A América Latina viveu longos anos sob a sombra da perseguição, tortura e morte, muitos foram os países que tiveram sua autonomia roubada pelo desejo do controle total do estado por meio das forças armadas. Os motivos, muito se especula, mas a verdade é que tudo isso era um projeto grandioso de dominação e controle de um continente cheio de riquezas, possibilidades e que começava a despontar construindo avanços no campo trabalhista, social e político.
“Cristãos Leigos e Leigas, sujeitos na Igreja e na Sociedade: sal da terra, luz do mundo e fermento na massa!”
O Brasil não viveu algo diferente, muito pelo contrário! Em 1964 os militares tomaram o poder do País para o que eles chamavam de tentativa de conter o avanço comunista. O que não é segredo para ninguém, é que muitos foram perseguidos, torturados e mortos. De crianças, idosos a grávidas, ninguém na ditadura militar foi poupado.
As luzes que surgiram nesse período, advinham dos movimentos sociais, populares e religiosos, que foram muito importantes para retomar a bandeira da democracia e o desejo de um novo tempo.
A Ação Católica Brasileira, que historicamente é o início da organização laical no Brasil foi de grande importância para esse momento, com muito profetismo e coragem, cristãos leigos e leigas unidos a um esforço comum e imbuídos da missão cristã do seguimento do Evangelho foram à luta contra a ditadura militar. Não podemos negar a nossa história, não devemos negligenciar o passado e incorrer em falsas versões de nosso País.
O Presidente da República conclamou as forças armas e oficializou ao Ministério da Defesa que o Golpe de Estado de 1964 deve ser devidamente comemorado. O que acontece em nosso país é a tentativa de ressignificação de uma história imutável e manchada de sangue e dor. Ninguém depois dos inúmeros relatórios da Comissão Nacional da Verdade pode querer esconder ou mudar o que foi esse trágico período do Brasil, muito menos render honras a torturadores, assassinos e violadores dos direitos humanos, sociais e políticos.
Mataram e torturaram nossos irmãos/ãs e continuam a fazer isso de maneira velada negligenciando os direitos humanos. Comemorar 1964 é dizer que o Brasil volta definitivamente a compactuar com a perda de direitos, ameaça à democracia e com a autoritária militarização dos poderes de nossa República.
Não temos o que comemorar, precisamos unir mentes e corações, não esquecer o sangue derramado dos mártires, testemunhas fiéis de Jesus Cristo, que nos impulsionam na luta pela defesa da vida, da soberania do país, da liberdade e da democracia.
Cuiabá, 31 de março de 2019.
Conselho Nacional do Laicato do Brasil Marilza J L Schuina – Presidente