Amoris Laetitia: a alegria do amor em família

A Exortação Apostólica Pós-sinodal “Amoris Laetitia” do Papa Francisco foi promulgada no dia 19 de março de 2016, no Ano Extraordinário da Misericórdia, e é fruto dos Sínodo da família (2014-2015). O Papa pretende com esta Exortação refletir sobre a alegria do amor em família. Não se trata de um texto normativo jurídico, embora não desconsidera o aspecto doutrinário, mas tem como objetivo recuperar a compreensão da graça que é o matrimônio enquanto “dom” do Senhor.

Por: Pe. José Antonio Boareto

Nas páginas da Exortação, procura o Papa, apresentar a situação atual da família, com suas luzes e sombras, e ao mesmo tempo, oferece a contribuição que a Igreja pode oferecer a família, pois ela é um bem para o mundo e para a Igreja.

Inicia a Exortação demonstrando o quanto a Palavra é companheira de viagem, ela traz uma mensagem de Deus para a vida das famílias. Os textos bíblicos não são teses abstratas, mas demonstram como o povo encontrou em suas histórias, luzes, para viver suas vidas que são sempre acompanhadas por um rastro de sofrimento e sangue.

Entretanto, tem o Papa uma intenção claríssima em iniciar à luz da Palavra, ele quer mostrar como através da Bíblia as famílias podem descobrir a ternura do abraço de Deus que mesmo em suas quedas, com paciência, levanta-as e as ajuda a prosseguir pelo caminho. E por isso fundamenta-se o sentido da vocação ao matrimônio no salmo 127/128 onde reflete o sentido da compreensão fundamental do ser família: Tú e tua esposa, os teus filhos sãos rebentos de oliveira e viverá do fruto do trabalho de tuas mãos, será feliz, tudo irá bem.

A família a que o Papa dirige-se na Exortação é a real e não aquela que pretende-se ideal, pois, tem ele consciência das mudanças culturais que influenciaram diretamente na configuração da família, a cultura de individualismo que retirou toda possibilidade de assumir um compromisso com o outro, sobretudo, o ser família e ainda uma cultura do provisório que vive de modo efêmero, eu quero me satisfazer agora, numa perspectiva de uma afetividade narcisista.

E estas famílias estão buscando, em seus limites, viver como podem o caminho do Senhor. A própria Igreja precisa observar com cuidado a sua postura, para que não coloque fardos ainda mais pesados sobre as pessoas que estão buscando fazer seu discernimento sobre as situações que passam e que muitas vezes rompeu todos os esquemas.

A partir desta consciência de não “doutrinar” o Evangelho mas oferecer a força sanadora da sua luz e graça às famílias, convida o Papa Francisco, a Igreja, à uma autocrítica, pois ao invés de propor aos noivos e esposos o matrimônio e a família como caminho de felicidade, como realidade da graça, da alegria do amor do Senhor em suas vidas, apesar das vicissitudes, ele é apresentado como um fardo a ser carregado a vida toda.

A família com os olhos fixos em Jesus e a Igreja com os olhos fixos em Jesus serão capazes de aproximar misericordiosamente das pessoas e acolhê-las em seus dramas existenciais. O Papa faz menção à situação de uma mulher que é mãe solteira e tem uma única criança e que não tem com quem a deixar, ela precisa ser acolhida a partir desta realidade da sua condição. O discernimento, difere de caso a caso, mas ele precisa considerar a realidade concreta da pessoa.

Para o Papa Francisco, é fundamental apresentar a doutrina do matrimônio e da família, mas eles precisam ser apresentados à luz da graça, isto é, é preciso falar  a partir do amor. E justamente é o que faz, ao propor uma reflexão do significado de cada expressão que se encontra no hino da caridade de São Paulo.

Depois vai dedicar uma reflexão para falar da fecundidade, e aqui, ele amplia o conceito de fecundidade, não somente em vista da procriação, mas a própria união sexual precisa ser compreendida a partir da afetividade. E uma fecundidade espiritual, ou seja, a família precisa fecundar o amor em família para que a alegria se mantenha.

Em relação às perspectivas pastorais, pretende refletir como anunciar hoje o Evangelho da família. A grande preocupação do Papa é que as formações, seja a preparação dos noivos e ou mesmo a pastoral familiar, sejam marcados por este ambiente amoroso. Ou seja, não é só oferecer conhecimento, mas ajudar as famílias a acolherem em suas vidas o próprio Cristo que vem ao seu encontro na realidade do matrimônio.

Haja uma atenção maior em relação a preparação da celebração do matrimônio quanto um acompanhamento pastoral dos casais novos. É preciso ajudar aos casais iluminando suas crises, angústias e dificuldades, e apresentando Jesus que revela o rosto misericordioso do Pai, ou seja, um Deus de Ternura que abraça a pessoa em seu sofrimento levando as famílias a experiência do perdão, da reconciliação, e portanto, do recomeçar. Do mesmo a Igreja acompanhe com cuidado pastoral famílias divorciadas e em outras situações complexas.

Ainda oferece uma reflexão sobre a educação dos pais aos filhos. Cabe a família a formação ética, e propõe o Papa a sanção como estímulo, para o crescimento. A educação moral exige um realismo paciente. A educação implica também uma educação sexual que ensine a afetividade. E cabe a família a transmissão da fé que é a busca por conhecer o amor de Deus e assim deixar um legado de testemunho mas também de solidariedade em prol do bem comum, isto é, de generosidade com a natureza sem esquecer os excluídos..

Na perspectiva do olhar de Jesus, a Igreja tem nele o seu modo pastoral de atuar. Assim, é solicitado, que os ministros no acolhimento das pessoas em sua situação concreta, considere o processo de acompanhar, discernir e integrar a fragilidade. A Exortação reconhece o esforço que fazem as famílias para viverem nos seus limites o caminho do Senhor, mas quando ocorre suas quedas, é preciso oferecer-lhes um discernimento, mas da parte do ministro o modo de olhar para a realidade deve ser a partir da ternura do abraço do Pai. Esta compreensão entende-se quando lemos que o Papa pede que os presbíteros não façam do confessionário uma câmara de tortura, mas antes um lugar da misericórdia do Senhor.

E por fim, propõe uma espiritualidade familiar, pois nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada de uma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. Há um apelo que vem da plena comunhão da Trindade convidando-a família a viver em uma comunhão de pessoas, como também, da estupenda união de Cristo com a Igreja, ou ainda a família de Nazaré e da fraternidade dos santos no Céu. Todos são chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e de nossos limites. Ele conclui, convidando-nos a não perder a esperança apesar dos limites e nem a renunciar a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida.

plugins premium WordPress