Escolha a Vida (Dt 30,19)

Na nossa vida sempre nos deparamos com dois caminhos e uma escolha! Por qual caminho seguir? É uma dúvida constante na escolha da profissão, na vocação, em quem votar, etc e por isso, sempre se faz necessário um longo processo de discernimento até o momento da decisão.

Por:  Celia Soares de Sousa

A Palavra de Deus relata a experiência do povo que também se colocou diante de dois caminhos. Veja em Deuteronômio 30,15: “Veja! Hoje eu estou colocando diante de você vida e felicidade, morte e desgraça”.

A história da existência do ser humano é enraizada na busca da felicidade, porém a felicidade que outrora foi apresentada pelo próprio Deus é o “amor a Ele e seus mandamentos” (cf. Dt 30, 16). As consequências de seguir ao Deus da vida, observando seus mandamentos é a benção para a entrada na terra, ou seja, na propriedade para cultivar a vida da família o seu meio de vida e a vida da comunidade, conforme o relato bíblico. O Deus do Êxodo é uma divindade sensível ao sofrimento do povo oprimido, que escuta sua voz: “Javé disse: ‘Estou vendo muito bem a aflição do meu povo que está no Egito.

Ouvi seu clamor diante dos opressores, pois tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-lo do poder dos egípcios” (Ex 3,7-8ª). (Cf. CBV 2020, A lei a favor da vida? Entendendo o Deuteronômio). Há, porém, sérias e graves consequências quando, conscientemente, “seu coração se desviar e você não obedecer, se você deixar se seduzir e passar a adorar outros deuses, eu hoje lhe declaro: vocês desaparecerão completamente! ” (Dt 30,17-18).

Para esse povo e ainda hoje, Deus nos chama a fazer uma clara e opção radical pela Vida. Ainda hoje são gravíssimas as consequências com o descaso pela vida da pessoa e de toda a criação de Deus. O Papa Francisco tem alertado a toda a Igreja sobre a necessidade da cultura da ternura e do encontro, e contra a globalização da indiferença e do descarte, com a opção pelos jovens e uma especial atenção para suas alegrias e preocupações, com o cuidado com a Casa comum, com a Querida Amazônia, sofrendo com as queimadas, desmatamento e outros interesses que cegam os governantes em busca de lucro e poder. E mais recentemente, O Santo Padre Francisco convoca toda a Igreja para a Fraternidade e para a Paz Universal.

Em sua Exortação apostólica sobre o Anúncio do Evangelho no mundo atual – a Evangelli Gaudium (Alegria do Evangelho), o Papa exorta os cristãos a serem Evangelizadores com Espírito, cristãos atuantes no Movimento de Jesus: “ O próprio Jesus é o modelo desta opção evangelizadora que nos introduz no coração do povo. Como nos faz bem vê-Lo perto de todos! Se falava com alguém, fitava os seus olhos com uma profunda solicitude cheia de amor: «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc 10, 21). (EG, n. 269).  E continua: “Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente e vivemos a intensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo.” (EG, n.270).

Na Fratelli Tutti Francisco faz uma denúncia profética que afeta a todos nós: “Nesta luta de interesses que nos coloca a todos contra todos, onde vencer se torna sinônimo de destruir, como se pode levantar a cabeça para reconhecer o vizinho ou ficar ao lado de quem está caído na estrada? Hoje, um projeto com grandes objetivos para o desenvolvimento de toda a humanidade soa como um delírio. Aumentam as distâncias entre nós, e a dura e lenta marcha rumo a um mundo unido e mais justo sofre um novo e drástico revés.” (FT, n. 17) e acrescenta: “Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos.” (FT, n. 18).

Deixemo-nos guiar por este chamado de fraternidade e de paz, irmanados, nos lancemos juntamente com as pastorais, equipes e organismos eclesiais e sociais para ações que remetam ao cuidado, especialmente, com os mais vulneráveis da sociedade, aqueles a quem Maria chamou de humilhados em seu Cântico do Magnificat. Nosso Deus é o Deus da vida, é preciso que tenhamos coragem de anunciar esta face de Deus, que protagoniza, na história, uma novidade, a partir da encarnação de Jesus.

Ele que veio para nos mostrar que escolher a Vida é não manipular Deus, mas é “ouvir, meditar e colocar em prática a Palavra de Deus”, e não manipular Seus desejos (o de Deus), Seus projetos para um projeto social, político, econômico ou religioso que promove a morte, com preconceitos, divisões, corrupção, mentiras e destruição da pessoa e dos seus direitos. Logo mais iremos às urnas para escolher representantes do poder político municipal. É preciso fazer uma escolha. Escolha, pois a Vida! Vote consciente! Outras informações na Cartilha 2020 da CNBB no aplicativo da Diocese. Reflita com seus grupos.

Celia Soares de SousaCristã leiga, teóloga

Artigo publicado na Folha Diocesana de Guarulhos – Nov/2020.

plugins premium WordPress