Cristãs leigas e cristãos leigos, corresponsáveis na evangelização

As cristãs leigas e os cristãos leigos, mulheres e homens em todas as fases da vida, constituem uma parte importantíssima da Igreja e possuem rostos próprios: “Como São Paulo, nós também queremos reconhecer os diferentes rostos dos cristãos leigos e leigas, irmãos e corresponsáveis na evangelização” (CNBB, DOC. 105, n.51).

Por: Marilza J L Schuina

Nesse sentido, devem ser escutados, pois trazem para a comunidade eclesial o olhar do mundo, a visão da sociedade. Esta foi a reflexão realizada em quatro LIVEs promovidas pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil. 

  1. Documento 105 Cristãos leigos e leigas na igreja e na sociedade – capítulo 1 com Marilza Schuina

(https://web.facebook.com/conselhodeleigos/videos/185305156140008/)

O documento 105 reafirma a identidade do cristão leigo e leiga como sujeito eclesial, recuperando o que o Documento de Aparecida tem reafirmado, ou seja, o cristão leigo e leiga atuante na Igreja e no mundo, mas sem essa dualidade entre igreja e mundo, tendo por base os documentos do Concílio Vaticano II e outros documentos do magistério. Através do cristão leigo e leiga a Igreja assume seu compromisso no mundo, em diálogo, como quem aprende e ensina, inserida e encarnada na realidade.

Ser sujeito eclesial, autêntico, coerente com a fé, testemunha de uma verdade que não está na doutrina, mas no encontro vivo com Jesus ressuscitado. É o cristão maduro na fé, plenamente incorporado à Igreja e ao seu mistério. Discernir a questão das leigas e dos leigos é falar de uma identidade cristã que recebemos no Batismo, diante de uma estrutura e espaços nem sempre abertos para acolher a vocação laical. Sim, pelo Batismo o cristão leigo recebe o múnus de ser sacerdote profeta e rei, sacerdotisa, profetiza e rainha (LG n. 31), de trabalhar pelo reino de Deus, numa realidade conflituosa, desafio que encontra obstáculos institucionais e precisamos trabalhar nessa perspectiva.

Numa dimensão pastoral, precisamos questionar o que estamos vivendo no momento atual, diante da pandemia e do quadro político que extrapolam diversos contextos e nos chama a entender, a partir do lugar de onde estamos para uma nova vida e um exercício de gesto solidário com quem estar em outros lugares.

Identidade e missão do laicato caminham juntas. O Batismo abre as portas para o sacerdócio comum dos fiéis, confiando a todos, sem distinção, a mesma dignidade de cristãos batizados (LG 31).

Para o laicato, “consagração do mundo” é o motor para o entendimento da sua identidade, consagrando o mundo a partir de dentro, orientando criação e humanidade para o Reino através de seu testemunho e vocação. “Um laicato mais voltado para o interno da vida eclesial não tem clareza da sua vocação, de sua missão.

Vivenciando a Igreja em sua totalidade, o cristão leigo/a alimenta a sua vida no mundo, pelos sacramentos, pela catequese, pela formação, pela espiritualidade, pela participação nas suas decisões…”. O laicato desenvolve por dentro das estruturas eclesiais função importante e vital. O laicato tem espaço importante no interno da Igreja, mas também nos espaços de decisão. Mas, se for só isso, não terá razão de ser a sua vocação.

Também na LG, o Concílio define que toda a Igreja é missionária e na Gaudium    et spes sinaliza uma Igreja para o mundo, cuja missão não pode prescindir dos leigos e leigas, numa dinâmica de serviço, buscando transformar esse mundo como continuadora da ação do Cristo e na prática do Reino, como testemunha, aprendendo, servindo, ensinando, “sentando-se à mesa, partindo o mesmo pão, acolhendo o diferente e vivendo com ele”.

