Manifesto sobre as queimadas no Pantanal e Convocação para o cuidado com a Criação

Atendendo ao convite do Papa Francisco, estamos celebrando o Tempo da Criação até o dia 04 de outubro, dia de São Francisco de Assis, unindo no Brasil cristãos e pessoas de boa vontade que comungam da causa fundamental pela nossa Casa Comum.

Por: Presidência CNLB (Nota Oficial)
Fotos: Italo Castro – Cuiabá/MT

Tudo está interligado!

Há mais de 800 anos quando se deparou com a beleza da Criação, Francisco de Assis reconheceu a atuação de Deus e nos propôs um novo itinerário em nossa relação com o bioma: de senhores passamos a ser irmãos e cuidadores de toda a Obra de Deus.

Mas o que dizer hoje no Brasil, quando uma grande nuvem de fumaça e fuligem cobre grande parte do território nacional, estendendo-se até a Argentina, Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia? Os rios voadores da Amazônia que outrora levavam água até os países do Cone Sul, agora levam fumaça e fuligem, e a água da chuva torna-se escura e ácida até para os sulistas.

“A nossa escolha é essa: ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscamos a nossa própria destruição e a da diversidade da vida”. Carta da Terra

Acompanhamos perplexos as várias imagens vindas do Pantanal brasileiro, que comunicam ao mundo inteiro as milhares de vidas – animais e vegetais, reduzidas às cinzas e ossos. Os impactos causados pelos incêndios atestam que somos contemporâneos de um dos maiores desastres ambientais que se tem notícias.

O que está por traz!

O momento de estiagem severa, efeito da atuação humana no equilibro climático, é elemento importante para se entender as grandes queimadas no Pantanal e Amazônia, mas não é só isso. É impossível falar das queimadas sem atrelar a elas a crise fundiária do país: grilagem de terra, aumento do latifúndio, expulsão das comunidades tradicionais, povos originários e pequenos agricultores de suas terras para exploração de madeira e minério, criação de gado e o avanço da monocultura do agronegócio, especialmente a soja, que traz consigo a contaminação por agrotóxicos, cientificamente danosos à qualquer organismo vivo.

Agrava essa conjuntura histórica, o desmonte da mobilização ambiental promovida pelo atual governo federal, levadas à cabo por seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A morosidade premeditada em socorrer os biomas em situação crítica, a proibição de fiscalização e aplicação de multas para os crimes ambientais, a disseminação de fake news que buscam confundir o povo, a perseguição de servidores e tentativa de criminalizar as vozes que se levantam para denunciar o retrocesso em andamento, tudo isso faz parte da implantação um projeto de país no qual não há espaço, nem para o pobre, nem para a conservação ambiental.

Chamados à defesa da Casa Comum!

Não vamos adotar as atitudes dos negacionistas e cínicos. Não vamos fechar os olhos, até porque não temos como fechar os pulmões para a fumaça que nos castiga, originada das queimadas na Amazônia e no Pantanal, fogo que devora animais, vegetais e seres humanos.

Os tempos são duros e escuros como a fumaça das queimadas, por isso, desafiamos cada membro do povo de Deus a que assumam a tarefa de ser fermento, sal e luz. Foi a toda multidão que Jesus disse: “se o sal perder o seu gosto, não serve mais para nada, a não ser para ser jogado fora e pisado pelos homens” (Mat. 5,13-14).

Nesse sentido, nos irmanamos e comungamos as dores do povo amazônico e pantaneiro, fazemos memória da vida de cada animal e cada árvore, do esforço dos cientistas e dos brigadistas que estão na linha de frente do combate ao fogo, e ressoamos, em comunhão e adesão, a nota dos bispos das dioceses pantaneiras[1]. Pedimos a Nossa Senhora do Pantanal que nos dê luz e forças para seguirmos na defesa de cada ser vivo, numa verdadeira conversão ecológica. Que as queimadas não queimem também nossos corações, ao contrário, acendam em todos nós a luz do amor universal. Laudato Si’[2].


[1] https://www.cnbbo2.org.br/carta-aberta-pantanal-em-chamas-dioceses-pantaneiras-gritam-por-socorro/

[2] Colaboram na presente nota: Maria Petronila Neto e Roberto Malvezzi (Gogó)

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