Quem ganha com as críticas a campanha da fraternidade ecumênica 2021

Críticas não são gratuitas. Elas atingem um objetivo. Têm uma finalidade. Servem a um propósito. São, portanto, alimentadas por ideias, por ideologias.

Por: Pe. Reuberson Ferreira

A mesma sorte padecem as críticas recentemente desfraldadas contra a campanha da fraternidade.  Elas gozam de um objetivo, toam a uma finalidade, primam por um propósito, submetem-se a uma ideologia. O problema, não é a ideologia em si, mas quem ela serve e quem ganha a partir dela.

As críticas a Campanha da Fraternidade, num amplo espectro, dirigem-se ora ao seu escopo ecumênico, mormente a figura da secretária do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, a pastora Romi Bencke; ora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Tanto a um quanto a outro, nota-se nos algozes, o desejo de desacreditá-los.

Miná-los moralmente. Bem mais do que criticar aquilo que o texto base apresenta – que muitos nem leram ou se fizeram, foi superficialmente – a ideia é apontar um modelo de Igreja averso ao ecumenismo e incapaz de se posicionar publicamente. A Igreja, embora de inspiração divina, não é alheia as vicissitudes do seu tempo, não pode ser indiferente as dores e aos sofrimentos do seu povo, às angústias e às consternações da humanidade.

Nesse sentido, ao criticar-se a modalidade ecumênica da campanha da fraternidade, particularmente a Pastora Romi Bencke acusando-a de feminista e, ao mesmo tempo, o texto base de defensor de pautas contrárias a moral católica não se quer apenas ferir a campanha, tampouco a pastora. Usa-se de uma pauta de defesa de costumes para macular a possiblidade de uma pacífica, respeitosa e dialógica convivência com as outras tradições religiosas.  Servem-se dessa pauta para reafirmar um papel que o catolicismo há muito já perdeu – se um dia teve – na história nacional de que ele foi único capaz de forjar o substrato da nação.

 Diante das queixas a uma campanha ecumênica, quereria que imaginássemos, hipoteticamente o Brasil como um país no qual os católicos fossem minoria. Penso que se oprimidos, talvez acuados, gostaríamos de sermos ouvidos, respeitados, acolhidos. Talvez não teríamos a pretensão de fazer proselitismos, mas gostaríamos ao menos que nossa profissão de fé fosse respeitada.

Sinceramente, quereríamos dialogar com as outras tradições a fim de mostrar que o projeto de Jesus Cristo – a quem nós seguimos – seria capaz de contribuir para um mundo mais fraterno. Assim, alguns negam a proposta do diálogo numa campanha da fraternidade ecumênica, porque ainda iludem-se que somos uma religião da totalidade(ou da maioria) e nos bastamos a nós mesmos.

No outro polo das críticas residem aquelas dirigidas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Instituição cinquentenária fundada sob a inspiração de Helder Camara a fim de congregar os bispos do Brasil, que na década de cinquenta, padeciam de um certo isolamento e de dificuldades para resolver problemas que eram comuns a todos os prelados.

A CNBB, sabe-se historicamente não foi homogênea e tampouco será. Contudo, em momentos cruciais da história foi voz forte na defesa da população civil, o que inclui muitos católicos. Recordemos   a voz profética de membros dessa instituição quando da denúncia das torturas do período militar ou a dissonante   colaboração para a reabertura democrática nos anos finais da década de oitenta. A CNBB, portanto, é uma instituição e por ser assim tem(teve) força de falar por muitos em tempos amargos.

As críticas recentes a ela deferida, mormente pela promoção da Campanha da Fraternidade, tem no substrato o interesse de enfraquecê-la, depauperá-la.  Num país onde todas as instituições são frágeis e sem força de mobilização, abre-se um vantajoso caminho para a assunção de regimes ditatoriais, autócratas, pois eles não encontrarão uma voz íntegra que seja capaz de a eles se oporem. As maiores atrocidades poderiam ser praticadas, pois clamores individuais são inaudíveis pela grande maioria ou pelos despoticamente instalados no poder.

Imaginemos num cenário quase dantesco – como em alguns países já aconteceu – que direitos individuais começassem a serem violados num estado de exceção. Comentários pululariam aqui e ali; denúncias seriam feitas a boca miúda. Mas será que indivíduos solitários seriam capazes de protagonizar queixas que sejam   tomadas em sério, sem perseguição alguma? Nesse ponto reside a força de instituições, para fazerem denúncias coletivas as quais sua tradição e seu contínuo posicionamento a podem respaldar, como    é o caso da CNBB.

Quem então ganhará com as críticas a Campanha da Fraternidade Ecumênica e a Conferência Nacional dos Bispo do Brasil, para além do jogo de marionetes que a plêiade de apaixonadas desenvolve nas redes sociais, serão os grandes estamentos que querem todas as instituições, incluso a CNBB, fragilizadas. Serão eles os que ganharão. As críticas a esta instituição que são mais apaixonadas do que técnicas, emprestam força a um projeto de desmobilização social, de enfraquecimento de coletivos, dado a uma postura de extremismos autoritários.

Não é Dom Adair quem ganha, tampouco é a CNBB que perde. Quem perde é toda população que soçobrará. Quem ganha, são os ideólogos dessas campanhas difamatórias que no fundo, querem ampliar a capilaridade do seu poder minando as instituições e abrindo espaço para um regime totalitário. Ganha é quem quer uma igreja aquartelada na sacristia, incapaz de incomodar-se com a dramática situação social que a humanidade vive, negando o desejo de vida plena para todos.

De igual modo, quem ganha com a oposição ao ecumenismo não é o Centro Dom Bosco, tampouco um tipo de catolicismo tradicionalista, fantoches de interesses maiores. Ganham aqueles que igualmente fundamentalistas galgam espaços, crescendo de acordo com as cifras estatística e associados ao poder instituído.

Estes esperam uma ascensão de uma religiosidade de corte fundamentalista da qual eles serão os paladinos. Assim, quiçá por vingança ou por modus operandi, imprimirem uma espécie de revide a postura intolerante praticada por católicos, como eles, aversos ao diálogo, ao respeito e ao acolhimento. Ou seja, quem perde é grande maioria dos católicos abertos a uma fé digna do evangelho. Quem ganha são aqueles que   trocando carícias com poderes despóticos buscam assumir posição de rechaço ao diferente. Nunca serão os jirardistas digitais, travestidos de católicos.

*Pe. Reuberson Ferreira, MSC é Doutorando em teologia e Pároco do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

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