Maria Das Graças Gervásio e Frei Olavo Dotto discutem sobre a V Jornada Mundial dos Pobres

Neste ano de 2021, a V Jornada Mundial dos Pobres é motivada pelo tema ‘Sentes Compaixão?”, com a iluminação bíblica “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7). A Jornada Mundial dos Pobres é uma resposta à provocação feita pelo papa Francisco quando escreve a mensagem para o V Dia Mundial do Pobre e chama atenção para uma abordagem diferente da pobreza, que não culpabiliza o pobre pela sua situação, constituindo-se para muitos como um peso intolerável; mas uma abordagem que reconhece no pobre sua capacidade de também dar algo para sair da sua condição de apenas receber. Para tanto, o papa Francisco nos incita a refletir sobre nossa incompetência em tratar da pobreza ao falarmos dos pobres de forma abstrata, a partir de estatísticas.

É um desafio para os governos e para as instituições mundiais adotarem um modelo social que veja com clareza e seja capaz de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e marcarão de maneira decisiva as próximas décadas, multiplicada ainda mais com a pandemia. Para entender um pouco mais sobre a V Jornada Mundial dos Pobres, acompanhe a entrevista com Maria das Graças Silva Gervásio, assistente social que integra a equipe técnica da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança e com Frei Olavo Dotto, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

ENTREVISTA COM: Maria das Graças Silva Gervásio, assistente social que integra a equipe técnica da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.

Maria das Graças Silva Gervásio

Maria das Graças Silva Gervásio

Quais são os reflexos da pandemia da Covid-19 em relação à pobreza no Brasil?

Os reflexos da pandemia da covid-19 estão em todos os lugares e nas mais diferentes classes sociais, mas entre os pobres esses reflexos são mais marcantes, porque veio, de uma certa forma, primeiro a escancarar a situação de desemprego e subemprego dessa população, que muitos conheciam, mas que tentavam mascarar; e, segundo, aprofundou a situação de pobreza de grande parte da população. Para se ter uma ideia, um estudo feito pelo economista Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas, concluiu que no período de novembro de 2019 a janeiro de 2021 houve uma piora da pobreza em 23 estados e no Distrito Federal. E, em 18 estados, aumentou a extrema pobreza. Esse é apenas um aspecto desses reflexos.

Como podemos contribuir para a erradicação da pobreza ou pelo menos aliviar a marginalização e o sofrimento dos pobres?

Dentre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030, o primeiro objetivo é exatamente erradicar a pobreza de todas as formas e em todos os lugares. Esse é um apelo global feito pelas Nações Unidas. Inclusive, o Brasil se comprometeu com esses objetivos, mas é importante ressaltar que, além do compromisso, é necessário também um conjunto de medidas e, principalmente, recursos que possibilitem implementar programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões.

Como fazer para que a Jornada Mundial dos Pobres não se resuma a obras caritativas, assistenciais, mas que estas sejam sustentadas pela oração e compromisso comunitário, dando testemunho e trazendo resultados eficazes?

A resposta para esta questão está na própria mensagem do Papa Francisco quando chama a atenção para o importante detalhe: de que a pobreza não é fruto do destino, é consequência do egoísmo. Portanto, é decisivo dar vida a processos de desenvolvimento, onde se valorizem as capacidades de todos. E, ainda, que ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si na reciprocidade. Essas palavras do Papa só reforçam o nosso compromisso comunitário e a responsabilidade de toda a comunidade em garantir para além das obras caritativas e assistenciais, mas também com ações alternativas que efetivamente tirem as pessoas pobres da condição de apenas receber e possam recuperar o seu potencial e se constituírem provedoras das suas próprias condições.

ENTREVISTA COM: Frei Olavo Dotto, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

freia olavo dotto

Frei Olavo Dotto

Qual a importância da ação social da Igreja realizada em campos específicos pelas chamadas pastorais sociais?

Primeiro, é importante dizer que o serviço da caridade realizado pela Igreja tem que ser um compromisso de toda ela, de toda a Igreja através dos seus serviços, diferentes serviços organizados. A gente sabe que para realizar o serviço da caridade, o cuidado dos pobres, cuidar daquelas pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social, os diversos rostos da exclusão, da pobreza, nós temos na Igreja os chamados serviços especializados que são as pastorais sociais específicas. Para que isso? Exatamente para termos essa capacidade de nos capacitarmos como agentes de pastorais para um determinado foco, um público específico, para a gente poder trabalhar melhor, melhor compreender a realidade social a qual vivem e, a partir desse entendimento, a gente poder transformar a vida dessas pessoas, a vida dessa comunidade.

Como dar uma resposta concreta aos milhares de pobres que tantas vezes, como resposta, só encontram a indiferença, quando não a aversão?

Quando a gente fala em pensar ações concretas, eu acho que o primeiro passo é exatamente isso. Quer dizer, é a gente trabalhar nas nossas pastorais, nas nossas comunidades esse processo de formação, nessa perspectiva da gente parar esse sentimento da indiferença e partirmos para o cuidado. Segundo, que eu acho que a gente precisa retomar com força nas nossas pastorais aquilo que era muito querido, muito forte, nas décadas de 80, 90, até os anos 2000; que era retomar o processo de formação no ensino social da Igreja. O ensino social da Igreja nos dá uma abertura, também nos coloca nessa perspectiva de nos abrirmos para o diálogo. E, além desse aspecto da formação, penso que é muito importante a gente também ver essas grandes ações que a Igreja está realizando hoje. E que são ações bem concretas, que querem colaborar para amenizar também a pobreza, amenizar esse sentimento exatamente de indiferença.

Todo esse projeto que a Igreja tem junto com a Cáritas, a CNBB e a Cáritas Nacional, o Projeto Ação Solidária Emergencial “É Tempo de Cuidar”, nos motiva para a abertura da solidariedade permanente com os que passam necessidade. Outro ponto para nos integrarmos é o “Pacto pela Vida e pelo Brasil”. A gente precisa participar dessas discussões, pensar que Brasil nós queremos. E temos também na Igreja todo o processo que está acontecendo agora da Semana Social Brasileira, com esse tema que é provocativo: “Mutirão por terra, teto e trabalho”. A gente também participa das discussões lá nas comunidades, nos mutirões de discussão, olhando para a nossa realidade local, os problemas que temos e como que, juntos, a Igreja, a comunidade e a sociedade podem buscar soluções para esses problemas.

Leia a entrevista na íntegra: 1572 – Jornada Mundial dos Pobres (.PDF) 

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