Ao longo do Sínodo realizado em 2019, o Papa Francisco, ao ouvir as intervenções e ler as contribuições dos círculos menores, elaborou uma Exortação, onde expressa as ressonâncias que o levou a um percurso de diálogo e discernimento.
Por: IHU Unisinos e CNBB
Nela, o pontífice oferece um breve quadro de reflexão que encarna na realidade amazônica uma síntese de algumas grandes preocupações já manifestadas por ele em documentos anteriores, que ajuda e orienta para uma recepção harmoniosa, criativa e frutuosa de todo o caminho sinodal.
O documento, fruto do Sínodo, fala de um chamado à conversão integral (pastoral, cultural, ecológica e sinodal) que promove a criação de estruturas em harmonia com o cuidado da criação; uma conversão baseada na sinodalidade, que reconheça a interação de tudo que foi criado. Conversão que leve a ser uma Igreja em Saída que entre no coração de todos os povos amazônicos.
Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), afirmou que a “Querida Amazônia” apresenta para a Igreja da Amazônia, mas também para a Igreja do mundo, passos concretos para vivenciar a Igreja que tanto o Papa Francisco tem nos interpelado. “Essa proposta do Papa é profundamente fiel à proposta de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também do Concílio Vaticano II, ou seja, uma Igreja inserida no meio dos pobres, sendo Igreja em saída, serva, Samaritana e Madalena, uma Igreja que anuncia o Cristo ressuscitado”, disse.
Na Exortação, o Papa Francisco apresenta/compartilha quatro sonhos sobre a Querida Amazônia: social, cultural, ecológico e eclesial. “Tudo isso nos ajuda a buscar estradas em conexão com aquilo que é, sobretudo, os desafios da Igreja. Mas é bom alertar que já na Laudato Si’ o Papa alertava para a grande crise socioambiental que vivemos”, salienta dom Roque.
“Na Querida Amazônia, nós temos essa denúncia da grave exploração que existe na Amazônia em seu vasto, formoso e belo território com graves consequências para toda a humanidade. Com a Laudato Si’ nós aprendemos que tudo está interligado nessa Casa Comum, tudo está interligado como se fôssemos um. E se nós não cuidarmos da terra, a terra não cuidará de nós”, afirma dom Roque.
Os sonhos do Papa e a pandemia da Covid-19
Segundo dom Roque, a situação da pandemia da Covid-19 é um sinalizador de que o Planeta está doente. “Como teremos saúde se a terra arde com as queimadas, a devastação das florestas, o envenenamento da terra, das águas, a destruição dos biomas, a exploração dos seres humanos, o desrespeito aos primeiros habitantes dessas terras?” questiona.
O arcebispo argumenta, ainda, que é preciso repensar a atual forma de viver e de se relacionar com a terra e todos os seres viventes. “Se não cuidarmos da terra, toda a possibilidade de vida está afetada”, salientou.
Na atual pandemia da Covid–19, dom Roque crê que é preciso que os pobres tenham igual oportunidade neste momento tão crucial da história, que os povos da Amazônia e originários sejam assistidos e que não haja o maior genocídio da história pela omissão de governos, da sociedade e da igreja. “Não é possível que se coloque a economia acima da vida. Certamente nos sonhos da Querida Amazônia está esse grito: que a terra precisa ser respeitada no seu direito de existir”, reitera.
Dom Roque afirma que nos sonhos da Amazônia também estão o apelo, nesta hora, para que a Igreja Amazônica viva caminhos de sinodalidade, de profecia, de alento neste tempo de tamanha desesperança.
“Almejo que com a Querida Amazônia possamos assumir o compromisso de que cuidar da Casa Comum é deixar um legado de vida para as gerações futuras, para as gerações vindouras. Que Maria, Nossa Senhora de Nazaré, rainha da Amazônia, nos cubra e nos proteja com seu manto amoroso para que nós batizados sejamos fiéis a nossa missão de sermos cuidadores da Casa Comum, defensores da vida e, sobretudo, solidários com os povos da Terra”, exorta o bispo.
“Creio que os quatro sonhos que o Papa apresenta nos dizem muito nesse tempo de pandemia. Que não pudéssemos ficar indiferentes. Se temos distanciamento social, é preciso aproximar os corações na solidariedade, na defesa da vida e da criação”, finalizou.