Solidariedade

A pandemia que assola toda a terra fez que descobríssemos quem somos, quem são nossos amigos, com quem podemos contar. De um lado fez surgir aproveitadores, como os comerciantes que de repente descobriram no álcool em gel um produto altamente rentável que os faria ganhar dinheiro. Aumentou a ganância dos corruptos de plantão que aproveitando o estado de calamidade pública, podiam facilmente comprar sem licitação produtos que passaram a ser vendidos a peso de ouro, como foi o caso dos ventiladores. Tudo dentro da mais absoluta legalidade.

Por: Dom Sergio Eduardo Castriani

Mas a Igreja pelo seu braço caritativo, a Caritas, não brinca em serviço. A Caritas imediatamente após o início da isolamento social colocou toda experiência que possui na organização de coleta de cestas básicas para o povo da rua, migrantes sobretudo indígenas. A resposta da população de Manaus impressionou pela generosidade.

Mas não foi só a Caritas que distribuiu cestas básicas. O CODESE, Conselho de desenvolvimento econômico sustentável e estratégico de Manaus e o comitê cidadão, uma organização ecumênica que se propuseram a juntar dez mil cestas básicas a serem distribuídas via comunidades evangélicas e católicas que se organizaram para cursos do SEBRAE no ano passado. Depois apareceram categorias de trabalhadores que foram atingidos pela pandemia de forma silenciosa mas não menos cruel. Foi o caso do pessoal ligado ao mundo artístico, como maquiadores, montadores de palco, músicos e tantos outros. Ainda resta gente que foi prejudicada no mais elementar dos direitos que é o de alimentar-se.

Vimos coleta de alimentos nos cultos de origem africana, espiritas nos centros, em grupos de amigos, o que me leva a crer que em Manaus todos tem ao menos o básico para sobreviver. A isto tudo se juntam as ações oficiais tanto da parte da prefeitura, como do Estado com ações envolvendo secretarias, em ação conjunta para recolher alimentos para a população carente. Quem tem fome tem pressa foi um dos slogans de uma das campanhas. Mas a quarentena fez muita gente pensar que temos que solucionar no Brasil o problema da disparidade social. O Brasil deveria sair diferente destes tempos. Descobrimos que somos todos iguais diante do vírus. Ninguém consegue enfrentar uma crise destas sozinho. Somos parte uns dos outros.

O comitê cidadão já está cadastrado futuros alunos para os cursos do SEBRAE, que são cursos para promover o empreendedorismo para que as pessoas tenham esperança. Esperança concreta. Por isto os convênios com as Igrejas porque ali tem gente de fé. A Caritas também propõem ações que promovem as pessoas.

A pandemia nos afeta a todos como seres humanos. O que é a pessoa humana para nós. Vale a pena sacrificar-se pelos outros até correndo o risco de morrer, como foi o caso de tantos médicos e enfermeiros. Quando chegamos ao nosso limite e pressionados por todo lado, qual é a nossa reação. Para quem acredita em Jesus e nos seus ensinamentos, certamente será mais fácil tomar decisões que impliquem confiar no outro perder a vida se preciso for. Guardemos destes dias os exemplos heroicos dos que assumiram a sua responsabilidade e esqueçamos os oportunistas de plantão, verdadeiros inimigos da humanidade.

Dom Sergio Eduardo Castriani Bispo Emérito da Arquidiocese de Manaus

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