O Dia Mundial da Saúde e a Pandemia do Novo CoronaVírus

Comemorado no dia 7 de Abril, o Dia Mundial da Saúde tem como objetivo a conscientização da população sobre questões que afetam a saúde e a qualidade de vida das pessoas.

Por: Mônica Lopes

Geralmente nesta data são realizadas campanhas com temas ligados a saúde, com o objetivo de esclarecer a população sobre o que há de mais importante neste assunto, como prevenção, tratamento e a promoção da saúde no mundo. Também visa criar um debate sobre a responsabilidade do Estado em oferecer saúde ao cidadão e garantir que todos tenham acesso ao atendimento médico de forma plena.

Especificamente no Brasil, a data ocorre em meio a maior crise sanitária e a maior crise política já vista por aqui. Um momento em que o Estado Brasileiro se mostra totalmente alheio às necessidades do povo, sem uma política pública de enfrentamento à pandemia.

O que se vê são os hospitais lotados, sem um plano de imunização definido e muito menos, campanhas educativas para a população. Também não há uma política de transferência de renda que apoie a população mais empobrecida, justamente quando o desemprego massacra o povo.

Na verdade, essa pandemia escancarou uma crise de gestão pública sem precedentes na história. O número de pessoas que morrem por dia é um escândalo, e o povo brasileiro está a mercê da boa vontade de grupos, igrejas e associações para tentar sobreviver a tudo isso.

“Sabemos que as coisas vão melhorar na medida em que, com a ajuda de Deus, trabalharemos juntos para o bem comum, colocando no centro os mais fracos e desfavorecidos. Não sabemos o que 2021 vai nos reservar, mas o que cada um de nós e todos nós juntos podemos fazer é de nos comprometer um pouco mais a cuidar uns dos outros e da Criação, a nossa Casa Comum.”

 (Papa Francisco, no Angelus de 03 de janeiro de 2021).

A OMS (Organização Mundial da Saúde) traz a discussão que ter saúde vai muito além de não estar doente, também significando ter qualidade de vida e ser saudável do ponto vista físico, mental e social. Segundo a OMS, o termo “saúde” designa o estado em que um indivíduo fica em completo bem-estar fisicamente, mentalmente e socialmente, além de estar longe de qualquer tipo de doença.

No contexto da saúde pública, assuntos como saneamento básico, tratamento de água e preservação do meio ambiente, tornam-se importantes para garantir essa qualidade de vida no debate sobre o Dia Mundial da Saúde.

Por definição, a saúde pública é aquela voltada para as ações de manutenção da saúde da população, garantindo um tratamento adequado e a prevenção de doenças. No Brasil, a saúde pública é regulamentada pela ação do Estado, através do Ministério da Saúde e demais secretarias estaduais e municipais.

O objetivo básico da saúde pública é garantir que toda a população tenha acesso a atendimento médico de qualidade. Mas, em tempos de pandemia, isso fica apenas no âmbito da definição.

Para os profissionais, existem quatro itens principais que atuam na qualidade da saúde de uma pessoa. São eles a biologia humana, o ambiente, estilo de vida e, também, a assistência médica. Ou seja, ela é mantida e melhorada não só através de uma boa alimentação e da realização de exercícios, mas também pela capacidade que os médicos tem de fazer ações e procedimentos adequados para que a pessoa se mantenha saudável. 

A Constituição Federal aponta que todos os brasileiros e brasileiras têm, desde o nascimento, direito aos serviços de saúde gratuitos. O SUS (Sistema Único de Saúde), criado em 1988, é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, sendo o único a garantir assistência integral e completamente gratuita. Houve ano em que foram realizados mais de 4,1 bilhões de procedimentos ambulatoriais e 1,4 bilhão de consultas médicas no SUS.

