Um ano da chacina em COLNIZA/MT: A BANALIDADE DO MAL.

Dia 19 de abril de 2018, um ano da maior chacina no estado de Mato Grosso, desde 1986, quando foram assassinadas dez pessoas. Contudo, não é somente os números que se repetem ao do período do fim da ditadura civil-militar (1964-1985) e era Sarney (1985-1990), mas também uma realidade sócio-política de instabilidade e vulnerabilidade aos povos da terra, do território, das florestas e das águas.

 

Mesmo com a redemocratização formal, estes povos se mantêm em contínuo estado de exceção, sem retirar-lhes seus direitos, estes não têm o seu acesso.  E nessa negação real de direitos à propriedade-de-trabalho, à produção-comercialização, à educação e, por fim, à vida, camponeses e camponesas,  indígenas e quilombolas sofrem as maiores atrocidades. Desde 1985, em Mato Grosso, já foram 136 pessoas assassinadas no campo. Sendo o quarto estado que mais mata os povos do campo no Brasil.

Mesmo com a enorme quantidade de assassinatos, nenhum mandante foi preso até o dia de hoje. Eis mais uma vez a confirmação do estado de exceção. A impunidade promovida pelo estado institucionaliza a vulnerabilidade e, institucionalizando assim a violência. Pode-se matar. Compensa-se matar. Pois o poder da concentração de terras e a concentração de financiamentos são a concentração do poder político, social e econômico.

O município de Colniza, juntamente com diversos municípios de nossa região amazônica, está inserido numa realidade diária de conflitos. A grilagem, a mineração, a pecuária, o comércio de madeiras e, por fim, o comércio de grãos – todos apoiados direta ou indiretamente pelo estado – são os propagadores da instabilidade e violência nessa região.

Pelo lucro e pela concentração dos poderes o assassinato dos nove camponeses se fez e ainda se faz necessário. Mesmo com a chacina a realidade de estado de exceção não mudou na região: é a ‘banalidade do mal’. Pois os espaços institucionais no estado, na mídia, na política econômica, na sociedade produzem e institucionalizam a manifestação dessa maldade, tornando-a banal.

Desde 1986, já são nove chacinas em Mato Grosso, com 55 assassinatos. Todas na região amazônica do  estado. E 2017 não é diferente. A violência está instalada. Os grileiros, madeireiros, mineradores, empresários do agronegócio sabem que tem o poder de ‘fazer viver ou deixar morrer’. De 1995 até 2017 já são mais de 11.000 pessoas que sofreram ações de pistoleiros; mais de 200 ameaças de morte; mais de 2.000 famílias expulsas por pistoleiros; mais de 20.000 famílias despejadas pelo ‘estado do agronegócio’. Nacionalmente não é diferente. São 70 assassinatos, o maior desde 2003. E desses assassinatos, houve quatro massacres: Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia.

Nestes anos de redemocratização já foram 1.904 assassinatos. Tendo somente 31 mandantes presos. Ano difícil esse 2017 para os povos do campo. A agressividade e a barbárie da violência vêm aumentando desde 2013. Ano em que as forças fascistas nacionais acordaram de um sono político de anos.

A Gleba Taquaruçu do Norte é a confirmação dessa barbárie. A Gleba Taquaruçu do Norte é a confirmação dessa impunidade. A Gleba Taquaruçu do Norte é o rosto do estado de Mato Grosso que teima em permanecer um estado violento com  os povos indígenas, quilombolas, com os camponeses e camponesas e com os trabalhadores e trabalhadoras assalariados/as do campo.

Nesse mesmo estado percebe-se a agilidade do Judiciário quando é para retirar da terra, a pedido ou mando dos fazendeiros e grileiros de terras públicas, as famílias camponesas que buscam um pedaço de chão para ter uma vida digna. Quando se trata de punição aos que assassinam camponeses de forma cruel, como o ocorrido na Gleba Taquaruçú do Norte, não se percebe essa mesma agilidade. Pelo menos não nos casos dos demais assassinatos no campo ocorridos em Mato Grosso desde 1986. Esperamos que esse mesmo judiciário trabalhe com tamanha agilidade para apurar e punir, não só os executores, mas principalmente, o mandante dessa chacina.

Valdelir João de Souza, vulgo ‘Polaco Marceneiro’, é o acusado de ser o mandante e teve sua decretada sua prisão preventiva, com mandado de prisão em aberto há quase um ano, mas até o momento encontra-se foragido. Onde está o Estado de Mato Grosso que tanto investiu e investe na segurança que não é capaz de viabilizar a prisão de uma pessoa acusada da prática de uma barbárie como essa chacina.

Deixar o acusado de ser o mandante desse crime livre é o mesmo que dizer que pode-se matar, que a impunidade será a recompensa. O suspiro da criatura oprimida teima em permanecer em nossos ouvidos.

Enquanto houver impunidade aos mandantes, os pobres e trabalhadores da terra continuarão vulneráveis à violência e sob a decisão de continuar a viver ou morrer tomada por fazendeiros, grileiros, mineradores, madeireiros e pelo próprio Estado

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