Mulher mãe ou mãe Mulher?

Como tudo em nosso meio muda e se modifica ao longo da história, assim também veremos que o SER e o papel da mãe/mulher foi e continua se transformando.

Por: Gisele Canário

A mulher sempre esteve numa situação de fronteira, seja por ser sujeita de uma sociedade patriarcal, ou por ter a obrigação de educar nessa perspectiva. Tendo dito isso, percebemos a mãe com uma responsabilidade que nem ela mesma compreende.

Aqui a nossa reflexão procurará compreender o papel da Mãe e da Mulher e o da Mãe/mulher. Parece um jogo difícil de ser compreendido, mas veremos que é mais evidente do que possamos imaginar.

A mãe/mulher muda, está em consonância com as transformações gerada pela sociedade, com as novas necessidades, com o novo perfil do SER mulher, e aos poucos vem rompendo estruturas históricas culturais, a fim de conciliar o ambiente caseiro, entregar a responsabilidade de educador ao parceiro ou apenas pai da criança, e assim romper com as estruturas patriarcais.

Na experiência sagrada dos povos do Antigo Testamento, em Pv 31, 24-27, fala da mulher como trabalhadora, cheia de sabedoria, educadora. “Ela faz vestes de linho e as vende, e fornece cintos aos comerciantes. Reveste-se de força e dignidade; sorri diante do futuro. Fala com sabedoria e ensina com amor. Cuida dos negócios de sua casa e não dá lugar à preguiça”. A reflexão aqui pode ser ambígua.

Os autores bíblicos são frutos de uma sociedade patriarcal, e veem a mulher como aquela que deve dar conta dos negócios da família e da casa e ainda assim continuar sorrindo. Percebe-se aqui uma sobrecarga em relação ao ser mulher na sociedade de Provérbios, mas ao mesmo tempo uma certa abertura ao trabalho para além do ambiente caseiro. A medida certa vai ser sempre o compartilhamento de deveres. É sabido a linguagem patriarcal dos personagens-autores do Antigo Testamento, mas ainda assim surgem nas brechas uma outra mulher quase que desconhecida em outras narrativas.

 A busca por assumir responsabilidades conjuntas é o desejo da mãe/mulher atual. Quando falamos em responsabilidade queremos dizer também a respeito do seu papel na igreja, na família, no mercado de trabalho e onde quer que essas mães/mulheres estejam. Enquanto não houver uma virada cultural de mentalidade, gerida por políticas educacionais, religiosas e sociais que a mãe/mulher seja pensante e não meramente cuidadora, ainda iremos enfrentar altos índices de violência contra a mulher provocada pela misoginia.

Esse medo da mãe/mulher, essa ojeriza, é um mal que herdamos de uma história longínqua, que não cabe mais à mentalidade atual. Os avanços humanos não podem ser apenas tecnológicos, científico, mas se não for humana seremos engolidos por mentalidades ultraconservadoras, desequilibradas e totalmente em desacordo com a harmonia global que tanto almejamos, o sonho da casa comum.  

Outra reflexão pertinente é a respeito da pressão que a mulher sofre para ser mãe. É comum que a mãe eduque suas filhas e depois exija delas netos. Com isso vai perpetuando uma mentalidade de que a mãe nasce predestinada para a  maternidade, e não como um ato de liberdade e escolha. E assim a mulher/mãe se torna cada vez mais perfeita à medida que vai introduzindo suas filhas e filhos aos padrões aceitos pela sociedade.

Nesse sentido a Igreja traz o papel da mulher religiosa que opta por não ser mãe, uma escolha livre feita pela mulher que busca desenvolver uma missão na igreja e na sociedade. Sem dúvidas a vida religiosa feminina está marcada por uma série de conflitos de cunho social e também de desigualdades em relação à vida religiosa masculina. Ainda assim, por sua opção de vida a mulher religiosa sofre os impactos outorgados pela sociedade patriarcal ao longo da história.

Nessa reflexão cabe o desafio das sociedades atuais não permitirem que a mãe/mulher continue sendo tratada com violência, estigmatizada ao universo caseiro e sobrecarregada nas esferas econômicas que a colocam num patamar de exorbitantes horas de trabalho.

Ainda fica o apelo de que a mãe/mulher não se submeta, jamais, a experiências religiosas que não permitam o seu espaço devido em que a autocomunicação de Deus é para todos.

Enfim, concluímos que a Mãe/mulher é aquela que caminha lentamente a entender a sua função caseira, profissional, religiosa e os espaços que queira ocupar. Caminha para o saber compartilhar papeis e funções. Enquanto a Mulher/Mãe já entendeu essa função e não se limita ao patriarcado, lida com sabedoria e diligência, age em favor dos seus próprios direitos e comunica isso às suas iguais mulheres/mães, em busca de que todas as mulheres sejam apenas MULHERES, sendo mãe ou não.

Gisele Canário é mãe da Maria Clara, Mestra em Teologia e Professora no Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo e Na Faculdade João Paulo II. Assessora no Centro Bíblico Verbo. giselecanario@gmail.com

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