Escutar é sempre mais que ouvir!

Por: Pe. Reuberson Ferreira

O Papa Francisco, em uma de suas exortações intitulada Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), afirmou que escutar é sempre mais que ouvir (EG,171). Trata-se de uma capacidade intrínseca do coração que possibilita a proximidade, o contato íntimo com o mundo, consigo e com o outro. Nesse sentido, nestes últimos tempos, tão diferentes pela pandemia que vivemos, é sempre oportuno o exercício da escuta.

Um primeiro movimento de escuta que devemos e podemos fazer é escutar o mundo. Não é possível passar incólume por esta pandemia sem escutarmos o apelo gritante que o mundo faz. A pandemia mostra-nos que estamos todos interligados que as dores e os sofrimentos sentidos em locais longínquos, diametralmente opostos ao nosso, são também parte de cada um de nós. Assim, um vírus que desponta na Ásia é também um vírus nosso; A fome que uma criança passa na África é nossa fome, também. As queimadas que ocorrem na Amazônia são também queimadas no nosso mundo. Devemos assim, escutar o mundo e pulverizar para todos os cantos um sentimento de empatia.

Uma segunda escuta, nestes tempos, deve ser aquela feita a partir de nós mesmos. O frenesi da vida, a luta pela sobrevivência, a disputa por recursos particulares tão necessários para vida, mas que são avolumadas por um consumismo que nós mesmos nutrimos, revelam o quão pouco nos ouvimos. Somos, não raros, movidos por propagandas e não escutamos as nossas reais necessidades. Assim, quando a pandemia nos aponta que podemos viver uma vida mais simples (não quer dizer sem conforto), deveríamos ouvir esse apelo e, quem sabe viver de maneira mais parcimoniosa. Evitar aquele verme da ostentação, do aparentar estar melhor do que o outro, muitas vezes a expensas de sofrimentos e desgaste desnecessários e da exploração de outras pessoas.

Por fim, um movimento necessário de escuta é aquele que escuta o outro. Como afirma o Papa, escutar é uma capacidade intrínseca do coração, desperta empatia. Somos chamados a ouvir as outras pessoas. Em nossos tempos, nunca como antes, mecanismos que amplificam o falar são produzidos. Falamos superlativamente. No entanto, devemos também ouvir. Ouvir aqueles que experimentam dores atrozes na solidão de suas casas e sermos quem sabe presença; ouvirmos os gritos abafados de mulheres que são maculadas em sua dignidade e, empaticamente, nos opormos a todo tipo de violência. Ouvirmos ciosos o grito das pessoas que passam fome pelas ruas e bradarmos uníssonas que ninguém merece a fome e a dor que ela causa. 

Somos chamados, igualmente, a ouvirmos o totalmente Outro, Deus. Na confissão de fé católica, Jesus é a palavra de Deus que veio ao mundo para ser escutada, seguida e vivida. Assim, seria momento de ouvi-lo com mais atenção. Recobra a força e a eloquência de seu projeto e, quem sabe, colocá-lo em curso. Entendendo que ele sempre apontou para essa sinergia entre a humanidade e o cosmo. Sempre alertou sobre o cuidado de Deus para com cada criatura em particular para as dores sentidas por toda humanidade.

Oxalá a capacidade de escuta se avolume em nossa história. Que escutemos empaticamente os apelos de Deus, do mundo, do outro e de nós mesmos!

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