Francisco inaugurou os trabalhos da Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana, dedicada a “Evangelii Gaudium”, e pediu aos bispos que não sejam tímidos ao denunciar a corrupção, que deixa os jovens sem trabalho. Convidou-lhes para que deixem um espaço maior aos leigos e para que assumam sua responsabilidade social e política, sem querer ser “bispos-pilotos”. Indicou que espera menos documentos abstratos, maior colegialidade e que escutem mais a comunidade, evitando que os congressos promovam as vozes de sempre e que anestesiem a comunidade com padronizações. Sugeriu, além disso, fusões de monastérios e ordens religiosas.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 18-05-2015. A tradução é do Cepat.
O discurso que o Papa Bergoglio dedicou ao episcopado italiano, antes de iniciar um diálogo de portas fechadas, foi breve e denso. Francisco afirmou, antes de tudo, que neste momento histórico, “no qual muitas vezes somos cegados por notícias desconsoladoras, situações locais e internacionais que nos fazem experimentar aflição e tribulação (neste quadro pouco tranquilizador realisticamente), nossa vocação cristã e episcopal é a de ir contra a corrente: ou seja, ser testemunhas alegres do Cristo Ressuscitado para transmitir alegria e esperança aos demais”.
Pediu-lhes para “consolar, ajudar e animar, sem nenhuma distinção, todos os nossos irmãos oprimidos sob o peso de suas cruzes”. É “muito feio”, continuou o Papa, “encontrar um consagrado abatido, desmotivado ou apagado: ele é como um poço seco no qual as pessoas não encontram água para saciar sua sede”.
Francisco insistiu na importância de “se apropriar dos mesmos sentimentos de Cristo, de humildade, de compaixão, de misericórdia, de concreção e de sabedoria”. Convidou os bispos para “não ser tímidos ou irrelevantes na denúncia e na derrota de uma mentalidade difundida de corrupção pública e privada, que conseguiu empobrecer, sem nenhuma vergonha, famílias, aposentados, trabalhadores honestos, comunidades cristãs, descartando os jovens, privando-os sistematicamente de qualquer esperança de futuro, e, sobretudo, marginalizando os fracos e necessitados”. A mesma sensibilidade, acrescentou, “nos faz ir ao povo de Deus para defendê-lo das colonizações ideológicas que lhe tiram a identidade e a dignidade humana”. Uma referência indireta à teoria de gênero, que Bergoglio definiu em termos de “colonização” durante a viagem para as Filipinas, em janeiro de 2015.
O Papa também explicou que nas decisões pastorais e na elaboração dos documentos “não deve prevalecer o aspecto teórico-doutrinal, como se nossos apontamentos não fossem dirigidos ao nosso povo ou ao nosso país, mas, sim, apenas para alguns estudiosos e especialistas”, e pediu que os traduzam sempre “em propostas concretas e compreensíveis”.
Francisco pediu para que reforcem o “indispensável papel” dos leigos, para que assumam “as responsabilidades que lhes cabem”. Os leigos “que têm uma formação cristã autêntica – explicou o Papa – não deveriam precisar de ‘bispos-pilotos’, ‘monsenhores-piloto’ ou de um ‘input’ clerical para assumirem as próprias responsabilidades, seja qualquer nível, do político ao social, do econômico ao legislativo! Pelo contrário, precisam de um bispo pastor!”. Trata-se de uma solicitação para que não peçam bênçãos, apoios ou aprovações à autoridade eclesial para cada passo que é dado em um ambiente social e político.
Bergoglio também indicou que deseja uma maior colegialidade entre o bispo e seus sacerdotes, entre os próprios bispos, “entre as dioceses ricas” de bens materiais ou de vocações “e as que estão em dificuldades; entre as periferias e o centro; entre as conferências episcopais e os bispos com o sucessor de Pedro”. Nota-se “em algumas partes do mundo – acrescentou – uma debilitação difundida da colegialidade, tanto na determinação dos planos pastorais, como no compartilhamento dos compromissos programáticos econômico-financeiros”. Francisco apresentou um exemplo apontando a falta de verificações sobre a “recepção de programas e a realização dos projetos”. “Quando se organiza um congresso ou um evento que coloca em evidência as vozes de sempre, anestesia-se as comunidades, padronizando decisões, opiniões e pessoas, ao invés de se permitir transportar para esses horizontes nos quais o Espírito Santo nos pede para irmos”.
Para concluir, o Papa ofereceu um último exemplo de “sensibilidade eclesial fragilizada em razão do constante enfrentamento dos enormes problemas mundiais e a crise que atinge, inclusive, a própria identidade cristã”, perguntando-se “por qual razão deixam envelhecer tanto os institutos religiosos, os monastérios, as congregações, a tal ponto que quase deixam de ser testemunhas evangélicas fiéis ao carisma fundador?”. E questionou por qual motivo não se juntam, “antes que seja tarde, sob diversos pontos de vista”.