O Seminário teve início com uma acolhida feita por alguns bispos referenciais em cuja fala inicial prenuncia o anseio pela articulação entre fé e vida a serviço do Reino, na busca de uma sociedade justa e solidária, por meio do encantamento com a boa política
Por: Denilson Mariano da Silva
Dom Giovane Pereira de Melo, citando Dom Walmor, lembrou que o tema deste seminário: “Encantar a Política” visa reunir pessoas e buscar meios para esse mutirão em defesa da vida e da democracia conforme já sustentado nos documentos do Magistério do Papa Francisco;
Dom Gabriel Marhesi manifestou a importância do diálogo para aprofundar as temáticas do momento político e social que vivemos, para que possamos ajudar o país numa reflexão pacífica;
Dom Roberto Francisco lembrou que estamos numa encruzilhada da história e que não sabemos o que virá. O Papa Francisco acena para a reconstrução do mundo por meio da “melhor política” e que é necessário, defender a democracia e não “cair no canto da sereia”;
Dom José Mário, reforçou a necessidade de interpretar os “Sinais dos Tempos” que vivemos. A crise da pandemia e a guerra envolvem o mundo todo. Jesus nos desafia a ser “sal e luz” diante dos novos desafios, na busca de uma sociedade justa e solidária;
Dom Francisco que nosso país seja bem governado para o bem do povo brasileiro;
Dom Walmor de Oliveira (em vídeo mensagem enviada), precisamos firmar nosso compromisso, nosso dever cristão, diante das graves crises éticas e morais e não perder a esperança, inclusive no mundo da política. E isso exigirá vigor e participação de cada um/a, de modo coerente com o Evangelho para “Encantar a política”. Neste ano eleitoral, não agir com indiferença, mas ajudar a definir o voto para uma sociedade justa e solidária e rogou a bênção sobre todos os participantes e atividades a serem desenvolvidas neste seminário.
“O Caminho é este, é por aqui que vocês devem ir”
A oração de abertura foi motivada a partir da canção “Ruah”, composta pelo missionário verbita, Cireneu Kuhn, após o falecimento de Dom Pedro Casaldáliga e pelo Evangelho do dia (Mt 14,22-36), ela foi conduzida por Pe. Paulo Adolfo, do CEFEP, destacando que quando estamos perto de Jesus não temos medo e que precisamos manter viva a chama da esperança: “esperançar…” e para isso é preciso “encantar a política”.
Após a oração inicial seguiu-se a apresentação rápida de cada um dos presentes e passou-se a um breve testemunho do Laudelino, como leigo cristão, destacando o que o levou a abraçar a ação política e até a assumir um cargo político.
Ele enfatizou a insistência de alguns documentos do Magistério no tocante à participação política ativa: Os cristãos como cidadãos do mundo têm uma missão irrenunciável no mundo da política porque aí se realiza o Reino de Deus (cf. Doc. CNBB, Catequese Renovada, n. 300); Para animar cristamente a ordem temporal de servir e pensar a sociedade os fiéis leigos não podem abdicar de sua missão na política… (cf. Christifidelis Laici, nº 42); Os católicos versados em política, alicerçados na fé cristã, não recusem cargos públicos… abram caminho para o Evangelho (cf. Apostolicam Actuositatem, nº 14); E ainda citou Bento XI no tocante à necessidade de explicitar a ligação entre o mistério eucarístico e a justiça social e que, só da eucaristia brotará a civilização do amor (cf. Sacramentum Caritatis). Por fim enfatizou que o projeto “Encantar a Política” é baseado nas Escrituras e no Magistério Eclesiástico. E finalizou com o destaque para o lema da 40ª Assembleia Nacional do Laicato: “O Caminho é este, é por aqui que vocês devem ir” (Is 30,21), mas que é preciso ter cuidado com o fermento dos fariseus e dos Herodes, conforme recomendado por Jesus.
Crise pela mudança de época
Depois deste momento inicial de falas, oração, apresentação e testemunho, a palavra foi passada a Chico Botelho, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) para ajudar os presentes a tomar pé da realidade atual por meio de uma análise de conjuntura.
Destacou que a realidade é complexa, o que não significa que seja complicada, mas indica que todas as partes interagem entre si e com o meio, ou seja, “tudo está interligado”. Ele se propôs a fazer um “recorte” no amplo contexto para dedicar-se a dois eixos: o que acontece no mundo também se configura no Brasil? e Eleições 2022.
