Análise de conjuntura ressalta influência religiosa no pleito municipal, que deve pesar na escolha do eleitor apesar dos problemas locais.
Por: Thiago Ventura
As eleições brasileiras serão, mais uma vez, marcadas pela influência das igrejas com a ocorrência de uma ‘batalha religiosa’ na defesa de discursos e pautas morais. Esse é um dos pontos levantados por uma análise de conjuntura publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material é oferecido aos bispos como subsídio, mas não se trata de um pensamento ou orientação da entidade.
Segundo o documento, os discursos negacionistas em relação à covid-19 e a crise econômica provocam descrença na ciência e na política, deixando os brasileiros mais suscetíveis ao discurso religioso em busca de certezas. Dessa forma, o estudo prevê uma batalha de narrativas, que pode beneficiar políticos alinhados à religião. O que estamos vivendo é ressignificação do certo e do errado, do bem e do mal, do que é justo e do que é injusto. E quem convencer, governará, diz o texto.
O documento foi preparado por uma equipe composta por bispos, professores universitários e representantes de entidades da sociedade e de organismos ligados à CNBB, peritos nas áreas da economia, direito, política, cultura e teologia. Trata-se do quinto material publicado pela conferência, com o título ‘Eleições municipais de 2020 e o fortalecimento da democracia local’. A produção é do Grupo de Análise de Conjuntura, nomeado pela presidência da CNBB e sob a coordenação de dom Francisco de Lima Soares, bispo de Carolina (MA).
Ao longo das 20 páginas, o documento lista as mudanças no processo eleitoral e detalha a relevância do pleito municipal na conjuntura nacional, com vista a 2022. Contudo, na parte mais significativa, o texto se debruça sobre a influência religiosa nas eleições e o papel da CNBB.
O estudo aponta para o aumento do fenômeno dos políticos neopentecostais com alinhamento à extrema-direita e na defesa de pautas morais. O número de 5.555 candidatos com algum título religioso no nome de urna nas eleições é lembrado, além da informação de que a bancada evangélica triplicou no Congresso nos últimos 20 anos. O termo batalha é citado nove vezes ao longo do texto, desde a disputa realizada ano passado na eleição dos conselheiros tutelares até o que o grupo considera como batalha de narrativas neste ano.
Sem fechar nós, o texto conclui com apelo para que lideranças católicas não fiquem imobilizadas durante o processo eleitoral e sugere que a CNBB mantenha a defesa de maior participação de mulheres e negros na política e no combate à fake news eà corrupção. A conjuntura também recomenda o apoio a iniciativas e a responsabilidade política das leigas e dos leigos espalhados pelas inúmeras dioceses e paróquias em todo o país.
Se valores importantes estão em xeque, de que forma podemos contribuir para a ressignificação dos conceitos, a partir de princípios verdadeiramente cristãos, que possam orientar as pessoas e ajudá-las a tomar suas decisões Como estabelecer uma relação de respeito e diálogo, que possibilite a construção de alianças em torno de valores e princípios éticos cristãos, em uma sociedade tão polarizada. Como fazer para que a nossa mensagem de paz e bem possa ser ouvida em cada cidade, em cada bairro, em cada lar, em cada coração e mente dos cidadãos do Brasil. São questões que todos os cristãos precisam responder e com urgência.
Fortalecimento da democracia
A ideia de tornar o material de acesso público é para contribuir para a ação de outras forças eclesiais e sociais que buscam protagonismo na construção de um novo tecido social gerador de uma sociedade justa, fraterna e solidária, em especial cuidado com a Casa Comum.
Segundo dom Francisco de Lima Soares, tem comunicado publicado no site da CNBB, a Análise de Conjuntura é um instrumento norteador para os bispos fazerem sua própria análise, um instrumento de diálogo e um serviço à CNBB:
Eleições municipais de 2020 e o fortalecimento da democracia local ?” outubro de 2020
Integram o Grupo de Análise
de Conjuntura: dom Francisco Lima Soares (Bispo de Carolina ”
MA), frei Olávio Dotto (Pastorais Sociais/CNBB), Pe. Paulo Renato Campos
(Assessor de Política da CNBB), Pe. Thierry Linard de Guterchin (Centro
Cultural de Brasília?” CCB/OLMA), Antonio Carlos A. Lobão (PUC Campinas),
Francisco Botelho (perito), Gustavo Inácio de Moraes (PUC-RS), Ricardo Ismael
(PUC-RJ), Manoel S. Moraes de Almeida (Universidade Católica de Pernambuco),
Marcel Guedes Leite (PUC-SP), Robson Sávio Reis Souza (PUC Minas), Melillo
Dinis do Nascimento (Inteligência Política) e Maria Lúcia Fatorelli (Auditoria
Cívica da Dívida e Tânia Bacelar (UFPE)
Foto e texto: Site Dom total