Como sair da bolha

É impossível silenciar diante de uma realidade que se mostra cada vez mais cruel com as pessoas mais simples e necessitadas. De igual modo, não é admissível que a contemplação seja a atitude a ser tomada quando a Natureza é vilipendiada a ponto de seus imensos recursos se exaurirem em alta velocidade.

Por: Roberto (Beto) M Barbosa

Jamais será possível uma convivência saudável em meio a constantes ataques à democracia, à liberdade e à justiça. A lógica do lucro acima da vida, da naturalização do desemprego, do racismo e da pobreza, e o aumento da desigualdade em níveis nunca vistos é a receita ideal para a catástrofe. É sobre tudo isso que o Papa Francisco nos alerta como Igreja em suas encíclicas e nelas faz um chamamento para ação como leigas e leigos. 

Os cristãos que foram incorporados à Igreja pelo batismo e confirmação devem realizar a missão dada por Cristo e não se contentarem apenas ao papel no interior Dela, qual seja, a colaboração na formação, nos serviços básicos da comunidade de fé, a liturgia, a catequese e os serviços eclesiais, círculos bíblicos, grupos de reflexão e outros. 

Leigas e leigos devem ser “mulheres e homens no coração do mundo e mulheres e homens do mundo no coração da Igreja”, como prega o Documento de Aparecida. Uma atuação firme e transformadora na política, economia, cultura, artes, ciências, mídia, relações internacionais é possível e desejável. Sempre, por óbvio, sustentada por uma sólida formação doutrinal, pastoral e espiritual, além do acompanhamento constante dos pastores. 

Estar no mundo e transformá-lo pelo testemunho é parte essencial da missão, da evangelização, e isso deve fazer parte de nossa própria identidade cristã, uma distinção, um selo. É ser testemunho do Cristo ressuscitado onde se mora, vivem e trabalha e, como Cristo, andar pelo mundo aliviando as dores e angústias dos que clamam por socorro. 

Dom Severino Clausen faz uma crítica contundente sobre como a Igreja tratou do papel de leigos e leigas nos últimos tempos, dizendo que o Laicato “se concentrou demais nas funções dentro da Igreja e esqueceu-se da sociedade, lugar onde ele vive e trabalha. Por isso, tanta injustiça, tanta corrupção e tanta miséria. É porque os leigos não estão assumindo sua missão na sociedade, na política e na transformação do ambiente onde vivem. Seguir Jesus Cristo é dar condições a todo ser humano para que viva a dignidade de filhos de Deus. Eis a grande missão dos leigos, criar condições para a proteção do próprio ser humano também fora da Igreja”. 

Segundo Dom Severino, “para uma evangelização eficaz é preciso conhecer o ambiente, a situação do povo com suas alegrias e angústias”. Aqui se destaca a importância dos Conselhos, diocesanos ou nacionais, para que os leigos atuem na sociedade por meio deles, percebendo a construção da cidadania e da eclesialidade como um movimento único. Ou seja, atuar dentro e fora da Igreja. 

Para isso existe e prospera o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) e também a família dos carismas ligada às espiritualidades específicas de seus fundadores, como franciscanos, inacianos, maristas e uma riqueza imensa de diversas outras. Com toda a base que elas nos dão e nos suportam como cristãs e cristãos, são instâncias da atuação de leigas e leigos que fazem a diferença na sociedade por reverberarem a voz conjunta do Laicato. 

Nesse mundo onde as particularidades afloram, o individualismo se impõe e onde grupos específicos são cada vez mais refratários uns aos outros, é nosso dever atuar em conjunto,

criando representatividade, fazendo a diferença, em suma, como se tornou comum falar, é preciso sair da bolha.

Roberto (Beto) M Barbosa

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