Sinalizou que as tendências internacionais apontam uma mudança de época, algo estrutural e profundo. O mundo forjado no pós II Guerra Mundial, caracterizado por forças bipolares (EUA e URSS) entrou em crise. A ascensão da China rouba a hegemonia Americana, a guerra na Ucrânia sinaliza para mundo multipolar. Isso se verifica ainda pela crise ambiental sem precedentes; o aquecimento global; a crise da globalização da economia, pelo retorno à economia nacionalista; pela política neoliberal que defende estado mínimo e faz aumentar as desigualdades sociais; por sua vez, a crise da financeirização que transfere as riquezas do setor produtivo para os bancos, uma “economia de papel” fictícia, frágil, resultando que muitos países não conseguem sair da crise e aumentam as desigualdades, a migração, a fome, o desemprego e a precarização das relações de trabalho.
Outro indicativo são os fenômenos emergentes do nazifacismo, uma onda de extrema direita mundial que começaram a ganhar as eleições em várias partes do planeta. Verdadeiro projeto de destruição dos oponentes verificados a partir de 2014 nas eleições da Áustria, na Alemanha, na França, com políticas de ódio, de divisão e contrários à migração. Essa onda começou a ser contida a partir da pandemia, (frente ao negacionismo à ciência). É o que se verifica em países como Espanha, Portugal, Alemanha, França, Chile, México, Peru e Colômbia. Os processos eleitorais apontam para o crescimento de outra esquerda, não tão radical.
Há uma crise de projetos e diante destas sombras, o Papa Francisco, com suas ações e Encíclicas, vêm tocando os principais problemas: crise ambiental, migração, caminho para a paz no mundo, uma nova economia (de Francisco e Clara) e um novo pacto educativo global. O Papa Francisco revela uma presença decisiva para o mundo neste tempo de crise.
Brasil e Eleições 2022
O cenário mundial se reflete em nosso Brasil. Estamos diante de uma crise econômica e social profundas, sem precedentes, com aumento da inflação, dos combustíveis, da fome, dos moradores de rua, que atingem sobretudo os setores mais pobres. Crescimento do emprego informal, queda da renda real e do poder aquisitivo do salário mínimo. E se pode dizer na situação do país: “há um Paraná inteiro de desempregados e uma Minas Gerais inteira de famintos”. Por outro lado, cresce a violência em geral e a violência político/eleitoral, que vai desde os assassinatos a ameaças de todas as formas. Como ponto positivo vemos aflorar os Movimentos Sociais, de estudantes, os coletivos de hip hop, funk, Movimento de Mulheres, Movimentos LGBTQI+, Movimento Negro, Movimento Indígena, Movimento dos Sem-Terra e Sem-Teto.
Por sua vez o cenário eleitoral parece consolidar-se em duas frentes: uma de Centro-Esquerda e outra de Extrema Direita. Não existem perspectivas reais para uma 3ª Via. Isso aponta para uma clara divisão da sociedade e cheia de incertezas. Grupos extremamente autoritários, com utilização do fundamentalismo religioso sob um moralismo conservador e carregado de hipocrisia, como a “marcha para Jesus” com ícone de um enorme revólver na passeata. Outro fator, a ameaça constante de golpe sinalizado nos ataques à democracia, e às urnas eletrônicas, como claro elemento de não reconhecimento dos resultados eleitorais. O resultado disso vai depender muito da reação dos militares diante dos acontecimentos eleitorais.
Vale ressaltar o posicionamento contrário dos EUA que não apoiam o golpe e os ataques à democracia no Brasil. Também o manifesto democrático da USP assinado por mais de 700 mil pessoas. O processo de eleição no Brasil tem que ser repensado não como defesa dos nossos direitos, mas como processo de renovação, de eleição de parlamentares que façam a diferença e não do tipo atual que retiram os direitos do povo votam leis de favorecem o armamento da população. Depois de sua fala, surgiram vários posicionamentos e questões, retomados por Chico Botelho. Ele finalizou ressaltando que sua análise não brota de uma ideologia, mas se fundamenta em dados reais, do Branco Central, de informações do Estado Nacional e de analistas sérios que comparam as várias pesquisas de intenção de voto para chegar a um parecer mais técnico e confiável que indique a tendência atual. E sinalizou que os fenômenos que se repetem em várias partes do mundo nos ajudam a entender a realidade e que precisamos buscar boas fontes, fontes confiáveis e encontrar meios de descobrir os sites e redes sociais que divulgam fake news, há ferramentas para isso.