Há uma bela canção que diz que “fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”, e isso não é apenas poesia, mas obrigatoriamente, uma realidade.
Por: Thiago Godoy
Lembrando dessa belíssima motivação é podemos iniciar pensando numa realidade importante de nossa fé: ela é fruto de uma bondade de Deus diante da pequenez humana. No entanto, o que nos traz aqui não é, em si, a nossa relação com Deus, mas a nossa relação com as irmãs e irmãos, a partir da relação com Deus, o que pode ser traduzida como igual propriedade, e explico:
A história da humanidade, em toda a sua representação, pode ser vista como um grandioso processo de conquistas e transformações, mas um fato, pode se destacado: algo que permanece diante de todas as conquistas, é a presença do pobre, dos pequeninos, dos que vivem à margem de uma sociedade.
Certa vez ouvi de um professor de teologia que inclusive, as franjas que alguns judeus usam em seus cabelos e barbas é um lembrete dessa realidade, que retoma as “franjas” das agriculturas que deveriam ser deixadas para os órfãos e viúvas, categoria de expressão da pobreza por excelência na concepção judaica, já que ambos estavam desprovidos de qualquer posse. Embora nunca tenha aprofundado o tema, creio ser uma importante mensagem para todas as pessoas refletirem.
A pobreza, categoria econômica sempre esteve presente em nossa história, o que permanece como um alerta, já que ela também é sinal de limite do grande dom de Deus: a vida, como qualquer boa análise pode concluir. No entanto, o pobre é o eixo central da Teologia Cristã, já que é por meio do encontro com o pobre que o Evangelho propõe a participação de Deus e de Jesus envolvendo-nos num compromisso de vida, que vai além de qualquer ideologia. O pobre é a pessoa em sua essência, aquela que tem tudo que é.
Nossa Igreja e nosso compromisso com o Batismo em Jesus nos obrigam a viver essa relação, até porque é um dos chamados conselhos evangélicos, que não é apenas projeto para quem abraça a Vida Consagrada.
Das muitas experiências que levo em minha bagagem é observar que a vida limitada, nos fatores econômicos, revela a riqueza do encontro solidário e da partilha, já que em lugares que a precariedade impera, é a partilha que se faz real, mesmo que seja a entrega do pouco que temos (lembrando das moedas da viúva no templo de Lc 21,1-4). Poderíamos lembrar do convite de Jesus, no evangelho de Mateus, a sentar-se na relva e tirar das bolsas os pães para partilha, que se transforma em multiplicação, diante da pergunta “como iremos alimentá-los no deserto?” (Mc 8,1-8).
O passo da fé cristã está no caminho do Samaritano que acolhe o caído na estrada (Lucas 10:25-37) ou seja, amar, para Jesus é erguer a dor da pessoa, é coloca-la de pé. Por isso a categoria do pobre é a nossa forma de ver a Deus. Isso não se traduz na redução da ausência de bens, mas na vivência de que precisamos combater a pobreza e o faremos ao lado de nossa gente, dos pobres. Estar ao lado dos pobres é amar e quem ama, não aceita que o limite seja maior que as forças e que as conquistas das pessoas.
Cada batizada e batizado é compromisso vivo dessa luta de vida por todas as pessoas, não apenas em sua emancipação econômica em sim, mas no compromisso de vida plena que se apresenta como o próprio Cristo revela em seus encontros, quando ele sente a dor de cada uma das pessoas que Ele se aproxima, que Ele toca, que Ele deixa ser tocado, que Ele fala e ouve. A opção é pela pessoa e não pelas suas dores e limitações. O que consiste numa luta contra a pobreza econômica que leva a viver a realidade do amor.
Então nossa missão é de encontrar a pessoa e lutar pelo fim da pobreza, que não cria “o pobre”, que é pessoa essencial, mas limita a vida de qualquer pessoa. Essa missão se dá em nossa casa, em nossa escola, em nossa igreja, em nossa cidade e todo lugar que nos fazemos presente.
A opção pelo pobre é luta para que cada uma e cada um seja visto como obra do amor Criativo de Deus que se faz presente, por isso nosso olhar da realidade é o encontro com a realidade das pessoas.