O mesmo Concílio, no Decreto Apostolicam Actuositatem, “vai dizer que é um modelo de missão em que os leigos cooperam de modo único e insubstituível (AA n.1), é onde eles sinalizam e testemunham o Reino de Deus”. “A vocação própria dos leigos é administrar e ordenar as coisas temporais em busca do reino de Deus. Vivem, pois, no mundo, isto é, em todas as profissões e trabalhos, nas condições comuns da vida familiar e social, que constituem a trama da existência.

São aí chamados por Deus, como leigos, a viver segundo o espírito do Evangelho, como fermento de santificação no seio do mundo, brilhando em sua própria vida pelo testemunho da fé, da esperança e do amor, de maneira a manifestar Cristo a todos os homens. Compete-lhes, pois, de modo especial, iluminar e organizar as coisas temporais a que estão vinculados, para que elas se orientem por Cristo e se desenvolvam em louvor do Criador e do Redentor (LG n. 31b)”.

É no mundo que os cristãos leigos e leigas procuram e encontram Deus, “como homens e mulheres do tempo e da história e em culturas diversas, manifestam a presença de Cristo a todos e trazem na própria vida o testemunho de sua verdade”.

Na Evangelii Gaudium, o Papa Francisco reclama o papel de um “Igreja em saída”, especialmente os leigos e leigas (EG n. 110-121). O Documento 105 explicita esta atuação do laicato no mundo, no mundo da família, da política e das políticas públicas, no mundo do trabalho, da cultura e da educação, no mundo da comunicação, no cuidado com a Casa Comum e em outros campos de ação.

3. Papa Francisco e o Laicato com César Kuzma

(https://web.facebook.com/conselhodeleigos/videos/560165934674200/)

Em sua reflexão, Kuzma nos apresenta 04 pontos sobre a relação Papa Francisco e o Laicato:

  1. De onde estamos falando? Falamos como cristãos leigos e leigas ligados às comunidades, pastorais e ao mundo onde estamos e por conta dos avanços na sociologia, na filosofia, na pastoral encarnada o lugar de onde falamos tem muito a dizer e faz toda a diferença;
  2. É uma necessidade e traz uma frustração, pois já deveríamos ter avançado e depois de 55 anos, do Concílio Vaticano II, precisamos retomar essa temática que é a importância de se resgatar uma teologia para o laicato. Temos hoje uma retomada com o Papa Francisco, que é a eclesiologia Povo de Deus, todos somos Igreja e a forma como atuamos no mundo mostra nosso papel para a construção do Reino de Deus, cujo Batismo nos introduz na fé e nos traz compromissos e responsabilidades;
  3. A novidade que vem com o Papa Francisco e, naquela noite na praça de São Pedro, ao ser anunciado “habemus papam”, vem um pontífice que diz que vem do fim do mundo, que impulsiona a Igreja a um novo momento, para uma Igreja em Saída, como uma mãe de braços abertos, disposta a acolher todos e todas, o que se esbarra numa estrutura de Igreja que não quer sentir o frescor do Evangelho. Ele é o primeiro Papa fruto do Concílio vaticano II, de uma Igreja Povo de Deus, de pluralidade e diversidade.
  4. A relação que existe entre o laicato e o papa Francisco – como ele vê a nossa vocação como cristãos leigos e leigas. Francisco vê e espera que o laicato seja cristão maduro, capaz de discernir os sinais dos tempos e em comunhão com sua comunidade buscar o melhor caminho, ou seja, o laicato precisa assumir a sua vocação, no mundo, na história, onde pode semear, trazer os sinais do Reino de justiça, amor e paz.

Como se vê, o cristão leigo e leiga precisa se assumir como verdadeiro sujeito eclesial, superando a visão de que o leigo e leiga é objeto, capaz de obedecer e fazer o que o padre, o bispo lhe manda fazer. E não precisamos dizer que sempre em comunhão e correlacionalidade.

Francisco fala de uma Igreja em saída, portanto, de um laicato em saída que ofereça à Igreja um novo modo de ser igreja, de ser presença, aqui e acolá, principalmente onde ninguém mais chega, mas o leigo e a leiga chegam, porque é o lugar onde moram e vivem, sendo essa presença viva da Igreja.

