Fraternidade e diálogo – Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021

A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) de 2021 nos chama ao diálogo como compromisso de amor, criando pontes que unem em vez de muros que separam e geram indiferença. Por isso o cartaz nos apresenta uma Ciranda de pessoas diferentes (diversidade) que estão de mãos unidas e em movimento.

Por: Marcia Castro

Uma ciranda aberta a quem mais quiser dar as mãos. O centro é a Palavra de Deus. Essa ciranda está entre dois mosaicos e o que da esquerda tem a cruz branca com o Cristo Ressuscitado e o convite à vivência da fraternidade.

Um primeiro diálogo é sobre a Fraternidade, nos reconhecermos como irmãos. Não vivemos uma relação de respeito à irmã/ao irmão e a cada ano somos lembrados de um ou mais aspectos em que precisamos cultivar a fraternidade. O amor à Deus se revela no amor ao próximo, não aquele que escolho, mas àquele/aquela que estão à minha frente.

Um segundo diálogo refere-se ao termo Ecumênico que vem do grego Oikos e que se refere à cuidar da casa que habitamos juntos, que reúne pessoa de diferentes crenças. Essas pessoas se unem pelo que tem em comum, são filhos do mesmo Deus e irmãos em Jesus Cristo. Não discutem doutrinas ou liturgia, mas o cuidado com a vida, a oração e a unidade.

Esta CFE foi pensada de forma coletiva, a partir de muitas rodas de conversa (diálogo) e o primeiro passo foi identificar o tema a ser tratado. O diagnóstico que vivemos profundas polarizações e não nos temos percebido como irmãos, mas por vezes como adversários e até inimigos. Este fato se dá em nível familiar, no trabalho, na comunidade, nas redes sociais…

Diante disso o tema Fraternidade e diálogo compromisso de amor, pois sabemos que Deus é Amor(1 João 4:16) e nos quer numa relação de irmãos que se amam, de fraternidade. O lema então parte da Carta de São Paulo à comunidade de Éfeso que estava dividida por um muro real entre judeus e pagãos. Somos convidados a refletir que “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2, 14).

As Igrejas que se uniram neste trabalho foram as Igrejas-membro CONIC (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e Aliança de Batistas do Brasil e a Igreja Betesda que foi convidada, bem como o CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular).

Tem o objetivo de convidar as comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade. Tem também objetivos de Redescobrir a força e a beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas; Denunciar as diferentes violências praticadas e legitimadas indevidamente em nome de Jesus; Comprometer-nos com as causas que defendem a Casa Comum, denunciando a instrumentalização da fé em Jesus Cristo que legitima a exploração e a destruição socioambiental; Contribuir para superar as desigualdades; Animar o engajamento em ações concretas de amor ao próximo; Promover a conversão para a cultura do amor, como forma de combater cultura do ódio; Fortalecer a convivência ecumênica e inter-religiosa; Estimular o diálogo e a convivência fraterna como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções, num mundo cada vez mais plural.

Além do lema da unidade, esta CFE nos convida a uma caminhada, assim como os discípulos de Emaús (Lc 21, 13-35) que estavam desolados perante a aparente derrota, não tinham conseguido entender. Neste caminho o coração ardia enquanto dialogavam. E somos convidados a este mesmo percurso e fazer uma PRIMEIRA PARADA Trocando impressões sobre os acontecimentos mais recentes.

Esta parada nos leva a identificar os muros que nos dividem. A pandemia do Coronavírus que escancarou as desigualdades e como os mais pobres foram os mais afetados. Discursos negacionistas, resistências ao isolamento (O meu direito como superior ao bem comum), a falsa dicotomia entre Economia e vida, o importante aporte monetário oferecido aos bancos  (R$ 1,2 trilhão em recursos para bancos) no início da Pandemia e as violências (mulheres, negros, feminicídio…).

O muro do Brasil que retornou ao mapa da fome. As sucessivas reformas (Trabalhista, Seguridade Social, Previdência) que prometiam melhora no discurso e na prática elevaram os índices de desemprego, precarização do trabalho. O muro das Fake News (notícias fabricadas) que incitam à mentira, ao ódio, à polarização, à difamação, à intolerância religiosa, os preconceitos e os índices de morte devido a esses fatores. O muro que culpabiliza o pobre, por ser pobre. Que mantém estruturas injustas e excludentes, atrás de um discurso de meritocracia.

O muro da necropolítica (onde a humanidade do outro é negada) que segrega e descarta os migrantes, indígenas, pobres, negros, homossexuais e ativistas. O muro da crise socioambiental que é fruto da escolha de uma minoria (elite econômica) que acumula, desmata, degrada, espalha agrotóxicos, dejetos da mineração e impõe o ônus sobre os mais vulneráveis. O muro da intolerância religiosa em especial aquelas de matriz africana e indígena, o muro do fundamentalismo que fica distante de Jesus de Nazaré.          

 A SEGUNDA PARADA “Carta para pessoas de boa vontade em um mundo cheio de barreiras e divisões” …  Somos convidados a refletir sobre as seguintes questões: Como falar de paz, quando pessoas passam fome e não têm trabalho, nem terra e teto?; Como falar em paz, sem denunciar essas injustiças econômicas, sociais e ambientais?; Qual é o significado dessa confissão de fé em tempos tão incertos como este em que vivemos, caracterizado por conflitos, violência, racismos, xenofobias e outras práticas de ódio? e Como anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo em períodos turbulentos como o atual? Os textos de Emaús e da Carta aos Efésios nos iluminam para olhar esses muros que são difíceis de serem olhados. Quais muros temos que desconstruir? Temos uma riqueza de materiais da CFE para essas reflexões (catequese, ensino fundamental ,médio, jovens, famílias, via-sacra, vigília eucarística…

Na TERCEIRA PARADA Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade. O convite é para partilharmos nossas experiências de unidade e nos unirmos em causas comuns, conforme o chão que pisamos. Divulgar essas boas práticas. Por exemplo a celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que ocorre entre a ascensão e Pentecostes e podemos nos unir para a oração e cuidar de uma questão comum do território.

O Conselho Indigenista Missionário é uma ação ecumênica das diferentes Igrejas, assim como a Comissão Pastoral da Terra. O apoio e a proteção às mulheres em situação de violência. A defesa da Casa Comum (água, praça, córregos…), os grupos de agroecologia e economia solidária.   Estudo em rodas de conversa (diálogo) da Encíclica Laudato Si e o cuidado com a Casa Comum e também da Encíclica Fratelli Tutti que nos chama a fraternidade.

Ambas Encíclicas abrem o nosso olhar para os muros, tiram-nos da superficialidade e nos levam a perceber as raízes dos problemas e nos motivam e nos enchem de esperança para um mundo fraterno. São muito lidas, citadas e discutidas entre cristãos e também não cristãos que reconhecem a sua importância e caráter profético.

Por fim, vamos na QUARTA PARADA Celebrar. Celebrar que Cristo é a nossa paz e que nos convida ao diálogo, à fraternidade, à superação do preconceito da intolerância, da violência, das desigualdades… Que Ressuscitou e que caminha conosco!

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