturas de organização, indo além da colegialidade episcopal.
Conscientes de que este é apenas o primeiro passo de um longo processo, apontamos aqui as falhas que devem ser corrigidas e os acertos a serem desenvolvidos e aprimorados. Tal como no primeiro dia da Assembleia, apontamos aqui o que nos fez sofrer e o que nos deu esperança.
Mesmo com as dificuldades da realização de uma atividade no formato híbrido, sentimos falta do método ver, julgar e agir, muito utilizado nas Conferências do CELAM,que tem como princípio fundamental ver os “rostos sofredores que doem em nós”, rostos de irmãos e irmãs que sofrem opressão e que nos impulsionam a agir em favor de sua libertação. A metodologia adotada revelou-se inadequada para captar as contribuições que fugiam aos esquemas propostos. Foi frustrante perceber que muitas contribuições dadas nos primeiros trabalhos em grupo de discernimento não foram consideradas na síntese do dia seguinte. Sentimos de modo especial a ausência dos seguintes temas, que nos são muito caros: as Comunidades Eclesiais de Base (que não se confundem com as várias modalidades de Comunidades Eclesiais Missionárias nem com pequenas comunidades), as Pastorais Sociais (p.ex. da Terra, dos Trabalhadores e Trabalhadoras, do Menor, da Criança, do Negro, dos Migrantes e Refugiados, da População em situação de rua, o Conselho Indigenista Missionário…), as Comissões de Justiça e Paz e Centros de Defesa dos Direitos Humanos, e as contribuições da Teologia da Libertação à Doutrina Social da Igreja, para citarmos apenas as mais importantes. Todas essas criações pastorais da Igreja da ALeC após – e por causa de – Medellín são parte da nossa Caminhada da Igreja da América Latina e não podem ser esquecidas, sob pena de parecerem menosprezadas por esta Assembleia.
Para além do processo metodológico e os elementos que apresentamos acima, os temas e assuntos refletidos aprofundaram elementos importantes na experiência eclesial, mas ficaram na sombra questões sociopolíticas, econômicas e ambientais que arrastam a América Latina e o Caribe para uma situação violenta de empobrecimento ainda maior do nosso povo, onde a missão da Igreja faz-se hoje mais necessária e urgente.
Deu-nos esperança, entretanto, o fato de termos visto algumas inovações pastorais, resultados de lutas históricas, sendo lançadas como sementes que logo desabrocharão. Pensamos na participação das mulheres, que constituíam mais da metade dos participantes não clérigos, a atenção dada às culturas originárias e as de raiz africana, a acolhida à comunidade LGBTQIA+, nos convites específicos a representantes das periferias e a jovens. Para que essas inovações venham efetivamente renovar nossa Igreja, é imperioso que sejam cultivadas com todo carinho, isto é, se tornem prioridade pastoral.
As mulheres devem encontrar um amplo espaço de participação que inclua o ministério ordenado – ao menos o diaconato – e a paridade nos espaços de decisão sinodal.
A abertura a culturas originárias e de raiz afro deve aprofundar-se para que nossas celebrações sejam cada vez menos europeias e mais inculturadas em nossa realidade. Uma forma autenticamente nossa de ser Igreja, tanto nas suas expressões rituais quanto em suas formulações teológicas. Assim, alcançaremos a unidade na diversidade, tão desejada pelo Concílio Vaticano II e reforçada nesta Assembleia.
A participação das juventudes é de importância fundamental numa Igreja que envelhece a olhos vistos. Não se trata de incluir os jovens nessa Igreja, mas de abrir as estruturas da Igreja à contribuição do protagonismo juvenil. Que os e as jovens nos tragam – por meio de suas Pastorais específicas – a vitalidade missionária que sentimos hoje enfraquecida.
É necessário que a Igreja L&C não olhe apenas para a ajuda espiritual, mas também social. É necessário que as Igrejas particulares promovam a transformação social de muitos jovens que não têm oportunidade de estudar e que continuam condenados a repetir a história dos pais. A Igreja deve construir meios de mudança social para aqueles que são marginalizados pela sociedade e não têm acesso a oportunidades de mudanças estruturais.
Enfim, esperamos que a participação igualitária de pessoas da comunidade LGBTQIA+ e de setores excluídos – as periferias sociais e econômicas – seja para nossa Igreja um apelo constante a sermos a grande Comunidade Eclesial acolhedora que aproveita todas as contribuições que alimentem nossa Esperança num outro mundo possível, que anuncia e antecipa o Reinado de Deus anunciado por Jesus Cristo, único mestre de quem somos discípulas e discípulos missionários.
