Nossa Senhora Aparecida: profecia para o Brasil

Celebrar Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil é rezar pelo povo brasileiro e aprender com Maria, a primeira discípula.

Por: Pe. Frei Elionaldo Ecione e Silva, O. de M.

Esse é sentido da celebração dessa festa mariana tão bonita e tão singular para o nosso povo católico e também para toda a nossa gente, que mesmo em meio às angústias do tempo presente eleva o seu olhar e as suas preces para essa pequenina imagem da Imaculada Conceição, retirada das águas do Rio Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo há mais de trezentos anos.

Ao retirarem a imagem quebrada do rio, retrato da esperança quebrada e da dignidade ferida dos pescadores pela exploração e pela carestia pela qual passavam, eles estavam resgatando a esperança, a confiança, a fé e a devoção naquele que derruba do trono os poderosos e enche de bens os famintos, que socorre os indigentes e despede sem nada os ricos atualizando a sua misericórdia de geração em geração (Lc 1,46-55).

Em Aparecida a Mãe de Deus e nossa se coloca mais uma vez ao lado de humildes pescadores, que a exemplo dos apóstolos Pedro, André, Tiago e João passaram muito tempo lançando as suas redes sem nada pescar (Lc 5,1-11). Esse trabalho frustrado é retrato de muitos trabalhadores de nossa pátria que trabalham muito e não ganham o suficiente para viverem com dignidade com suas famílias.

Assim como na tradição do povo de Israel, Maria também vê e escuta o clamor do seu povo e se compadece deles apresentando-lhes a misericórdia divina e dizendo-lhes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Ela é solidária aos mais pobres e partidária aos mais necessitados assim como Deus na sua Revelação histórica. Deus a enxergou em sua humildade, por isso Maria enxerga os que mais sofrem e que lutam diariamente para garantir o pão de cada dia e o sustento de suas famílias.

Nesse ano de 2020 enfrentamos a pandemia da Covid-19, que escancarou as janelas da sociedade brasileira e também do mundo para vermos o grande abismo das desigualdades sociais. Uma multidão de desempregados, de empobrecidos e marginalizados que tentam lançar as suas redes para resgatarem o seu sustento e a sua dignidade ferida pela injustiça social.

Olhando hoje para a nossa realidade brasileira não podemos nos omitir diante de todo esse sofrimento do nosso povo, sobretudo dos mais pobres. Desse modo, seremos autênticos devotos dessa Mãe morena que se compadece de todos os seus filhos e filhas.

Diante de tantas situações que afligem o nosso povo e da fadiga cotidiana de lançar nossas redes para o trabalho, olhando para a Senhora da Conceição Aparecida precisamos resgatar o respeito, a solidariedade, a fraternidade e o amor ao próximo num país cada vez mais desigual, injusto, antidemocrático e racista.

Aparecida é um sinal profético de Deus na história do Brasil. Essa Mãe morena se apresenta como muitos dos seus filhos e filhas afrodescendentes, que são discriminados desde o início da história do nosso povo, quando os seus ancestrais eram trazidos como escravos do continente africano para trabalharem exaustivamente por essa pátria explorada e miscigenada.

Aparecida evoca a simplicidade do povo brasileiro que dia após dia tenta sobreviver daquilo que a natureza lhe proporciona. Contudo, no Brasil hoje nos vemos assaltados pelos interesses escusos de grandes empresas e multinacionais, que extraem indiscriminadamente as nossas riquezas naturais. A vida de muita gente se tornou um simples cálculo de risco, onde o lucro é a prioridade.

Nosso lindo Brasil com sua natureza e suas belezas está comprometido. E a nossa criação geme e sofre como em dores de parto (Rm 8,22) por tantas queimadas, desmatamentos e poluições. Nesse tempo da criação precisamos olhar como a Mãe Aparecida olhou para a vida ameaçada do seu povo e cultivar novos caminhos de fraternidade e de solidariedade.  

Aparecida é um grito profético para toda a Igreja, sobretudo para a Igreja no contexto Latino-americano e caribenho. A V Conferência lançou sementes aqui que ainda estão germinando, outras que estão crescendo, e outras ainda florescendo… Contudo, precisamos continuar fazendo ressoar a voz profética da V Conferência de Aparecida para que tenhamos frutos maduros de paz, justiça e fraternidade, trinta, sessenta e cem por um (Mt 13,23).

Aparecida também evoca a devoção popular mariana, que no Brasil e no mundo assume tantos contornos e cores diferentes, relevando a pluralidade e a riqueza da fé cristã, que assume o ‘DNA’ de cada povo, cultura e nação. Maria é Mãe de todos os povos, o ícone da nossa evangelização nas terras de Santa Cruz.

Olhando para a pequenina e frágil imagem da Senhora da Conceição Aparecida não podemos deixar de notar que Deus ama os pequenos e a eles se revela (Cf. Mt 11,25). Vamos aprender com a Senhora de Aparecida a se fazer presente na realidade de dor de tantos irmãos e irmãs que vivem nas ruas, sem casa, sem teto, sem trabalho e sem dignidade. Podemos nos fazer presente levando a fé, a esperança e praticando a caridade.

Debaixo do manto da Senhora da Conceição Aparecida encontramos um projeto de vida e de evangelização que alcança toda a Igreja pelo pontificado do Papa Francisco, principal herdeiro dessa contribuição da Igreja Latino-americana e Caribenha. Encontramos também a fé simples e operante do povo brasileiro, que ano após ano faz a sua peregrinação até o Santuário Nacional para visitar a sua pequenina imagem, pagar suas promessas, renovar os seus votos a Deus e celebrar a sua fé.

Essa grande romaria é sinal de uma Igreja viva, de um povo a caminho, que busca na Senhora da Conceição Aparecida à força para vencer as injustiças, a corrupção, a violência, o racismo e tantas outras mazelas que afligem nossa pátria brasileira.  Que a Senhora da Conceição Aparecida nos cubra com o seu manto e nos ajude a vivermos na liberdade dos filhos e filhas de Deus (Gl 5,1).

Pe. Frei Elionaldo Ecione e Silva, O. de M.

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