Quarta-feira, 26 de agosto: audiência geral com o Papa Francisco na Praça de São Pedro. Tema da catequese: Família e tempo de oração. Depois de ter reflectido sobre a família e os momentos de festa e trabalho, o Papa Francisco abordou a questão do tempo de oração em família, pois o coração humano – disse – procura sempre a oração, mesmo sem sabê-lo, e se não a encontra não tem paz. Mas para que se encontre, é necessário cultivar no coração um amor “quente” por Deus, um amor afectuoso:
“Está tudo bem acreditar em Deus com todo o coração, esperar que Ele nos ajude nas dificuldades, está bem sentir-se no dever de agradecer-lhe. Tudo muito bem. Mas também amamos um pouco ao Senhor? O pensamento de Deus nos comove, nos surpreende, nos torna carinhosos?”
Partindo da formulação do grande mandamento do amor (“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com todas as tuas forças”), o Papa reiterou que esta fórmula usa a linguagem intensiva do amor, aplicando-a a Deus e que também nós devemos pensar em Deus como a carícia que nos mantém vivos, carícia da qual nada, nem mesmo a morte, nos pode separar. E acrescentou:
“Só quando Deus é o afecto de todos os nossos afectos, o significado destas palavras se torna pleno. Então nos sentimos felizes, e também um pouco confusos, porque Ele pensa em nós e, sobretudo, nos ama! Não é isto impressionante? Podia simplesmente fazer-se conhecer como o Ser supremo, dar os seus mandamentos e esperar pelos resultados. Mas Deus fez e faz infinitamente mais do que isso”.
Se o afecto por Deus não acende o fogo, continuou o Papa, o espírito da oração não aquece o tempo. Nós podemos também multiplicar as nossas palavras, “como fazem os pagãos”, exibir os nossos ritos, “como faziam os fariseus”, mas só um coração possuído pelo afecto por Deus transforma em oração mesmo um pensamento sem palavras, ou uma invocação diante de uma imagem sagrada, ou um beijo enviado para uma igreja:
“É bonito quando as mães ensinam aos seus filhos pequeninos a mandar um beijo a Jesus ou à Virgem Maria. Naquele momento o coração das crianças transforma-se em lugar de oração. E é um dom do Espírito Santo, aquele Espírito de Deus que grita nos nossos corações: “Abba” – “Pai”, como dizia Jesus, modo de rezar que nunca poderíamos encontrar sozinhos.
Este dom do Espírito, insistiu Francisco, é na família que se aprende a pedir e a apreciá-lo. É verdade que o tempo da família é um tempo complicado e superlotado, reconheceu Francisco, tempo ocupado e preocupado, sempre pouco, nunca é suficiente, ao ponto de afirmar que quem tem uma família aprende bem cedo a resolver uma equação que nem mesmo os grandes matemáticos sabem como resolver: dentro das vinte e quatro horas do dia faz entrar o dobro! Há mães e pais que poderiam ganhar o prémio Nobel por isso!
Mas o espírito de oração devolve o tempo a Deus, sai da obsessão de uma vida em que sempre falta o tempo, para encontrar a paz das coisas necessárias, e descobrir a alegria dos dons inesperados. E deu o exemplo das duas irmãs Marta e Maria que aprenderam de Deus a harmonia dos ritmos familiares: a beleza da festa, a serenidade do trabalho, o espírito da oração:
“A visita de Jesus, que muito amavam, era a festa para elas. Um dia, porém, Marta aprendeu que o trabalho da hospitalidade, embora importante, não é tudo, mas escutar o Senhor, como fazia Maria, era a coisa realmente essencial, a “parte melhor” do tempo.”
Mas a oração brota da escuta de Jesus, da leitura do Evangelho, da familiaridade com a Palavra de Deus, disse Francisco que também desafiou os presentes:
“Existe esta familiaridade nas nossas famílias? Temos em casa o Evangelho? O abrimos de vez em quando para lê-lo juntos? Meditamo-lo recitando o rosário? O Evangelho lido e meditado em família é como um bom pão que alimenta o coração de todos …”.
E o Papa concluiu dizendo que quando em família nos pomos à mesa, aprendemos a dizer juntos uma oração, com simplicidade, é Jesus que vem a nós, como ia à família de Marta, Maria e Lázaro, e que é na oração da família, nos seus momentos fortes e nas suas passagens difíceis, que estamos confiados uns aos outros, para que cada qual seja guardado pelo amor de Deus.
Nas saudações o Papa Francisco dirigiu-se também aos fiéis de língua portuguesa:
“Queridos peregrinos de língua portuguesa, bem-vindos! Saúdo cordialmente os fiéis presentes das diversas paróquias de Portugal e o grupo dos novos estudantes do Colégio Pio Brasileiro. O Senhor vos abençoe, para serdes em toda a parte farol de luz do Evangelho para todos. Possa esta peregrinação fortalecer nos vossos corações o sentir e o viver com a Igreja. Nossa Senhora acompanhe e proteja a vós todos e aos vossos entes queridos”.
Nas saudações em italiano, e a propósito do Dia de oração pelo cuidado da criação, o Papa fez o seguinte convite:
“Na próxima terça-feira, dia 1 de setembro, será celebrado o Dia Mundial de Oração pelo cuidado da criação. Em comunhão de oração com os nossos irmãos ortodoxos e com todas as pessoas de boa vontade, queremos oferecer o nossa contributo para a superação da crise ecológica que a humanidade está a enfrentar.
Em todo o mundo, as várias realidades eclesiais locais programaram oportunas iniciativas de oração e reflexão, para tornar esse Dia um momento forte, tendo também em vista a adopção de estilos de vida consistentes.
Com os bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e fiéis leigos da Cúria Romana, estaremos todos na Basílica de São Pedro, às 17 horas, para a Liturgia da Palavra, para a qual a partir de agora convido a participar todos os romanos e todos peregrinos, e aqueles que o desejarem”.
Depois da oração do “Pai-Nosso” o Papa Francisco a todos deu a sua bênção. (BS)