Fofoca

Sempre que sou perguntado sobre o maior desafio enfrentado pelas nossas comunidades não hesito em dizer que é a fofoca. Isto vale para as famílias, para as empresas, para as repartições públicas, para as amizades, enfim para todo grupo humano.

Dom Sergio Eduardo Castriani

Hoje a fofoca toma dimensões nunca vistas, quando feita pelos meios de comunicação. Assistimos casamentos se destruindo, amizades se desfazendo, grupos de Igreja se engalfinhando por causa de postagens maldosas no face book, ou mensagens no whatsap. Não foi por acaso que o falso testemunho entrou na lista dos dez mandamentos. O poder de destruição da palavra é semelhante ao de uma bomba. E é antes de tudo uma covardia porque aquele que é difamado não pode se defender. Uma vez perdido o bom nome dificilmente se pode recuperá-lo.

Existe crime quando alguém deliberadamente inventa uma história mentirosa para destruir a vida do outro ou denegrir a imagem de uma instituição. Trata-se então de um ato criminoso passível de uma condenação na justiça. Mas em geral a fofoca é mais sutil e nem por isso menos perigosa. Ela começa com a o lançamento de uma suspeita feita de forma ingênua e as vezes até com aparência de caridade. Da suspeita passa-se a uma afirmação que é passada adiante e que cada vez mais aumenta sua carga negativa.

Finalmente ninguém mais é responsável, só se passa para frente aquilo que se ouviu dizer. Quanto mais o fofoqueiro tem uma ascendência social sobre o grupo mais perigoso se torna porque a sua palavra tem autoridade e se espalha com mais força. Existem técnicas apuradas de fazer fofoca, com afirmações como a de só querer o bem da pessoa de quem se está falando mal, ou a de estar defendendo o bom nome da Igreja, da família, e as vezes até dizendo que quer evitar escândalo, dando a impressão de ser uma pessoa extremamente preocupada com o bem comum.

O que leva o indivíduo a tomar estas atitudes? Observando a mim mesmo em primeiro lugar vejo que a fofoca brota dos ressentimento, da sensação falsa ou verdadeira de ter sido humilhado, do desejo de fazer carreira destruindo os outros. É preciso começar por nós mesmos examinando as nossas motivações quando sentimos um prazer mórbido ao falar da vida alheia, ou mesmo escutar alguém falando.

No evangelho de Mateus, Jesus disse aos discípulos: Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular a sós contigo. Poderíamos acrescentar; se não tiveres coragem de falar com ele, cala-te pois do contrário vira fofoca. É evidente que há situações que devem ser denunciadas, mas estas são muito raras. Precisamos voltar a respeitar a privacidade das pessoas e sobretudo o direito que todos tem a um bom nome.

Outro princípio evangélico que faz parte do código de ética de todas as religiões é não fazer ao outro aquilo que não quero que faça para mim. Ninguém gosta de ficar falado, portanto ponhamos um freio na nossa língua e não falemos de ninguém, a não ser aquilo que edifica. Mesmo quando por dever de oficio somos obrigados a avaliar alguém não faltemos nunca com a caridade que sabe que a pessoa humana é sempre um mistério.

Dom Sergio Eduardo Castriani Bispo Emérito da Arquidiocese de Manaus

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