O Brasil tem hoje, em atividade, cerca de 600 UPAs, que funcionam como prontos-socorros, e cerca de 41 mil UBSs (postos de saúde). O SUS é administrado de forma tripartite, e conta com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Reconhecido internacionalmente, o Programa Nacional de Imunização (PNI), responsável por 98% do mercado de vacinas do País, é um dos destaques. O Brasil garante à população acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela OMS, disponibilizando 17 vacinas para combater mais de 20 doenças, em diversas faixas etárias, na rede pública, faltando apenas uma totalmente nacional contra a Covid-19. Também é no SUS que ocorre o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo.

Na pandemia do coronavírus, cerca de 145 milhões de pessoas dependem exclusivamente do SUS, e é por meio dele que temos garantida assistência à urgência e à emergência nas ruas, com o SAMU.

Quando tantos precisam recorrer à assistência médica, saber da existência desta rede pública totalmente gratuita é um orgulho. Com isso, as falas que intencionam que o SUS seja sucateado com vistas a uma privatização não só não procedem, como têm oposição da população. O SUS é atuante, público e assim deve ser mantido. A pandemia do Coronavírus tem mostrado isso.

Talvez essa data nunca tenha sido tão importante no calendário dos últimos 100 anos, diante de tão grande desafio como dessa pandemia que já matou mais de 312 mil pessoas e infectou outras 12 milhões no Brasil.

Imensas e inúmeras reflexões são indispensáveis para a conscientização popular quando o isolamento social, o uso da máscara e os cuidados com a desinfecção das mãos passam a ser as únicas medidas concretas contra um vírus, até que a vacinação aconteça de forma generalizada.

Que saúde é essa que ainda se mostra tão frágil? Como fortalecer a saúde a ponto de vencer ameaças inimagináveis em pleno século do conhecimento e da transformação digital? O que a saúde precisa aprender diante do cenário das ruas vazias e dos leitos lotados das UTIs?

As perguntas são muitas e certamente vão modificar alguns conceitos, entre eles a ideia de que saúde depende apenas da assistência. Muito além disso, é preciso união de forças e estratégia de gestão para congregar necessidades que vão desde o saneamento básico até o financiamento responsável das ações que vão gerar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.

Vamos vencer a pandemia, mas a que custo? Quantas pessoas ainda vamos perder no Brasil? Quanta dor e sofrimento ainda vão percorrer as milhares de famílias que perdem seus entes queridos dia pós dia? E o medo de se contaminar, adoecer e não ter recursos hospitalares disponíveis? E a economia? Será que o país vai se recuperar? Será que no Brasil haverá recuperação dos empregos, das empresas? Estamos sobrevivendo a uma tragédia sem precedentes.

A pandemia não é o nosso único inimigo, mas é de longe o mais perigoso e do qual será necessária a conjunção de várias forças e vontades para vencermos. Temos a oportunidade de tirar grandes aprendizados disso tudo, entre eles a renovada descoberta de que o bem maior é a nossa saúde, daqueles que amamos e de quem sequer conhecemos, mas coabita o mundo à nossa volta.

Se homenagens fossem feitas nesse dia tão importante para a Saúde, teriam que ser para os verdadeiros heróis dessa guerra, aqueles e aquelas que nesse momento arriscam suas vidas cuidando da vida dos outros que estão dentro dos hospitais, nas UTIs e enfermarias. Não somente os médicos, enfermeiros e assistentes, mas também os que estão limpando, desinfectando o chão por onde as pessoas passam, higienizando banheiros, corredores e quartos, fazendo comida para todos e dando o suporte técnico e a infraestrutura necessária.

A eles e a elas os nossos aplausos e o mais sincero reconhecimento. E a todos estes profissionais, nossa homenagem também por meio da luta por melhores condições de empregos, salários mais justos, jornadas de trabalho mais humanas, e acompanhamento da saúde integral de cada um deles e delas.

Também não podemos esquecer dos pesquisadores e cientistas que estão correndo contra o tempo em busca de vacinas e medicamentos realmente efetivos contra o Coronavírus.

Por tudo isso, o Dia Mundial da Saúde de 2021 deve ser celebrado com cuidado, respeito e proteção a esses seres humanos que estão na frente dessa batalha, que não sabemos quando vai acabar.

Mônica Lopes é da Pastoral Fé e Política e do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo

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