XXI domingo do tempo comum

A primeira leitura faz parte de uma série de profecias nas quais Isaias profetiza contra Jerusalém. A situação era crítica e as tropas de assalto estavam próximas, mas a cidade era cheia de ruído, uma urbe estridente, uma cidade divertida.

Por: Dom Sergio Eduardo Castriani

O Senhor dos exércitos convidava ao pranto e ao luto, mas havia os que apesar da situação insistiam na festa e alegria, matando vacas, degolando carneiros, comendo carne, bebendo vinho, dizendo: comamos e bebamos pois amanhã morreremos. Assim é descrita a situação da cidade pelo profeta. Nesta situação até o mordomo do palácio havia se corrompido. O trecho termina com a profecia de um futuro servo que cuidará dos bens do palácio com justiça e retidão.

 Já estamos a quase seis meses reféns de um vírus que veio da China. Nós acreditamos em Deus, um Deus que é o senhor da história, mas que respeita a liberdade humana, e as leis da natureza. Na verdade tudo é dele por ele e para ele. E nós não estamos entendendo o que o Senhor está querendo com esta situação. De fato quem conheceu o pensamento do Senhor?

 A única certeza que temos é que ele não nos abandonou. Ele está conosco, está com os cientistas que procuram uma vacina. Está com os que partiram desta vida, dando sentido a morte aparentemente sem sentido. Esta com os agentes de saúde, médicos e enfermeiros que se desdobraram durante os tempos mais intensos da pandemia. Esta com os que perderam entes queridos. Tudo o que acontece é para a gloria dele. Esperamos um dia entender o que se passou na mente divina quando começou a epidemia.

 Jesus faz um retiro com os seus discípulos. Chegamos a um momento de avaliação da missão. Jesus primeiro pergunta o que o povo está achando. O povo compara Jesus com o que já conhecia. Não são capazes de chegar à conclusão que Pedro chegou. De fato, foi uma inspiração divina que levou Pedro a declarar que Jesus era o Messias, o Filho do Deus vivo. Por isso ele era Pedro, e sobre ele seria construída a Igreja, formada pelos que aderem a mesma fé de Pedro. Pedro será o mordomo, aquele que tem o poder das chaves no reino messiânico predito por Isaias. Não era a hora ainda de Jesus se revelar a todo o povo que ele era o Messias.

 A palavra ilumina a nossa vida e nos faz compreender o que estamos vivendo. Desde que o corona vírus entrou na nossa vida, muita coisa aconteceu. Deveríamos ser melhores depois de uma provação destas. Mas muitos deixaram de lado solidariedade e partiram para o lucro fácil, chegando a provocar tumultos como na Jerusalém do profeta Isaias. A vontade de Deus é que sejamos fieis, mesmo no tempo da prova.

Muitos foram solidários com as pessoas de rua, com os migrantes, com os pobres em geral. Muitos que possuíam as chaves abriram as portas para dar as pessoas uma chance de viver. Não entendemos bem onde tudo isto vai nos levar. Quem conhece os pensamentos do Senhor? Só temos uma certeza que nos foi dada por Jesus quando disse: tu es Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la.   A Igreja sairá purificada desta situação, mais coesa, mais consciente de que somos parte uns dos outros, e é sendo Igreja que nós vencemos o pecado.

Hoje, dentro do mês vocacional, nós somos convidados a contemplar as vocações leigas. Todo batizado é chamado, vocacionado para a missão dentro e fora da Igreja. Numa situação como a que vivemos todos são chamados a dar testemunho da sua fé, dando sentido às restrições que temos, vendo-as e vivendo-as como solidariedade entre todos. Uma das lições que a pandemia nos dá é que estamos todos no mesmo barco. Como parte uns dos outros, somos todos chamados a dar o melhor de nós mesmos para a coletividade. Colocar nossos dons a serviço uns dos outros é o grande apelo que estes tempos novos nos trazem.

Dom Sergio Eduardo Castriani Bispo Emérito da Arquidiocese de Manaus

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