Povo Apinajé ocupa Polo Base Indígena, em Tocantinópolis (TO), para reivindicar melhorias na área da Saúde

Pela Constituição Federal de 1988, o direito à vida é inviolável. Mas, infelizmente, quase 34 anos após a publicação desse importante instrumento, povos indígenas de todo o país ainda lutam para garantir o básico.

POR MARINA OLIVEIRA, DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CIMI

Em Tocantinópolis (TO), a situação não é diferente: desde quarta-feira (11), o povo Apinajé ocupa o Polo Base Indígena (PBI) do município para exigir melhorias na área da Saúde. Após quatro dias de reuniões – entre 4 e 7 de maio –, os Apinajé decidiram realizar um movimento pacífico, o “Eu Quero Viver”. Como parte do ato, a Associação União das Aldeias Apinajé (PEMPXÀ) elaborou um documento com mais de 20 reivindicações para entregar ao coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Tocantins.

Em vídeo, o cacique Oscar Apinajé denunciou a demora nos atendimentos do DSEI/TO. “Nos últimos anos, temos percebido a omissão por parte desse órgão [DSEI/TO], a morosidade no atendimento e nas consultas médicas. Como consequência disso, estamos perdendo lideranças, anciões e até jovens. Então, estamos aqui para pedir que as autoridades competentes nos ajudem a solucionar esse problema, porque basta”.

“Estamos perdendo lideranças, anciões e até jovens”

De acordo com o documento elaborado pelo povo Apinajé, do Tocantins, faltam carro e combustível para transportar os indígenas, remédios e saneamento básico nas aldeias. Foto: Povo Apinajé

No mesmo vídeo, o cacique mostra a revolta de uma anciã do povo perante o contexto. Ela clama por melhorias na Saúde, porque, segundo seu relato, não há nem mesmo carro para buscar os indígenas nas aldeias.

“Estamos precisando dos atendimentos da Saúde, precisamos do carro da Saúde. Falam para nós que não tem combustível e não se dirigem até nós para fazer os atendimentos. Nós, mulheres, sofremos ainda mais. Pelos nossos filhos e netos que não recebem atendimento. Não queremos morrer mais, não queremos perder nossos filhos e nossos netos”, lamentou a anciã.

“Não queremos morrer mais, não queremos perder nossos filhos e nossos netos”

De acordo com Jucilene Correia, do Conselho Indigenista Missionário – Regional Goiás/Tocantins (Cimi – GO/TO), os indígenas estão vivendo uma “calamidade terrível”. “A saúde dos indígenas do povo Apinajé passa por graves situações de descaso, não estão recebendo assistência por parte do DSEI. Inclusive, vimos recentemente uma reportagem sobre um surto de leishmaniose, tuberculose e hepatite entre os Apinajé. Há suspeita de mortes em razão dessas doenças e nada disso está sendo averiguado pelos órgãos competentes do município. Então, a mobilização que estão fazendo desde o dia 11 de maio é por uma causa justa, e o Cimi Goiás/Tocantins está oferecendo todo apoio para o bem da saúde indígena”, afirmou Jucilene.

Mais de 20 reivindicações

Entre as situações apontadas pelos indígenas no documento, estão a falta de medicamentos – de uso contínuo e remédios básicos –, a demora no agendamento de consultas e exames para especialidades, a falta de combustível, a ausência de atendimento exclusivo para gestantes e puérperas e a falta de um plano emergencial de abastecimento de água nas aldeias que apresentam contaminação do solo.  Ao todo, foram mais de 20 reivindicações exigidas pelos Apinajé.

“Diante desta demanda, é necessário que os pacientes sejam acompanhados, examinados e tratados. Mas, verificamos muita demora, lentidão e negligência dos colaboradores que atuam no PBI [Polo Base Indígena] de Tocantinópolis. Esse atendimento precisa melhorar”, diz um trecho do documento.

Além disso, os indígenas denunciaram a postura e o “mal atendimento” de uma técnica de enfermagem. De acordo com o relato, ela não faz a devida anotação na caderneta após a aplicação de vacinas nem fornece as informações necessárias às pessoas.

Veja aqui o documento na íntegra.

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