Os grupos saíram de Porto Velho (RO), na noite de terça-feira (16), 100 pessoas. E de Rio Branco (AC), quarta-feira (17) pela manhã, 45 lideranças indígenas com destaque à presença das mulheres e jovens.
Por irmã Osnilda Lima
lan Imaek, liderança jovem que está indo representar a juventude shanenawa, huni kui, ashaninka e madha, diz: “Queremos que o papa tenha um olhar para nós juventude, não só nós juventude indígena, mas ribeirinha também. Queremos ganhar nossos espaços e assegurar os direitos já conquistados, mas que estão nos tirando”.
Representantes da presidência da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), também já se encontra em Puerto Maldonado desde a manhã da quarta-feira (17) para reuniões em vista do Sínodo Pan-Amazônico que será realizado em outubro de 2019, em Roma e para o encontro com o papa. Dom Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia (CEA) da Conferencia Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) e da Repam, destaca: “A decisão do papa Francisco de encontrar os indígenas da Pan-Amazônia, em Puerto Maldonado, é um dos gestos mais significativos do seu pontificado porque é um forte apelo em favor dos povos originários da Amazônia e também um renovado empenho seu no cuidado pela nossa casa comum”.Edileuda Shanenawa, representante das mulheres shanenawa, do município de Feijó, no Acre, conta: “É um momento importante para os povos indígenas, para a história. Queremos um olhar atento às mulheres indígenas, à demarcação e o respeito à nossa cultura”, declara.
O cardeal afirma que esta 22ª Viagem Apostólica Internacional do pontificado de Francisco, visitando inicialmente o Chile e em seguida o Peru “acena também com esperança para a importância dos indígenas no contexto do Sínodo para a Pan-Amazônia”, diz dom Cláudio.
Somam-se à caravana que saiu de Porto Velho, com os povos indígenas e agentes de pastoral, o arcebispo da Arquidiocese de Porto Velho, dom Roque Paloschi; da Diocese de Juína (MT), dom Neri José Tondello; da diocese São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Taschetto Damian e da diocese de Humaitá (AM), dom Francisco Merkel.
Dom Roque Paloschi, expressa gratidão ao papa pela visita à Pan-Amazônia e diz: “O santo padre vem justamente num caminho de escuta, ouvir os povos originários desta região, tão sofridos, tão machucados, tão dizimados”. O arcebispo, que também é presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), afirma que os povos indígenas estão muito agradecidos por esse encontro. “É um momento de grande responsabilidade para nós que precisamos ouvir o clamor de Deus através do grito dos pobres e da criação, esta casa comum, que hoje temos a responsabilidade de zelar e cuidar para que verdadeiramente a vida se torne um grande hino de louvor das criaturas ao criador”, afirma dom Roque.
“Os povos indígenas ocupam um lugar especial no coração papa”, lembra dom Edson Taschetto Damian. Para o bispo, a mensagem de Francisco nessa viagem apostólica “é incisiva e esperançosa, forte para a Igreja e a sociedade”, e lembra que começa a “aterrissar” o Sínodo para a Pan-Amazônia com a presença do papa no Peru e seu encontro com os povos originários da região. “É um incentivo à evangelização da Amazônia de forma inculturada, que reconhece a Boa-Nova das culturas indígenas que acolhe a Boa-Nova de Jesus”, assegura dom Edson.
O bispo, recorda ainda, ser a presença do papa na Amazônia peruana um compromisso na defesa dos povos indígenas, principalmente “nesta nossa Amazônia brasileira em que os grandes projetos são colonialistas, são impostos à força, não levam em conta a presença dos povos originários e muito menos àquilo que eles têm a nos ensinar”, conclui o bispo de São Gabriel da Cachoeira, município com maior predominância de indígenas no Brasil. Nove, entre dez habitantes, são indígenas. Foram reconhecidas, por lei municipal, como línguas oficiais no município, ao lado do português, três idiomas indígenas: o nheengatu, o tucano e o baníua.
A convocação para o Sínodo e o chamado do papa para o encontro com os povos indígenas, segundo dom Neri José Tondello, “foi uma surpresa exuberante que vem boa hora para nos ajudar de maneira mais universal a nossa ação pastoral e evangelizadora dentro de nossas dioceses, mas sobretudo, dentro de um contexto amazônico com olhar atento aos povos indígenas”, garante o bispo.
Para dom Neri, o Sínodo ajudará a olhar o futuro da região com mais esperança e compromisso do ponto de vista pastoral, teológico e da espiritualidade própria da relação com a natureza. “Será um momento de rever a própria dimensão dos ministérios, da formação, rever a forma de olhar para o martírio histórico de nossa Amazônia”, afirma. O bispo, lembra ainda, que a Amazônia tem um bioma fundamental para a vida deste planeta. “Precisamos pensar como o mundo pode colaborar para que este bioma amazônico possa ser preservado e possa continuar a contribuir com a salvação do planeta”, sublinha do Neri.
Amanhã, quinta-feira (18), o papa visitará Iquique, terceira e última cidade visitada no Chile Nesta ele preside a missa no Campus Lobito. Em seguida almoça na casa de retiros dos padres oblatos no Santuário Nossa Senhora de Lourdes. Após a cerimónia de despedida, o segue às 17h para a segunda etapa de sua viagem apostólica: Lima, capital do Peru.
Francisco percorrerá quase 4 mil quilômetros para visitar Lima, Puerto Maldonado e Trujillo, entre os dias 18 e 21. Essa será a terceira vez que um papa visita o Peru, depois das viagens de João Paulo II em 1985 e 1988.