Seguimos esperançando, crendo, vivendo e defendendo profundamente a experiência viva de uma Igreja em saída para as periferias geográficas e existenciais, resultando na centralidade da opção evangélica pelos pobres, neste chão sagrado já semeado profeticamente por nós e por tantas mulheres e homens, que nos antecederam.
Fraternalmente,
Alessandra Miranda – 6ª Semana Social Brasileira – Goiás/Brasil
Antonio Carlos de Melo Sá (Toninho Kalunga) Leigo Orionita – Núcleo Teologia da Libertação Política e Religião – Cotia -SP – Brasil
César Augusto Portocarrero Gutierrez – Pastoral social – Chuquibambilla / Perú
César Kuzma – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – Rio de Janeiro / RJ – Brasil
Eduardo Brasileiro, Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara – ABEFC – Brasil
Ivenise Terezinha Gonzaga Santinon – Comissão Pastoral para o Laicato/CNBB – Brasil
María Márquez Muñoz – CVX – Obsur – Cristianos en Red Uy / Uruguay
Marilza J L Schuina – Ampliada Nacional das CEBs – Cuiabá/MT – Brasil.
Pedro A. Ribeiro de Oliveira – Movimento Nacional Fé e Política – Juiz de Fora/MG – Brasil
Sônia Gomes de Oliveira – CNLB – Montes Claros/MG – Brasil
Assinantes:
Alírio Caceres Aguirre
Ana Angelica Ribeiro
Ana Barros
Antônio Felix Tavares
Carlos Alberto Pereira da Silva
Carol Crisosto
Celia Soares de Souza Soares – CNLB – Brasil
Clemildo de Sá
Cleuton Farias Gomes – Brasil
Dalva Maria Almeida
Daniel Carvalho da Silva – REPAM – Brasil
Daniel Seidel – CBJP – Brasília/DF Brasil
Delair Carlos Jardim de Oliveira
Edison Carlos Jardim de Oliveira
Elisa Maria Ferreira – CEBs – RJ/Brasil
Fabiola Sena Machado
Gigliane Gomes Leite – CNLB – Brasil
Guilherme Alves Lopes da Rosa – Juventude/CRB-RS – Brasil
Ilza vidal de Pádua Costa
Jardel Neves Lopes – Pastoral Operária Nacional – PR/Brasil
João Paulo Angeli
José Batista da Silva
Juvenal Paiva Silva
Kátia Rossi
Leci Conceição do Nascimento – CNLB – MG/Brasil
Leonardo Moura
Luzia Aparecida Moreira
Márcia Maria de Oliveira – Rede Clamor/REPAM – Brasil
Marcia Terezinha Carlos
Maria Aurenir Paiva – Cáritas – Brasil
Maria Cristina Silva Furtado
Maria de Guadalupe de Souza Peres – Núcleo Política e Religião –AM/Brasil
Maria Inês Monteiro de Freitas – P. da Criança – Manaus/AM – Brasil
Maria Istélia Coêlho Folha – Cáritas – Brasil
Mariana Aparecida Venâncio – Comissão Bíblico Catequética -Brasil
Marlise Ritter – Partilha de Carismas – SC/Brasil
Martha Isabel F. Bispo – REPAM – MA/BRASIL
Moisés Batista dos Santos
Naidia Moreira Matielo
Nilza Maria Sabino da Hora
Odete Rigato Mioto
Patrícia Gil Cabral – CNLB – Manaus/AM – Brasil
Peterson Prates
Rejane Ane Teixeira Gaia
Roberto Mistrorigo Barbosa – CNLB – PR – Brasil
Sabrynna Marques
Salete Bez – Ampliada Nacional das CEBs – PR/Brasil
Sara Sánchez – CIMI – Goiás/Tocantins -Brasil
Simone de Almeida Sarmento – Missões Populares – PA/Brasil
Silvio Gonçalves
Sonia Gonçalves de Almeida Ravelo
Tea Frigerio – Assessora Nacional das CEBs – Brasil
Valdivino José Ferreira – Pastoral da Educação Nacional – Brasil
Valter Souza
Wagner Lopes Sanches Waldir José B. Gass – CNLB – RS/Brasil