Não falte na vida possibilidades para amar e perdoar.

À luz dos ensinamentos de Jesus, aprendemos que entre perdoar e curar existe uma linha muito tênue que se revela no gesto misericordioso do amor de nosso Deus. Nosso Pai, rico em misericórdia, restaura a nossa vida, cura e nos recria a cada instante porque ama e perdoa.

Por: Pe Paulo Gil

Perdão, um caminho de reconciliação.

Jesus nos ensina que o perdão é uma lição para a vida toda. É uma atitude em favor da paz interior, um compromisso que liberta… Um caminho de conversão em vista da reconciliação. É certo que toda pessoa quer ser respeitada, valorizada e acolhida em seu contexto familiar e social.

O ser humano busca viver e conviver em harmonia, mas nem sempre isso é possível. São muitas as situações que colocam em risco a interação e integração entre os membros de uma família ou de um grupo de pessoas, em ambiente social ou profissional.

A sociedade atual, demasiadamente vulnerável, sofre com a fragmentação da vida, dos laços afetivos e vínculos que mantêm as relações humanas.  Diante de uma falta cometida, ou até mesmo do pecado, a pessoa que deseja ser perdoada ou dar seu perdão, inicia um processo de reconciliação com passos para o perdão e a cura. A reconciliação traz de volta a cada um de nós o dom da harmonia e da paz aos corações.

À luz dos ensinamentos de Jesus, aprendemos que entre perdoar e curar existe uma linha muito tênue que se revela no gesto misericordioso do amor de nosso Deus. Nosso Pai, rico em misericórdia, restaura a nossa vida, cura e nos recria a cada instante porque ama e perdoa. Como um pai que ama, Ele espera que seus filhos e filhas, aprendam com seu modo de agir.

 As palavras de Jesus na oração do Pai Nosso, “Perdoa… como nós perdoamos…” (cf Mt 6,12), indicam, não somente a quantidade de vezes, mas a intensidade do amor que devemos experimentar na prática do perdão. Perdoar é obra de misericórdia e tem um efeito terapêutico: ele cura no amor e para o amor. Revigora e enche de alegria a nossa vida; o perdão é um gesto libertador.

Para quem tem um coração ferido, que sofre, Ele propõe o perdão como resgate para uma vida que ganha um novo sentido. Além da dor física, o ser humano sofre com as relações fragmentadas, com divisões e exclusões, com os sentimentos de culpa, impotência, desampado, medo, fraqueza emocional e espiritual. A reconciliação, na busca da interação entre fé e vida, potencializa a saúde espiritual gerando equilíbrio interior e sinais de comunhão.

É urgente darmos passos para romper as barreiras que nos impedem de perdoar, curar as feridas não cicatrizadas, eliminar as mágoas e traumas paralisantes em nós.

Dê voz aos seus sentimentos e se empenhe no processo de construção da vida e do perdão.

É necessário saber ler os acontecimentos da vida e sentir a vida como ela está. Como anda o seu crescimento humano, emocional e espiritual? Essa pergunta deverá nos acompanhar, diuturnamente. Por ela, nos guiamos no tempo, compreendendo as buscas e descobertas que favorecerão as relações.

Toda relação humana se dá num determinado contexto e ambiente, seja ele, familiar, profissional ou social. Reconhecer o seu espaço, seus limites, físicos ou emocionais, é fundamental para a construção de uma relação saudável e possível entre as pessoas.

Reconhecer seu espaço, seus limites e caminhos de interação e integração, requer abertura às possíveis mudanças, em vista de uma vida mais harmoniosa e feliz.

Para dar voz aos sentimentos é importante saber responder à pergunta: de onde vem a voz que não quer se calar? Os sentimentos precisam ser comunicados, não podem ser abafados ou negados. Os sentimentos devem traduzir o que se quer falar. Mas, é preciso ter muito cuidado! Sentimentos que não são bons, raiva, medo, hostilidade, ciúmes, culpa, desejo de vingança, dentre outros, podem gerar um sofrimento altamente destrutivo. Já os sentimentos bons, alegria, amor, gratidão, esperança, e outros, trazem de volta a saúde emocional, psíquica, espiritual e até física.

