Abolição da Escravatura e Nossa Senhora

No dia 13 de maio de 1888, em um domingo no Rio de Janeiro, capital do Brasil é promulgada pela princesa Isabel a Lei Áurea, que dava a abolição da escravatura a todas as pessoas em situação de escravidão.

Por: Daniel Lopes Barbosa

A capital foi tomada por um ambiente de exaltação. A escravidão existia no Brasil desde 1535, com a chegada dos primeiros africanos a salvador, no total foram 353 anos de sofrimento. Os negros vieram ao Brasil principalmente de Angola e Moçambique, as condições de escravidão eram as piores possíveis.

Após a sua captura na África, enfrentavam uma perigosa travessura nos porões dos navios negreiros, onde muitos morriam antes mesmo de chegar ao destino. Após vendidos, trabalhavam de sol a sol, com uma alimentação de péssima qualidade e os castigos eram dolorosos.

A maioria das pessoas escravizadas vinha da África já batizadas e era suposto que abraçassem a fé católica. Por isso eram proibidos de professar sua fé ou de realizar suas festas e rituais de tradições africanas. Em 1496, os frades dominicanos fundaram em Portugal as primeiras irmandades de Pretos, no Brasil elas chegaram em 1552, por meio dos padres jesuítas, com o objetivo de converter os escravos africanos, através da devoção aos santos negros, entre eles, São Benedito.

É sempre nos momentos mais difíceis, quando a vida dura da escravidão se torna insuportável que a figura de Maria se sobressai como mãe poderosa e intercessora, diante das angústias, do sofrimento, que as pessoas se apegam e buscam uma força extra, em Nossa Senhora, é como se ela carregasse para si todos os problemas.

A lenda sobre o surgimento de Nossa Senhora do Rosário virou de cabeça para baixo a sociedade colonial, os negros se tornam poderosos porque são os preferidos de Nossa Senhora, no contexto cruel que viviam essa inversão de papeis era notável. A lenda diz que Nossa Senhora surgiu de repente sobre o mar, os índios foram chamá-la e ela os ignorou, os brancos vestindo roupas novas, foram a praia levando padres e banda de música, a Santa nem se mexeu.

Só então permitiram que os escravos tentassem, na beira do mar de pés descalços, eles bateram os tambores tão forte que comoveram a mãe de Deus e ela veio a Terra, ninguém sabe quando essa lenda surgiu, mas Nossa Senhora do Rosário tornou-se a padroeira dos escravos.

A festa mais antiga foi realizada em Olinda (PE) em 1645, e essa devoção, fruto de um longo processo de enculturação da fé, só aumentou. Em todo o Brasil foram criadas Ordens do Rosário dos Pretos e confrarias religiosas fundadas pelos escravos cristianizados.

O culto a Nossa Senhora tornou-se um fenômeno religioso, entre os negros, tudo o que ocorria de bom era atribuído a ela. Maria aparece no imaginário popular como uma santa poderosa e ao mesmo tempo bondosa, que intercede por nós, ela que ouve os clamores do povo que vem em seu socorro.

Outro fator que marca definitivamente a devoção e a fé dos escravos é o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida em 1717, por pescadores, a população negra se viu representada pela imagem e isso fez com que a devoção fosse ainda maior, a devoção a Nossa Senhora é também uma forma de inclusão. Em 22/08/1822, D. Pedro I, príncipe regente, rezou diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida e lhe consagrou o Brasil.

Em 1868, a Princesa Isabel ofereceu-lhe um manto, em 1884 ofereceu-lhe a coroa de ouro cravejada de diamantes.

Não existem normas, regras para a devoção popular, o povo roga a Nossa Senhora por sua proteção, a invocação da figura protetora e amorosa da mãe, provoca uma onda de encorajamento, a Virgem Maria que nunca nos abandona.

Outra constante na imaginação religiosa popular é que Nossa Senhora permanece intercessora entre o céu e a terra.

Em alguns locais após o 13 de maio, a evangelização não conseguiu penetrar a cultura com maior profundidade, por causa das distancias, ou da resistência oferecida. Nesse caso assumem-se as formas católicas, mas conservado o conteúdo das religiões populares, com danças, ritos sagrados, e as tradições ancestrais como a língua, surgindo assim o sincretismo religioso.

 Surgem então várias irmandades religiosas como a de Nossa Senhora do Rosário, a de São Benedito e dos homens Pretos, os membros dessas irmandades procuram auxiliar os demais membros, e a manter a fé e a devoção em Nossa Senhora.

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