A Escritura diz

Neste mês de setembro a Igreja celebra o mês da Bíblia. É uma boa ocasião para nos perguntarmos: Existe uma maneira católica de ler a Bíblia? Sim, para a Igreja a liturgia é o lugar privilegiado da proclamação da Palavra. Na Eucaristia Cristo está realmente presente nas duas mesas, a da Palavra e a do Pão e do Vinho.

Por: Dom Sérgio Eduardo Castriani

Nas Igrejas, ao lado do altar temos o ambão que de acordo com as normas litúrgicas tem a mesma dignidade. Esta forma de ler e proclamar a Palavra mostra claramente que a leitura bíblica é antes de tudo um ato eclesial, isto é, da Igreja e que a leitura individual embora importante e fundamental está num outro plano.

A Igreja tem um ciclo de leituras na liturgia diária e na dominical. Num ciclo de três anos quem for a missa todos os domingos escutará praticamente a Bíblia inteira. O mesmo na liturgia diária, só que neste caso num ciclo de dois anos.

É significativo que na liturgia não é o celebrante que escolhe as leituras a serem proclamadas mas é a Igreja, evitando assim toda a tentação de manipulação do texto sagrado e de certa forma forçando os que fazem homilia a descobrir através do estudo e da meditação o que Deus quis e quer falar para o seu povo, numa busca constante e comunitária da vontade de Deus que se revelou na história e de maneira definitiva em Jesus Cristo.

Uma característica da leitura bíblica na Igreja católica é que ela sempre leva em conta que o texto tem um contexto. Nenhum texto bíblico existe isolado. Ele foi escrito num contexto histórico e cultural. O texto é de origem divina mas também é humano. Daí a necessidade dos estudos bíblicos, do conhecimento das línguas nas quais a bíblia foi escrita, dos contextos geográficos, políticos e sociais em que a revelação se deu.

Mas também é preciso conhecer o contexto em que a bíblia está sendo lida. A revelação de Deus continua, muito embora a Igreja considera normativa a revelação contida nos livros canônicos, que aliás foram assim definidos pela Igreja. A Igreja existe antes das Escrituras neo testamentárias que foram escritas pelas primeiras comunidades.

No Brasil temos a experiência da leitura da Bíblia a partir da vida, quando se procura tirar as consequências práticas da palavra lida e meditada. Uma outra maneira de ler a bíblia, sempre presente na história da Igreja é a arte que brota das Sagradas Escrituras. Nas grandes catedrais através dos vitrais, mas também nos ícones e imagens, na música sacra, no teatro e no cinema, a palavra de Deus se torna arte e se propaga através do belo.

 Há sempre o perigo da manipulação da Palavra. Por isto a Igreja católica, mesmo incentivando a leitura pessoal das Sagradas Escrituras lembra que existem critérios de leitura que a experiência eclesial foi solidificando através dos séculos e que se constitui no magistério e na tradição eclesial. Ter o texto sagrado como único critério de revelação e de fé tem sido caminho de encontro com Deus para milhões de pessoas. Mesmo assim a Igreja conserva a sua tradição, consciente dos frutos de salvação que esta tradição e jeito de ser produziu na sua história já longa e provada.

Dom Sérgio Eduardo Castriani bispo emérito da Arquidiocese de Manaus

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