Dar voz aos sentimentos significa se empenhar na construção da vida. Para isso, é recomendável muita determinação, perseverança, dedicação, disciplina para resgatar a autoestima, o autoconhecimento e o autocontrole.

Estamos em construção! É bem verdade que nascemos inteiros, mas construímos a vida, como um grande aprendizado. Cabe se perguntar: O que já está bem edificado em minha vida? O que ainda me falta? Depende de quê? De quem? Uma auto avaliação, consciente e livre, ajuda nessa longa jornada da vida.

 Assim como a construção da vida, o perdão também é um processo. É o resgate da paz interior… Caminho para uma vida que ganha um novo sentido.

A reconciliação potencializa a saúde espiritual gerando equilíbrio interior e sinais de comunhão.

Alcançar a compreensão do que buscamos fazer, do que queremos fazer e do que podemos fazer e estabelecer conexões com nossos sentimentos não é algo fácil e nem tão rápido assim… É um processo complexo e requer paciência e persistência.

Para alguns, esse mecanismo pode ser devastador. Para muitos, esse processo pode durar a vida inteira. É necessário reconhecer a nossa responsabilidade na participação dos problemas e na autoria da história que nós mesmos elaboramos, por vezes gerando sofrimento.

Existe um risco eminente diante dos olhos: rejeitar ou não reconhecer nossa responsabilidade nos acontecimentos de nossa própria história. É difícil aceitar que somos nós que procuramos o que nos faz sofrer ou permitimos que nos façam sofrer. É necessário assumir a responsabilidade e o nosso pertencimento ao fato (história).

A dor é nossa – é de cada um… Nossas escolhas nos escolhem. Enfrentar essa verdade significa entrar em contato com o sofrimento, dores, insultos, injustiças…, sem viver tentando culpar alguém por isso. Também não é saudável tentar simular a solução do problema para simplesmente agradar o outro; isso é uma autossabotagem.

O essencial para a mudança e solução do problema para a celebração do perdão é o comprometimento com um processo terapêutico em nossa vida em vista da cura, da libertação. A paz interior deverá ser, portanto, a meta nesse caminho de volta. Volta ao essencial… Volta ao mais original de nós mesmos.

O bom gerenciamento das emoções, tanto dos sentimentos negativos e destrutivos, como dos sentimentos bons, favorece a preservação da integridade, do sentido da vida e da socialização. Com o equilíbrio das emoções é possível ficar atento para uma possível prevenção e mediação de conflitos.

É bom ficar de olho no ciclo repetitivo: pensamentos e emoções que nos enredam em nossos problemas; nas buscas aleatórias que não despertam para um compromisso sério de mudanças; na literatura de autoajuda que apresenta soluções simplistas.

Que tal investir: no caminho para a sensibilidade e a responsabilidade sobre sua saúde física, emocional e espiritual; na humildade de reconhecer que é impossível conhecer alguém totalmente e de aceitar suas fraquezas e defeitos… Não estamos imunes às imperfeições que identificamos nos outros, nas escolhas da vida. Cuide para que elas não estejam baseadas na repetição eterna dos mesmos erros.

Pois bem, perdoar pode ser extremamente difícil, mas acompanhado de amor é essencial para a vida cristã. A reconciliação potencializa a saúde espiritual, tão necessária para vida de verdadeira comunhão.

Estamos todos de mãos e pés na mesma história e missão, reconciliemo-nos!                             

Padre Paulo Cesar Gil é Presbítero da Arquidiocese de São Paulo. Pedagogo com Especialização em Psicopedagogia, Terapeuta Familiar Sistêmico, Coordenador do Projeto Terapia do Perdão – Cordis, Membro da Rede Lumen de Catequese, Assessor da Animação Bíblico Catequética para o Regional Sul 1 – CNBB e para Arquidiocese de São Paulo, Professor, Escritor e Assessor nas áreas de Pastoral, Catequese e Família.

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