Este ano fomos convidados e convidadas a refletir o Livro do Deuteronômio, o qual tem como coração o cuidado com o órfão, a viúva e o estrangeiro.
Por: Liz Mari da Silva Marques
Um livro que levou quase 400 anos para ser escrito, que traz tantas guerras, tantos domínios, levando a população para uma situação de pobreza, de fome, de ida forçada ao exílio e de morte. Alguns conseguiram sair para uma outra terra, deixando muitas vezes a cultura, a religião, a própria casa que perfaz a identidade da pessoa e da família.
O sonho com a terra prometida, com o Deus da aliança era o que fortalecia a caminhada, a resistência, a teimosia, e plantava em cada povo uma esperança capaz de fazer e refazer a História.
Hoje no ano de 2020, quem são os pobres? O que cria pobres cada vez mais pobres a custa de ricos cada vez mais ricos? Onde anda a Justiça social? A solidariedade? O documento de Puebla descreve no número 31 as feições marcadas pela pobreza: “as crianças, jovens, indígenas, camponeses, operários, subempregados, desempregados, marginalizados, anciãos”. Quantas feições hoje podemos acrescer: dos refugiados, dos migrantes, da população em situação de rua, das mulheres, dos negros, dos LGBTQIA+, e também podemos afirmar que um rosto sofrido hoje é a própria Casa Comum.
O Papa Francisco na Laudato Si, no número 56 nos chama atenção que “os poderes econômicos continuam a justificar o sistema mundial atual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente. Assim se manifesta como estão intimamente ligadas a degradação humana e ética”.
Vivemos em uma sociedade infelizmente pautada pelo lucro onde o mercado é o centro, e a Vida de cada um de nós, como a vida da Casa Comum é colocado em segundo plano. Em nome do lucro se mata, se vende, se corrompe, retira os direitos trabalhistas, congela os investimentos nas políticas públicas, privatiza os serviços e as riquezas naturais do país. Assassina tantos homens e mulheres defensores (as) das Políticas Públicas como também da preservação da Casa Comum. A que ponto chegamos? Muitas vezes perdemos a nossa capacidade da indignação diante do que estamos vivendo e comprometemos não somente esta geração mais as gerações futuras e bem sabemos que quem mais sofre com a nossa omissão são os empobrecidos.
No entanto precisamos construir novos caminhos, é a nossa missão, ninguém poderá fazer por nós, está em nossas mãos a decisão e a construção de uma Terra Sem Males, de Outro Mundo Possível e necessário. Precisamos entrar no mutirão dos Movimentos Sociais, como também na participação efetiva da Política. A nossa “fé tem nome: a Esperança” nos dizia Dom Pedro Casaldáliga, não podemos perder a capacidade de sonhar e teimar em modificar está realidade pautada pela globalização do mercado. Queremos sim a globalização da irmandade, dos direitos respeitados, do cuidado com a vida, da terra partilhada, da justiça implantada.
Que o Deus da Vida e do amor, nos dê o sopro carinhoso da resistência e do compromisso com os mais pobres. E como nos diz no final da Encíclica Fratelli Tutti ”Em nome dos pobres, dos miseráveis, dos necessitados e dos marginalizados, a quem Deus ordenou socorrer como um dever exigido a todos os homens e de modo particular às pessoas facultosas e abastadas. Em nome dos órfãos, das viúvas, dos refugiados e dos exilados das suas casas e dos seus países; de todas as vítimas das guerras, das perseguições e das injustiças; dos fracos, de quantos vivem no medo, dos prisioneiros de guerra e dos torturados em qualquer parte do mundo, sem distinção alguma. Em nome dos povos que perderam a segurança, a paz e a convivência comum, tornando-se vítimas das destruições, das ruínas e das guerras. Em nome da “fraternidade humana”, que abraça todos os homens, une-os e torna-os iguais”. Não nos calemos, exerçamos a nossa vocação batismal de sacerdotes e sacerdotisas, de pastores e de pastoras, de profetas e profetizas.
Liz Mari da Silva Marques – CEBs Moisés Libertador – Região Belém-SP
