O povo Gavião Kyikatêjê, da Terra Indígena Mãe Maria, localizado em Bom Jesus do Tocantins (PA) participou neste sábado, 7, das manifestações do Grito dos Excluídos. As mulheres, vestidas de preto, usaram uma mordaça representando toda a repressão e perseguição do governo federal aos povos indígenas. “Colocamos a mordaça e quando chegamos em frente das autoridades locais, tiramos e gritamos “existir para resistir”, disse a indígena Concita Konxarti.
A recusa em demarcar terras indígenas por parte do governo Bolsonaro, com investidas para abri-las para exploração por mineradoras, hidrelétricas e pelo agronegócio vem ameaçando a existência desses povos. O povo Pataxó Hã Hã Hã também se manifestou no município de Pau Brasil, no sul da Bahia. “A nação do povo Pataxó é a nação do Galdino que foi queimado vivo por jovens em Brasília (DF). Eles se manifestaram contra o lixão que continua sendo queimado pela Prefeitura Municipal de Pau Brasil. Manifestam também contra os cortes na Educação”, disse Haroldo Heleno, missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Leste atuando junto aos povos indígenas da região.
Em Santarém (Pará) também aconteceram grandes manifestaçõesreivindicando e lutando em defesa da democracia, da liberdade e dos direitos. “Estamos lutando em defesa da nossa Amazônia, denunciando esse sistema de violação que destrói o meio ambiente, a vida do nosso povo, as comunidades tradicionais, expropria direitos territoriais”, disse Sara Pereira, da Fase Amazônia.
Segundo Sara, o lema do Grito tocou no cerne dos problemas do país: o sistema. “Este sistema prioriza o agronegócio, a mineração, as hidrelétricas, ele destrói vidas. Gritamos também em defesa da Amazônia, ela é mais do que floresta. É a nossa terra, a nossa casa, o nosso sangue, a nossa história”.
O Grito em Fortaleza (CE) ocupou as imediações da Praia do Futuro. “Inúmeras comunidades que vivem no entorno da Praia do Futuro se manifestaram. Elas estão acossadas pela especulação imobiliária, pela política e tendo seus direitos à moradia e à sobrevivência usurpados pelas elites locais”, pontuou Magnólia Said, educadora feminista do Esplar.
Em Campinas (SP) o Grito dos Excluídos denunciou a situação de prostituição de crianças e adolescentes. “Estamos inseridos em uma comunidade que está realmente à margem da sociedade e o Itatinga é um bairro no qual o preconceito e a discriminação imperam pela sociedade. É uma realidade única e temos que dar voz a estas pessoas que estão à margem”, disse Fabiana Aparecida Ferreira, diretora de educação infantil de uma Instituição do Centro de Promoção para um Mundo Melhor (CEPROMM).
“Trabalhamos esse tema desde os três anos de idade, de maneira lúdica, com rodas de conversas, discussões e mobilizações a ações concretas que envolvem a comunidade e finalizamos com a participação dos alunos no Grito”, disse a professora.
Rosilene Wansetto, da Rede Jubileu Sul Brasil e da Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos, que está desde quinta-feira, 5, monitorando as atividades pelo país, avalia que a 25ª edição reflete o sentimento de indignação da população brasileira em relação ao governo Bolsonaro. “Houve uma enorme diversidade de organizações e pessoas participando e se envolvendo no processo de preparação e nas manifestações. Vemos o país inteiro mobilizado: cidades pequenas, maiores, com muita juventude inclusive das universidades”, avaliou Rosilene.
Ari Alberti, da Coordenação e Secretaria Nacional do Grito desde a primeira edição há 25 anos, avalia que hoje o processo do Grito dos Excluídos é o maior espaço de articulação e mobilização popular do país. “Nesses 25 anos, o Grito conseguiu contribuir para que a sociedade avançasse um pouco na compreensão na forma de você comemorar a comemoração da Pátria. Ela ainda mantém seus enfadonhos desfiles, cavalos e cavaleiros, mas tem outro público que vai à rua neste dia, que é um público que se manifesta, que grita, esperneia, para mostrar que há muito ainda a buscar de Independência”.