Documentário “Mulheres da Cidade Tiradentes” discute gênero e território

Se ser mulher em uma sociedade machista já é difícil, ser mulher e morar na periferia é ainda mais. Localizado no extremo leste na capital paulista, distante 40 quilômetros do centro, o bairro de Cidade Tiradentes tem uma população feminina expressiva. Entender o contexto de gênero e território no maior conjunto habitacional da América Latina, com mais de 210 mil habitantes, é a proposta do documentário “Mulheres da Cidade Tiradentes”, cuja prévia será lançada neste sábado (19), às 19h, no Centro Cultural Arte em Construção.

Por: Simone Freire

“A Cidade Tiradentes parece uma outra cidade dentro da cidade. A ideia do documentário surgiu nesta urgência de se falar, de se registrar e construir uma narrativa de quem são e qual a identidade dessas mulheres”, conta Tatit Brandão, roteirista e diretora do documentário.

Histórias

Idealizado pela Cia Janela do Coletivo em parceria com o Instituto Pombas Urbanas, tradicional grupo teatral do bairro, a produção audiovisual filtra relatos de “guerreiras” que tem ajudado a construir os mais de trinta anos de história do bairro.

Dezenas de mulheres emocionaram a diretora contando suas histórias, vivências e sonhos. Cláudia Canto, escritora; Fabiana Pitanga da Silva, assistente social; Ana Rita, líder comunitária, estão entre elas. “É muito privilégio ter acesso a estas narrativas e à vida dessas mulheres”, disse Tatit.

Mas uma das maiores surpresas da diretora foi encontrar a adolescente Camila Araújo, estagiária em biblioteconomia no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT), que, apesar da pouca idade, soube muito bem sintetizar o mundo a sua volta.

“Ser mulher é enfrentar opressões do dia-a-dia, arrumar seu cabelo da sua forma e sair pela rua e enfrentar o preconceito, a opressão no trabalho; e chegar em casa e cuidar dos filhos sozinha”, relata no filme a adolescente.

Mulher, periférica e negra

Conforme apontou o levantamento da Secretaria Municipal de Promoção e Igualdade Racial de São Paulo, a maior concentração da população negra está nas periferias. Terceiro bairro do ranking, 55,4% da população de Cidade Tiradentes é negra. A particularidade feminina negra também é relatada no documentário.

“Eu sofri racismo e discriminação da minha própria família porque eu era dessa cor [negra] e tinha todos esses apetrechos maravilhosos, hoje, que uma mulher negra tem que é boca grande, lábios grossos”, lembra a cantora Nega Duda, moradora do bairro por anos, ao relatar seu processo de empoderamento.

Lançamento

Com produção voluntária, “Mulheres da Cidade Tiradentes” está em fase de finalização. “Todo mundo que está envolvido não ganhou nada e gastamos dinheiro, tempo de gravação e equipamentos. Para finalizar o vídeo, a proposta é conseguir um financiamento público”, conta a diretora.

O lançamento deste sábado contará com uma prévia do que vem sendo construído pelos coletivos envolvidos uma discussão sobre gênero e território no bate-papo que será promovido depois da exibição. A atividade também contará com a apresentação do grupo de cultura popular “As Três Marias, o Sol e a Lua”, formado por mulheres da terceira idade moradoras do bairro.

Confira abaixo o teaser do documentário.

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