Francisco fala de uma Igreja em saída, portanto, de um laicato em saída que ofereça à Igreja um novo modo de ser igreja, de ser presença, aqui e acolá, principalmente onde ninguém mais chega, mas o leigo e a leiga chegam, porque é o lugar onde moram e vivem, sendo essa presença viva da Igreja.

4. O Brilho dos Cristãos Leigos e Leigas com Dom Severino Clasen

(https://www.youtube.com/watch?v=04YTrMmtEtg)

“Não se pode olhar para a Igreja sem perceber o rosto belo e brilhante dos cristãos leigos e leigas sem os quais não teríamos a Igreja”. O brilho vem de uma espiritualidade encarnada, de seguir Jesus, o Cristo da Cruz, da carne, do sofrimento. A sociedade de hoje não quer cruz e por isso se torna vulnerável. Falta-nos coragem. Temos uma tendência de fugir dessas situações, mas precisamos ter coragem pois se não formos discípulos, seguidores de Jesus Cristo não cumpriremos as exigências da caridade. “Uma espiritualidade encarnada caracteriza-se pelo seguimento de Jesus, pela vida no Espírito, pela comunhão fraterna e pela inserção no mundo. Não podemos querer um Cristo sem carne e sem cruz” (CNBB 105, n. 184).

Precisamos abrir portas, não ficar trancados em nós mesmos, mas deixar Jesus falar. O cristão brilha quando é capaz de estender as mãos aos mais necessitados, um brilho que aquece e ilumina. O nosso verdadeiro amor é percebido, degustado, quando somos capazes de olhar para o caído e dizer: “levanta-te, conta comigo”.  “A partir de Jesus Cristo, os cristãos leigos e leigas infundem uma inspiração de fé e de amor nos ambientes e realidades em que vivem e trabalham. Em meio à missão, como ‘sal, luz e fermento’, sempre cheia de tensões e conflitos, buscam testemunhar sua identidade cristã, como ‘ramos na videira’ na comunidade de fé, oração e partilha” (CNBB 105, n. 185).

Hoje, diante do contexto da pandemia, poderíamos estar em outra realidade, fomos alertados sobre o perigo do coronavírus e não escutamos. A pandemia nos questiona como humanidade, como sociedade. Vemos cristãos que na reabertura dos espaços vãos as praças e bares e lotam esses espaços sem nenhum cuidado com a vida. A que normalidade nós queremos voltar, não conseguiremos viver novos encontros, em novos espaços, com novas experiências? O que significa ser Igreja hoje diante da pandemia? Onde fica nossa solidariedade, nossa preocupação com o outro e a outra, como contribuir com esse novo normal? E o cuidado com a casa comum?  Ou vamos perguntar como Caim: “Por acaso eu sou responsável pela vida do meu irmão”? Quem é o meu próximo?

Cuidar da vida, ter um novo olhar, servir a Deus, ser fermento na massa, é como os cristãos leigos e leigas podem brilhar. “Não somos nós que brilhamos, nós não temos a luz, nós brilhamos o Cristo que está em nós e como seguidores de Jesus Cristo vamos trilhar um mundo novo, uma nova sociedade”.

É o Batismo, “o primeiro sacramento que sela para sempre nossa identidade, e do qual deveríamos ser sempre orgulhosos” (Papa Francisco, Documentos da Igreja 31, Edições CNBB), que possibilita aos cristãos leigos e leigas brilharem como povo de Deus, “santificando o mundo com sua própria vocação, a modo do sal e do fermento dentro do tecido humano da sociedade e participa a seu modo da função profética, sacerdotal e real de Cristo” (CNBB 62, n.11-12), como sujeitos na Igreja e na sociedade, promotores de comunhão, dispostos a aprenderem, que se colocam ao lado do outro, da outra, principalmente dos pobres.

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