“Profecia será tema central da 41° Assembleia Geral do CNLB “. Com essa informação alvissareira publicada na página virtual do CNLB, indica-nos o quanto seremos premiados de conteúdos e pistas de ação para melhor colocarmos em prática aquilo que, em Cristo e pelo batismo, também somos: Sacerdotes, Profetas e Reis.
A profecia de tradição bíblica nem sempre foi e nem sempre será compreendida e aceita por todos. Uma vez que ela é, antes de tudo, um anúncio e consolação para os mais pobres, o Resto, os que sofrem, os excluídos e perseguidos por causa das injustiças e desigualdades sociais decorrentes do pecado.
A incompreensão e não aceitação da profecia podem ser, portanto, devido à ignorância ou pela conveniente maldade dos poderosos. Assim ocorreu com Jesus Cristo que, ao profetizar a destruição do Templo de Jerusalém mas que, entretanto, em três dias ele seria reconstruído, Ele estava nada mais do que metaforicamente anunciando o início de uma nova era na História da Salvação com a sua própria Páscoa (Jo 2, 19). Porém, nem todos o compreenderam. Pior, esta profecia perversamente foi utilizada no processo de sua condenação. (MT 26, 61). Ou seja, profetizar sob a inspiração bíblica é sempre um perigo mas, nós leigos e leigas, viemos pra incomodar.
Somente a partir de Jesus e de seu Evangelho é que podemos de forma satisfatória detectar e interpretar com clareza o anúncio de uma profecia. Seja ela do tempo presente ou de um evento passado; de um testemunho pessoal ou de um fato histórico; anunciada por meio presencial ou remoto; e, etc. A passagem evangélica dos “Discípulos de Emaús” ilustra muito bem o que acabo de dizer (Lc 24, 13-35).
Jesus, depois de dar uma bronca nos discípulos por tanta insensatez, discorre para ambos toda a História da Salvação revelada nas Escrituras e, torna evidente aos mesmos que a morte do crucificado tão sentida e lamentada por eles, é morte redentora e, em particular, cumpre a profecia do “Servo Sofredor” proferida pelo Profeta Isaías. Com esse ensinamento pedagógico e cativante Jesus é convidado pelos discípulos a permanecer naquela noite com os dois, o que possibilitou não só enxergar o Cristo no partir do pão mas, também, a alcançar a correta interpretação do conteúdo profético anunciado nas Escrituras que ansiosamente era aguardado pelo povo dos Pobres de Israel. Somente em Jesus alcançamos os plenos critérios que possibilitam-nos interpretar o anúncio de uma profecia de caráter bíblico-libertador.
Entretanto, poderíamos perguntar: a quem compete fazer o anúncio profético? E a quem compete interpretá-lo? O que profetizar? Onde, como e quando anunciar uma profecia? Afinal, o que é profecia?
Problematizando esse tema, necessário se faz recorrermos ao apóstolo Paulo. Em sua epístola aos Romanos (Em 12, 3-13) o apóstolo deixa claro que pela Graça, mediante o florescimento e vivência da fé, Deus dispensa a cada um de nós os dons necessários para assegurar que a comunidade (humanidade) viva em conformidade com o seu universal plano salvífico-libertador a todos os seres viventes. Dons que continuam sendo dispensados pelo Espírito Santo quando do nosso batismo.
Portanto, profecia é antes de tudo um dom. Dom que a Graça oferece à todos. E que carrega uma especial e particular característica: um dom eminentemente à serviço da comunidade (sociedade). Não há anúncio profético para si mesmo. A profecia é um anúncio dirigido ao outro, coletivo e/ou individual. Por ser um dom recebido fundamentalmente pelo Espírito de Deus no batismo, nenhum cristão pode se eximir de exercê-lo. Ainda que de acordo com fé de cada um, como nos lembra o apóstolo Paulo.
Olhando, também, para história de vida dos Profetas tal como nos apresenta as Escrituras, todos eles se empenharam na tentativa de conformar a realidade ao plano salvífico-libertador de Deus. Por isso a fala do Profeta é a própria fala de Deus. Uma fala que traz anúncio e denúncia; regozijo de louvor e alerta para maldição; cooperação fraterna e empenho na mudança social, dentre outros. Conformar a realidade à vontade de Deus é missão permanente e gera muita tribulação. Por isso o apóstolo Paulo faz a sua admoestação: que nos alegremos na esperança e sejamos assíduos na oração. E essa alegria renovadora de esperança e a oração fortalecedora na caminhada é que nos serão presenteadas na 41° Assembleia Geral Ordinária do CNLB.
A nós, leigos e leigas, não nos é permitido desanimar e nem nos omitir. O mundo precisa de nós, as pessoas precisam de nós, a Igreja que somos precisa muito de nós. Isso porque nossa vocação e missão, ouso dizer, somente elas, poderão dar completude ao anúncio e vivência profética. Pois, diante de uma realidade tão desigual e desequilibrada sócio-econômico-ambiental, somente será possível conformar esse mundo ao projeto salvífico-libertador de Deus senão exercendo o que nos tornamos e recebemos de Cristo pelo batismo: Sacerdotes, Profetas e Reis.
Uma boa e gratificante Assembleia a todos e à todas!
Milton Mano – Colegiado Fiscal CNLB ArqRio.
Junho/2023.