Migração e acolhida

Com este tema aconteceu na semana que passou a semana do migrante. Já na sua trigésima quinta edição, este ano teve como lema o versículo bíblico: Onde está teu irmão, tua irmã? A Igreja de Manaus sempre esteve envolvida na questão da migração. De fato, ela é uma Igreja composta por migrantes e filhos de migrantes que vieram do interior do Estado, dos estados vizinhos, dos países europeus, latino americanos, e até do Japão.

Por: Dom Sergio Eduardo Castriani

É raro você encontrar um manauara, filho de manauaras de terceira geração. Mas estas migrações se deram de maneira diríamos normal, embora a grande maioria foi forçada como Jesus a fugir. Ninguém migra sem razões fortes.

 Podemos nos perguntar se estes migrantes foram todos devidamente acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Nos últimos anos no entanto Manaus se tornou ponto de passagem e ponto de chegada para migrantes que vieram em grande número, fugindo de uma situação econômica e política que lhes impossibilitava uma vivência digna em seus países de origem, sobretudo o Haiti e a Venezuela. O tempo passa e as situações mudam. A pandemia do corona vírus criou situações novas e agravou desafios antigos, mas também abriu nossos olhos para vermos verdades que não víamos por causa da correria e ativismo tão em voga nas nossas pastorais. O papa escreveu uma mensagem para este dia. Depois de ler me convenci que:

 Na medida que o tempo passa sentimos a necessidade de conhecer melhor os migrantes para compreende-los. Trata-se de pessoas, e não de números. Pessoas tem história, tem amores, tem sonhos, são diferentes umas das outras. Vivem numa situação de precariedade. Não tem ideia como será o seu futuro. O único bem que possuem é a sua vida.

 Se quisermos servi-los se faz necessário aproximar-nos deles e isto é sempre perigoso. As relações humanas mudam as nossas vidas. Mas sem aproximação não há fraternidade. Temos muita facilidade em fazer julgamentos pré concebidos que colocam o diferente no seu devido lugar. Conhecemos muito pouco da cultura destes países.

É necessário escutá-los se quisermos estabelecer relações maduras entre iguais. A reconciliação começa pela escuta. Ouvir as mágoas do outro, sem emitir julgamentos apressados. Levar a sério o sofrimento alheio, esta é a sua verdade.

 Descobriremos que para integrar é necessário partilhar. A economia que rege o mundo hoje é a que vê os lucros e dá a cada um conforme investiu, ao passo que nós temos que considerar outros critérios, como o da necessidade.

 É preciso ter paciência para coenvolver e não fazer tudo como se fossem incapazes. São homens e mulheres que tomaram a difícil decisão de deixarem seu lugar de origem. Eles tem alguma coisa a dizer, e todo mundo gosta de ser levado a sério.

É necessário colaborar para construir. Nós não somos os únicos que se preocupam com os migrantes. O mundo é complexo e só trabalhando em rede podemos solucionar a maioria dos problemas que enfrentam. A Igreja de Manaus conta com duas forças organizadas que tem cumprido o seu papel na acolhida dos migrantes. Mas todos nós devemos nos perguntar até que ponto eu estou envolvido nesta acolhida. 

Dom Sergio Eduardo Castriani bispo Emerito da Arquidiocese de Manaus

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