O grito de Jesus reflete e ecoa nos gritos do povo brasileiro, refém da corrupção política e militar – institucionalizada – poderes estes que se arvoram a ser donos da vida do povo, decidindo quem vive e quem morre, ao bel prazer de uma postura autoritária e assassina… Na encarnação, Jesus fez sua, tomou para si a pobreza radical do ser humano perante Deus.
Por: Queninha Fernandes Pinto
Não se subtraiu à nossa condição de homens/mulheres pecadores, ao sofrimento que provém do egoísmo, nem aos limites da natureza humana, entre os quais também e antes de tudo, a morte. Mas isto não bastaria para fazer dele um Salvador. O que resgata a sua morte, o que a transfigura e a transcende – para ele para nós – é o imenso peso de amor que Ele coloca no dom da Sua vida, para libertar-nos da violência e do ódio, do fanatismo e do medo, do orgulho e da autossuficiência para, assim, tornar-nos como Ele, disponíveis a Deus e aos outros.
É isto que celebramos nesta semana, considerada Santa, por nos possibilitar o exercício, a experiência da santidade de Deus que quer a nossa própria santidade.
Preso pelas forças da segurança do Templo, Jesus não tem mais dúvidas: o Pai não escutou as suas preces e o seu desejo de continuar a viver – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” – e seus discípulos fogem procurando a sua própria segurança. Está sozinho. Os seus projetos desapareceram. Espera-o a morte. O silêncio de Jesus durante as suas últimas horas é ensurdecedor. No entanto, os relatos dos evangelhos recolheram algumas das suas palavras na cruz. Lucas – o evangelista deste domingo – registrou as que Ele pronunciou ao ser crucificado. Entre gemidos e estremecimentos de dor Ele consegue dizer umas palavras que nos mostram onde está o seu coração: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Morre perdoando! Converte sua crucificação em perdão.
Mas o grito de Jesus na cruz o identifica com todas as vítimas da História. É o grito com que queremos “acordar Deus” do seu sono profundo, do seu “silêncio” que fere nossos tímpanos quando o sofrimento se aloja ao nosso redor, vem visitar nossas famílias, nossos vizinhos, o nosso Brasil…
O grito de Jesus é o grito de tantos pais/mães que veem seus filhos assassinados, perdidos para as drogas para a prostituição, para o tráfico…
O grito de Jesus reflete e ecoa nos gritos do povo brasileiro, refém da corrupção política e militar – institucionalizada – poderes estes que se arvoram a ser donos da vida do povo, decidindo quem vive e quem morre, ao bel prazer de uma postura autoritária e assassina…
O grito de Jesus faz eco aos gritos de todos aqueles que perdem suas vidas, a vida de seus filhos, suas casas, seus empregos, sua dignidade, sendo vítimas da ganância, do egoísmo, da insensibilidade dos governantes deste país que pouco ou nada se importam com suas vidas e com sua segurança, deixando de exercer suas atribuições de cuidado e de vigilância…
O grito de Jesus é o grito de indignação de todos aqueles que o seguem, que acreditam na possibilidade de um Reino de justiça e de paz para todos, na experiência da partilha e da solidariedade…
O grito de Jesus, tem que continuar ecoando através dos nosso gritos: chega de corrupção, chega de mentiras, chega de vidas ceifadas pelo pouco caso das autoridades competentes, chega de desabamentos por causa da ganância econômica, chega de estratégias que favorecem os ricos às custas da vida dos pobres… chega da ausência de Políticas Públicas que olhem para o povo mais pobre e mais vulnerável… chega!!!!!
Quando nada pudermos fazer, gritemos! Gritemos sem medo e muito! Jesus não atendeu ao pedido dos fariseus para que fizesse a multidão dos discípulos se calar. Ele disse: “Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão”. E as pedras/casas já estão gritando… morro abaixo, encostas despencando, famílias soterradas, lama inundando os rios, matando pessoas… a natureza grita, gritemos junto! Amém. Bjs no coração.