Um olhar sobre o trabalho pastoral com as juventudes no contexto de pandemia

“Sei lá, ‘to com saudade de te encontrar
Me conta da tua janela
Me diz que o mundo não vai acabar
Eu fiz essa canção, amigo
Pro mundo inteiro se curar” (Ana Vitória
)

Por: Elenice Simões Mendes

A pandemia, que assolou o mundo neste ano, trouxe também novos desafios para o trabalho pastoral junto às juventudes. Todos os métodos, eventos e estratégias que até então eram nossos portos seguros, foram nos tirado do dia para noite.  Confusos/as, nos perguntávamos como ficariam nossas atividades sonhadas e preparadas com tanto carinho. Como ficariam nossos grupos e nossa juventude? O que poderíamos fazer para manter o ânimo das nossas bases?

A partir da vivência deste período de isolamento social e da escuta às juventudes presentes nos grupos de base e coordenações, podemos analisar algumas situações que foram configurando-se:

  • O uso das mídias sociais para favorecer o encontro e a continuidade dos trabalhos. Muitas iniciativas bacanas surgiram por este Brasil, com toda a criatividade própria da juventude. Ela ocupou as redes através de lives formativas, oração do Oficio Divino da Juventude, saraus; subsídios digitais foram produzidos para animar as reuniões dos grupos de base e estudos pessoais; festivais culturais, cursos online; retiros, gincanas e desafios ganharam sua versão virtual. Eventos como da Semana da Cidadania, Semana do Estudante e o Dia Nacional da Juventude (DNJ) ganharam novos formatos para este novo tempo. Eram ferramentas que já estavam à nossa disposição, mas que ainda não as usávamos em todo seu potencial.
  • Houve uma presença significativa de nossos/as jovens nas paróquias auxiliando na transmissão das missas e demais atividades da PASCOM.

Mesmo com esta geração super conectada e inserida no mundo digital, em muitas realidades não aconteceu a adesão que esperávamos para estas atividades virtuais devido a diversos fatores, tais como:

  • boa parte dos/as jovens são estudantes e ficaram sobrecarregados com as aulas online, o que impediu a muitos de acompanhar a programação oferecida pela pastoral;
  • a juventude que mora na zona rural ou bairros periféricos que tem acesso limitado à internet ou não tem nenhum acesso a ela;
  • uma parcela de jovens que entrou em depressão gerada pelo isolamento social com alteração de sua rotina, pelo desemprego e, até mesmo, pela violência doméstica;
  • os jovens que precisaram continuar trabalhando fora de casa, mesmo com a pandemia, para ajudar no orçamento familiar ou para manter seus estudos em um contexto econômico incerto;
  • desânimo de muitos/as justamente pela falta do contato físico com os/as amigos/as, pela falta do encontro presencial.

Diante destas e de tantas outras situações que se apresentam em nossas realidades, nós, que trabalhamos com a evangelização das juventudes, devemos nos atentar para algumas provocações que são colocadas:

  1. Precisamos repensar nossas metodologias, nossas linguagens; usando a palavra do momento, “reinventar” nossas práticas pastorais. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Christus Vivit”, no nº 230, nos alerta para buscar este novo “ritmo e metodologia, uma pastoral mais ampla e mais flexível”, que “inclua todos os tipos de jovens” (234).
  2. Estar atentos às novas formas de agrupamento juvenil, principalmente no mundo virtual. Este mesmo documento também indica o potencial das mídias sociais “como uma nova praça onde os jovens são facilmente encontrados […] representa um lugar irrenunciável para alcançar os jovens e envolvê-los em iniciativas e atividades pastorais” (87).
  3. Momento de retomar e intensificar o trabalho de base com as juventudes, “um trabalho para reunir e reanimar mais pessoas para que se interroguem e alimentam seu percurso de vida como ‘sujeitos de decisão’”.  Conforme análises de vários teólogos e pastoralistas, o trabalho pastoral acontecerá principalmente nos pequenos grupos, nas pequenas comunidades e que estas sejam comunidades de vida.
  4. A questão da desigualdade social, que está ainda mais acentuada, se reflete também na educação. De um lado, temos os/as jovens que estudam em escolas particulares e que dispõem de todo aparato tecnológico para continuar seus estudos e, do outro, os/as jovens estudantes que se encontram nas periferias, nas zonas rurais que não possuem o suporte necessário para continuarem seus estudos remotos. Estes últimos, mais uma vez, ficarão em desvantagem no mercado do trabalho e na disputa por vagas nas universidades. Será necessário que busquemos alternativas para auxiliar nestas situações de vulnerabilidade com redes de apoio e na luta pelas políticas públicas de inclusão.
  5. Devemos também nos dedicar ao serviço da escuta e do acolhimento, intensificando a mística do cuidado e a empatia com nossas lideranças, com a juventude presente em nossas bases e também aos demais agentes de pastoral. È hora de resgaste, de contatos pessoais, de iniciativas que incentivem, que animem, que reacendam a esperança nos corações e que nos ajudem a tirar desta pandemia lições para uma mudança no estilo de vida e de relações da humanidade. Será um tempo de missão, de assumir concretamente o apelo de Francisco de sermos uma Igreja em saída, que vai às periferias sociais e existenciais.

O Cardeal Tolentino nos diz que este “não é um tempo para sobrevivência. É tempo para sair da caixa, para sonhar”. Vamos sonhar juntos/as, caminhar juntos/as, erguer pontes entre as pessoas e grupos, discernindo aquilo que é inspiração de Deus para construirmos um tempo novo em que cada jovem se reconheça como sujeito e vislumbre novos horizontes.

(Elenice Simões Mendes, leiga, professora e assessora da PJ da Arquidiocese de Mariana).

Referências bibliográficas:

Exortação apostólica “Christus Vivit

OLIVEIRA, Sebastião Everton de. A retomada do trabalho de base com jovens [livro eletrônico].

SILVA, Roberta Agustinho da. A relação dos/as jovens com o trabalho em contexto da pandemia de covid 19: um desafio para a assessoria.

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