NAMORO, CAMINHO DE RELAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO MÚTUA DO AMOR

Por: Pamela Santos

“Nada de humano se constrói sem ambiguidade. A afetividade, no relacionar-se com os demais, frequentemente se banaliza ao não acolher o outro no seu mistério”. J.B. Libanio

Amar e ser amado é uma das belezas da existência humana e também um dos grandes desafios. O amor é uma virtude que nos coloca em constante movimento de construção e desconstrução, onde somos motivados a repensar nossas relações para que tal virtude possa ser um caminho de edificação e compromisso para consigo e para com os outros.

A juventude é marcada por diversas situações e lidar com as relações, por algumas vezes, torna-se um processo intenso onde a pessoa do jovem depara-se com um longo caminho a ser desbravado. E também é na juventude que algumas escolhas ganham mais forma, isso também se dá com as relações que vai desde a amizade até de quem ela ou ele irá se relacionar.

Nos tornamos pessoa à medida que nos relacionamos, por isso, que relação é sempre caminho, construção e responsabilidade. A partir do momento que eu me permito que outra pessoa entre na minha vida não posso deixa-la que ela entre e fique de qualquer maneira, bem como não posso permanecer na vida do outro de qualquer maneira. Eis o desafio. E como isso acontece no namoro? Quantas inquietações perpassam por essa fase tão significativa na vida de qualquer pessoa.

Namoro é construção, é caminho, é diálogo e sacralidade. Quando duas vidas decidem trilhar um mesmo caminho é preciso que se abram ao mistério que cada pessoa carrega em si. Amar e ser amado é partilhar as alegrias e tristezas, desânimos e esperanças, ao tocar na vida da outra pessoa estamos adentro em um universo carregado de símbolos, memórias e belezas.

Ao compreender o namoro como construção mutua compreendemos a beleza do amor e seu significado. Como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade “Amar se aprende amando”, o amor é um sentimento que precisa ser polido, construído e cuidado. Não um cuidado que domina, não podemos confundir cuidado com dominação, mas como meio de crescimento e autoconhecimento para ambos.

Papa Francisco, em um encontro com jovens noivos afirmou que “se o amor for uma relação, então será uma realidade que cresce, e como exemplo até podemos dizer que se constrói como uma casa[1]. Tal afirmação do pontífice vale para todas as nossas maneiras de relacionar-se, bem como no namoro.

Namoro, a arte do encontro

Toda relação carrega consigo desafios e limites. Assim também acontece no namoro e cabe ao casal trilhar esse caminho de maneira responsável e comprometida, para que juntos possam descobrir as belezas de um relacionamento e encantar-se mutuamente com a graça e o sagrado que o outro carrega em si.

O namoro é um trilhar juntos, onde compartilha-se todas as dimensões do amor, é um crescer mútuo na humildade e na responsabilidade afetiva. É nessa fase que ambos devem se conhecer e ao mesmo tempo saber respeitar a individualidade do outro para que a relação possa se dar de maneira responsável.

Bento XVI em um encontro com namorados orienta aos jovens nesse caminho: “Como namorados estais a viver uma fase única, que abre para a maravilha do encontro e faz descobrir a beleza de existir e de ser preciosos para alguém, de poder dizer um ao outro: tu és importante para mim. Vivei com intensidade, gradualidade e verdade este caminho. Não renuncieis a perseguir um ideal alto de amor, reflexo e testemunho do amor de Deus!”[2].

As sábias palavras do pontífice nos iluminam para melhor compreender e valorizar a beleza e a sacralidade da relação, que no namoro as pessoas que ali se dispuseram a partilhar a vida possam se encantar pelo mistério que ali se apresenta, responsabilizando-se um com o outro.

Por relações sadias e virtuosas

Como vimos até aqui, relacionar-se não é um caminho simples, é complexo e hora com alguns percalços, mas é belo e potente. Em um mundo cercado de relações líquidas é preciso auxiliar aos jovens para que possam viver relações saudáveis, onde desenvolvam sua identidade ao lado de quem se ama e se escolhe relacionar.

O amor é dinâmico, é movimento, não é estático, portanto, precisa ser lapidado. É preciso desconstruir os romantismos que impedem a compreensão real dessa virtude. Amor é compromisso, cuidado e relação, ele nunca se esgota, transcendendo nossas limitadas concepções que muitas vezes impede de enxergar quem de fato é o outro.

Também é preciso ajudar a tantos casais que vivem relações abusivas, onde principalmente as jovens e mulheres não conseguem se libertar das correntes que a amarram àquela relação. Nós, enquanto sociedade e Igreja de Cristo temos o dever de ajuda-las a se libertarem dessas relações abusivas. Que assim como Jesus nos ensina, possamos fazer ressoar o amor que salva e transforma e consequentemente fazer com que tantos casais de namorados possam vivenciar o amor que vem de Jesus Cristo, o amor encarnado.

Que possamos concluir essa reflexão do namoro com inquietação e encantamento, que o amor seja o principal elemento de uma relação, ou seja, que a partir dessa virtude jamais deixem se apagar aquele olhar que os coloca em sintonia e companheirismo. Para que cada vez mais os casais possam vivenciar relações saudáveis e felizes, livres e comprometidas, onde ambos possam viver a beleza do amor e do afeto construindo assim uma nova sociedade, de pessoas que amam e que sejam felizes.

Meu destino

Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino. Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida… Corri ao teu encontro. Sorri. Falamos. Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe. E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…

Cora Coralina   

 Pamela Santos – mestre em Teologia Pastoral pela PUC SP sobre juventude e pastoral.


[1] Papa Francisco. Discurso do Papa Francisco aos noivos que se preparam para o matrimônio – Praça de São Pedro, 14 de fevereiro de 2014. IN: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/february/documents/papa-francesco_20140214_incontro-fidanzati.html

[2] Bento XVI. Encontros dos namorados Praça do Plebiscito, Ancona Domingo, 11 de Setembro de 2011. IN: http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2011/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20110911_fidanzati-ancona.html

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