Reflexão para o 32º Domingo do Tempo Comum

Santuário de Aparecida – SP dia 09 de novembro de 2024 – 28ª Romaria da Pastoral Afrobrasileira

Homilia de Dom Giovane Pereira de Melo – bispo de Araguaína (TO)

e presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB

Saudar os irmãos presbíteros, diáconos, os romeira (a) da Mãe Aparecida que se encontram aqui no santuário e que nos acompanham pelos meios de comunicação, radio, tv e redes sociais. Saudar a Dom Zanoni, arcebispo de Feira de Santana e referencial para a Pastoral Afrobrasileira e que está participando na cúpula global de líderes religiosos durante a COP29 no Azerbaijão representando a CNBB.

Irmão e irmãs. A primeira leitura e o Evangelho deste domingo tocam a temática do desapego, da partilha, da capacidade de “dar tudo”. Cristo, com a entrega total da sua vida a Deus e aos homens e mulheres, realizou plenamente esta dimensão. Ele “deu tudo”. Não limitou a partilhar alguns bens perecíveis, mas deu aquilo que tinha de mais precioso: a sua própria vida. Mais do que orações e rituais litúrgicos solenes, bem executados, ou ofertas em dinheiro…, a resposta que agrada a Deus e que Deus espera de nós, passa por gestos simples, generosos, que expressem doação da nossa vida, para que o projeto de Deus para o mundo e para o homem e a mulher se concretize.

A história da viúva de Sarepta, e de Jesus no átrio do templo de Jerusalém, nos dão conta de que quando repartimos, com generosidade e amor, não ficamos mais pobres; os bens repartidos multiplicam-se e tornam-se fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles beneficiam. Os textos também nos mostram a predileção de Deus pelos simples, humildes, desfavorecidos, que são colocados à margem da vida e que são generosos e capazes de grandes gestos de amor. Essa opção de Deus é uma opção que resulta do seu amor. O coração paternal e maternal de Deus inclina-se de forma especial para os seus filhos e filhas que vivem numa situação dramática de necessidade e precisam especialmente da bondade, da misericórdia e da ajuda de Deus.

Estamos realizando hoje a 28ª romaria das comunidades negras, da Pastoral Afro-brasileira, das irmandades, das comunidades quilombolas uma semana depois conclusão da assembleia sinodal em Roma…, demos graças ao Senhor por este caminho percorrido em conjunto. Igreja sinodal é todos caminhando juntos, sem que ninguém fique de fora….

Como nos falou o documento final do sínodo, o processo sinodal não terminou com o fim da Assembleia sinodal, é preciso colocar em pratica as reflexões e encaminhamentos. É nossa tarefa em razão do nosso batismo nos engajarmos como missionários da sinodalidade dentro das comunidades de onde viemos. A sinodalidade é constitutivo da identidade da Igreja.

A 28ª romaria das comunidades negras que neste ano traz como tema: pastoral afrobrasileira peregrina com fé e esperança contra o racismo traz em seu tema   a referência ao ano jubilar de 2025, Peregrinos de Esperança.  A pastoral afrobrasileira quer lutar com fé, esperança e caridade, na superação de desafios que ainda persistem na sociedade brasileira em relação ao povo negro; esses compromissos podem ser o legado do ano jubilar para a pastoral afrobrasileira.

  1. Combater o racismogarantir a igualdade racial – hoje há um preconceito grande com as cotas raciais.  As cotas é uma dívida social com o povo negro;  
  2. Dificuldade de trabalhopreconceito com a cor da pele e do cabelo – ainda prevalece preconceitos especialmente entre os jovens que não conseguem emprego;
  3. Intolerância religiosa – o povo negro não pode usar suas raízes religiosas para se manifestar.  É preciso resgatar a cultura da tolerância e romper com o ódio;
  4. No mundo da política…, vale a pena perguntar:  quantos negros foram eleitos como prefeito ou vereadores no país nestas últimas eleições;
  5.  Processo de envelhecimento da população negra – com pouco recurso para o cuidado;
  6. A população negra é mais crescente entre os que são mortos nas periferias ou que estão encarcerados. Muitas vezes por falta de oportunidades e de políticas públicas ou sem advogados de defesa;
  7. No diálogo inter-religioso ainda há preconceito em acolher as comunidades de matrizes africanas;
  8. É preciso recuperar a questão da ancestralidade nos povos de quilombos – muitos quilombos sofrem em sua luta para manter-se na terra;
  9. Como Pastoral Afrobrasileira precisamos ser portadores de esperança para o novo negro:
  10. Ir para as periferias para sensibilizar, recuperar nas comunidades a compreensão das questões afro-brasileiras;
  11. Propor e incentivar a criação de novos grupos que busquem a sua identidade na Igreja e na sociedade – especialmente ocupar os conselhos de igualdade;
  12. Buscar diálogos no interno da igreja, para acompanhar os quilombos existentes nos territórios das dioceses e formar grupos de bases nas dioceses.

Conclusão. Que a Virgem Mãe Aparecida, Mãe de Cristo e da humanidade, onde vemos os traços de uma Igreja sinodal, missionária e misericordiosa brilhando em plena luz, nos ajude a sermos Igreja que escuta, reza, medita, dialoga, acompanha, discerne, decide e age (doc. final do sínodo n. 29) Amém.

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