De 3 a 5 de junho, acontece a 39ª Assembleia Geral dos Cristãos Leigos organizada de modo virtual pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB). À frente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo de Tocantinópolis (TO), dom Giovane Pereira de Melo, fala dos desafios para o crescimento do protagonismo dos cristãos leigos e leigas na Igreja no Brasil.
O bispo aponta que não há como separar os desafios da Igreja em relação aos desafios da sociedade. “Acho que eles estão juntos porque a Igreja e os leigos estão inseridos no mundo. São sujeitos na Igreja e na sociedade”, disse. Para dom Giovane, o grande desafio colocado para a Igreja e a sociedade hoje é a realidade da pandemia e suas consequências. “Precisamos ter consciência que estamos enfrentando como Igreja e como sociedade uma grave crise sanitária, econômica, ética, social, política. Tudo isto, se intensificou com a pandemia”, apontou.
Em sua avaliação, a pandemia expôs, de forma escancarada, a desigualdade estrutural da sociedade brasileira. “A pandemia deixou muito clara a situação de devastação que esta crise provocou, principalmente, no meio dos pobres e mais vulneráveis. A situação dos mais pobres, os idosos, os moradores de rua, mulheres, afrodescendentes, indígenas, quilombolas, vem se agravando por conta, principalmente, das políticas públicas básicas que o Governo Federal tem negado”, disse. Embora tenha diminuído, ele aponta para a Igreja Católica o desafio da disseminação do preconceito em relação às vacinas contra a Covid-19.
O presidente da Comissão para o Laicato da CNBB avalia que o governo federal tem interferido de forma muito agressiva nos conselhos de políticas públicas, o que afeta, sobretudo, as populações mais pobres. Ele cita como exemplo a realidade da Amazônia Legal onde se vê a crise acentuada na realidade dos povos da região Norte do país.
Dom Giovani também destacou o uso da violência e das agressões principalmente por parte de grupos organizados, a política extremista de ameaças à liberdade, aos direitos fundamentais e às instituições democráticas presentes, de modo especial, nos espaços públicos e nas redes socais. “As redes sociais estão intoxicadas por esta violência às mulheres, aos negros, aos homossexuais, aos indígenas. Isto tem acentuado ainda mais o já cenário grave da pandemia”, avalia. Ele também aponta como preocupação da Igreja e dos setores mais lúcidos da sociedade a questão da corrupção no ambiente público e em outros ambientes.
A manifestações de polarizações e intolerância no campo religioso por parte de grupos extremistas, sectários e fundamentalistas no interior da própria Igreja também foi apontado como um desafio para a atuação dos cristãos leigos e leigas. O exemplo que ele aponta foi a própria Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano que sofreu ataques de grupos fundamentalistas. Segundo o presidente da Comissão para o Laicato, a hostilidade, a desinformação e o desrespeito vem sendo praticados contra o magistério da Igreja, os bispos e até mesmo contra o Papa e são manifestações que visam confundir e dividir o povo de Deus.
Para enfrentar a questão, dom Giovani diz ser necessário fazer uma reflexão e aprofundar o por quê destas manifestações de intolerância e hostilidade no ambiente católico. “Precisamos fazer este discernimento com caridade, zelo pastoral mas, ao mesmo tempo, com firmeza a partir daquilo que a própria Igreja ensina”, defendeu.
Formação e organização do laicato no Brasil
Mais no âmbito do próprio laicato, dom Geovani apontou a questão da formação dos cristãos leigos e a sua organização como dois desafios que a Igreja no Brasil precisa perseguir sempre para garantir a existência de um laicato maduro na fé, com sentimento de pertença e protagonista na Igreja e na sociedade. As referências, segundo ele, estão no documento nº 105 da CNBB.
Para dom Giovani, não se faz protagonismo sem uma clara consciência da vocação, da missão e da necessária organização do laicato. Um avanço neste sentido, segundo dom Giovani, foi a apresentação que a Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB fez junto com o CNLB, com as expressões laicais e o grupo de reflexão formado por teólogos, teólogas e pastoralistas na última reunião do Conselho Pastoral Episcopal da CNBB, dia 24 de maio, dos parâmetros para a formação dos cristãos leigos e leigas.
O bispo informa que os parâmetros foram aprovados e, brevemente, serão publicados. “Esses parâmetros trazem pressupostos e critérios fundamentais que garantem a identidade laical no âmbito da Igreja e sociedade e visam dar às nossas dioceses, movimentos e comunidades novas referências para pensar a formação dos cristãos leigos e leigas”, disse.
Dom Giovani destacou uma fala do Papa Francisco na Assembleia do Pontifício Conselho para os Leigos em junho de 2016. O Santo Padre disse que uma Igreja em Saída precisa também de um laicato em saída, bem formado, animado pela fé, que suje as suas mãos mas não tenha medo de errar. “A Comissão do Laicato vai dar esta contribuição à Igreja no Brasil no sentido de ajudar as nossas Igrejas particulares a trabalharem este grande desafio que é a formação de cristãos leigos e leigas”, apontou.
Para finalizar, dom Giovani disse que um outro desafio que precisa ser perseguido como CNLB é a organização dos cristãos leigos e leigas nos conselhos diocesanos e regionais. “Ainda há muitas dioceses que acham que não é necessário a criação de conselhos de leigos porque já estão organizados em comunidades, conselhos paroquiais, etc. Mas nós, pela Comissão do Laicato, entendemos que os cristãos leigos precisam deste espaço próprio para discutir sobre sua identidade, formação e missão. A Igreja apoia e reconhece. Para serem sujeitos eclesiais, os cristãos leigos precisam também ter assegurados seus próprios espaços”, reforçou.
Foto e texto: CNBB