O testemunho da unidade na diversidade

Você sonha que um dia o amor supere o ódio? A violência dê lugar a paz? A intolerância acabe, e as pessoas se respeitem em um diálogo amoroso? Que as injustiças sejam superadas, e que haja restauração da dignidade das pessoas?

Por? Celia Soares de Sousa

Uma excelente inspiração é a Carta aos Efésios. A carta foi escrita por volta dos anos 90 d.C., é por isso uma das deuteropaulinas. “A carta apresenta uma visão do projeto de Deus para a salvação da humanidade, a partir de Jesus Cristo glorioso, projeto que engloba a criação toda, e com ela a humanidade” (Bíblia Pastoral).

Uma questão discutida é se a Carta foi dirigida para uma comunidade ou para famílias cristãs, não necessariamente de uma única localidade. A carta aos Efésios é de tipo universal. Foi escrita para toda a Igreja e não exatamente às comunidades de Éfeso. Ao longo do tempo recebeu esse nome de Carta aos Efésios e foi atribuída ao apóstolo Paulo.

Brown, um importante biblista comenta sobre a importante visão apresentada da unidade centrada em Cristo. Ele comenta que “ a visão magnífica de Efésios sobre a Igreja universal e a unidade entre os cristãos é particularmente fascinante para uma época de ecumenismo”. (Brown, 2004, pág. 813), ou seja, da unidade no respeito e diálogo entre cristãos para difundir a Paz.

No início de 2020, a pandemia da COVID19 escancarou crises já existentes em nosso país: crises sociais, políticas, econômicas e religiosas, principalmente pela falta de vontade política a situação de vulnerabilidade social aumentou significativamente e a doença se proliferou rapidamente. Essa situação agravou a polarização religiosa e política no Brasil, apontando para uma necessidade urgente de repensar a Unidade como centro do Bem Viver, do cuidado com as pessoas mais necessitadas, com o fim da violência doméstica, entre outras.

A Campanha de Evangelização da Igreja no Brasil desde 1961, realizada durante a Quaresma é a Campanha da Fraternidade. A cada ano a Igreja no Brasil apresenta uma temática urgente. Um convite para a reflexão e conversão pastoral e, sobretudo, conta com compromisso pela transformação social das batizadas e dos batizados – sujeitos eclesiais.

Para este ano de 2021, a Campanha da Fraternidade com início na quarta-feira de cinzas, será uma Campanha da Fraternidade Ecumênica com o tema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef. 2,14).

Vale ler o texto da Carta aos Efésios do capítulo 2, verso 14 ao 16, para percebermos que Cristo nos quer vivendo na unidade e no estabelecimento da paz universal entre diferentes povos, nações, raças, cores, sexo… Se faz necessário abraçar a Cruz de Jesus e com ela assumir radicalmente o Projeto de Deus:

“De fato, Cristo é a nossa paz! Ele que de dois povos fez um só, destruindo em sua própria carne o muro da separação, a inimizade, a Lei dos mandamentos expressa em preceitos. Isso ele fez para criar em si mesmo, de dois povos, um só Homem Novo, estabelecendo a paz. E para reconciliar os dois com Deus num só corpo, por meio da Cruz, destruindo nela a inimizade” (Ef 2,14-16).

A proposta da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 precisa ser assumida pela própria Igreja, com seu testemunho para a conversão de todas as pessoas, com o objetivo de que possam assumir como projeto de vida o respeito e a construção de um mundo de paz. Que “através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo, possamos convidar comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual.

Contamos com a assistência do Divino Espírito Santo, bem como com a necessária organização eclesial e social (a partir da nossa inserção) para: denunciar as violências contra pessoas, povos e a Criação, em especial, as que usam o nome de Jesus; encorajar a justiça para a restauração da dignidade das pessoas, para a superação de conflitos e para alcançar a reconciliação social; animar o engajamento em ações concretas de amor à pessoa próxima; promover a conversão para a cultura do amor em lugar da cultura do ódio; fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa.

Com olhar sereno e compassivo para essas propostas, nos sintamos convocadas/os: podemos e precisamos dar a nossa contribuição efetiva para a Unidade, tão desejada por Jesus, em nome de Deus.

“Este é o momento para sonhar grande, para repensar nossas prioridades – o que valorizamos, o que queremos, o que buscamos -, nos comprometermos com as pequenas coisas e para transformar em realidade o que sonhamos. O que ouço neste momento é semelhante ao que Isaías ouviu Deus dizer: Venham e discutiremos. Atrevamo-nos a sonhar”. (Papa Francisco, livro Vamos sonhar juntos, pág. 12)

Sigamos com Cristo, usemos da criatividade, da Santa ousadia (parresia)! Cristo é a nossa Paz!

Celia Soares de Sousa – Cristã leiga e teóloga

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