Leigas e leigos como sujeitos eclesiais – Parte 2

No artigo anterior discorremos sobre como leigos e leigas podem, e devem, se tornar sujeitos eclesiais, buscando maturidade, dignidade de conduta, inspiração no Espírito Santo, agindo com coragem, criatividade, ousadia e também falamos sobre quais pautas e temas devemos refletir, direcionar nosso olhar, buscar informações confiáveis para zelar de nossa “casa comum”.

Por: Roberto (Beto) Mistrorigo Barbosa

Também nos valemos das importantes lições contidas na Encíclica Laudato Si, do Papa Franscisco, aprendendo com ele sobre a inter-relação entre humanidade e natureza, sobre a nossa vocação de guardadores das obras de Deus, principalmente dentro de um quadro de degradação acelerada do meio ambiente.

Agora queremos trazer à reflexão como uma vida contemplativa na ação pode nos ajudar nessa missão. Para isso, a professora Maria Clara Lucchetti Bingemer, do Departamento de Teologia da PUC-Rio, nos dá algumas pistas. Em artigo publicado no jornal Extra, do Grupo Globo, após fazer uma digressão sobre como a contemplação estava relegada a religiosos que buscavam uma vida isolada em monastérios e conventos, ela afirma que “os leigos começam cada vez mais, nestes tempos mutantes e pós-modernos, a sentir a atração por este gênero de vida que desde sempre recebeu a adesão do ser humano em sua busca pela Transcendência”.

A pandemia nos obrigou a buscar algum nível de isolamento, mas não conseguiu fazer com que nos desligássemos ou nos afastássemos dos problemas do mundo para uma avaliação mais sóbria e independente desse grave momento. As redes sociais e os outros meios de comunicação continuam a nos mergulhar no caos informativo, gerando ainda mais ansiedade e desorientação. O que estava prometido na Era da Informação, transformou-se num mar de contradições que, não raras vezes, mais desinforma do que qualquer outra coisa.

Não é incomum nos sentirmos isolados e sem as forças necessárias para exercermos nossa vocação de “sujeitos eclesiais”. Por isso a necessidade de puxar o freio de mão, dar uma pausa, olhar ao redor de maneira mais dedicada e ampla, dar um passo para o alto e contemplar.

De acordo com Bingemer, essa experiência “profunda e fascinante” de relação com Deus através da vida contemplativa está “cada vez mais buscada não apenas por monges e monjas, mas por leigos e leigas, pessoas de fé que têm uma profissão, uma carreira, uma família e procuram mosteiros e casas de retiro para ali passar largos momentos”.

O passo além é vivermos uma vida contemplativa “na ação”, ou seja, termos a capacidade de enxergar o mundo vendo a presença de Deus nas diversas realidades e interpretando essas realidades no dia a dia, permanecendo “no mundo”, sem a necessidade de um retiro físico. É questionar o que Deus espera de nós interpretando as nuanças do momento e da ocasião. Agir como Paulo ao ser conquistado pela Verdade e dizer “…que queres, Senhor, que eu faça”.

Em outras palavras é fazer o tempo todo uma análise de conjuntura espiritual. Para usar uma imagem hoje superada pela tecnologia, é como um fotógrafo que olha para a realidade através dos negativos das fotos que fez e, ao jogar luz sobre eles (nossa reflexão a partir do olhar Divino), revela uma realidade mais ampla, total, cheia de sentido.

Depois disso, é possível voltar “olhar as coisas de nova maneira (…) transformar a história na qual habitam com a mesma luz e o mesmo amor pelos quais foram transformados”, nas palavras de Bingemer. Não será de outra maneira, a não ser quando estivermos em íntima comunhão com Deus, contemplativos na ação, que teremos a ousadia necessária para a mudança, para o serviço e cuidado da “casa comum”.

Roberto (Beto) Mistrorigo Barbosa – Coordenador Nacional da Comissão de Formação do CNLB

plugins premium WordPress