Os desafios de vocações para o sacerdócio indígena entram na pauta do Sínodo

Padre Justino Sarmento Resende é um dos raros sacerdotes indígenas e o único a participar do Sínodo para Amazônia. Salesiano, ele vem da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e é especialista em espiritualidade indígena e pastoral inculturada. Nas discussões do Sínodo de hoje, dia 17 de outubro, padre Justino falou sobre as barreiras para a formação de sacerdotes indígenas.

Por: Manuela Castro

A história pessoal do padre já mostra como a sociedade tem dificuldade de enxergar que indígenas podem e devem ser sacerdotes, caso sejam chamados a essa vocação. Segundo padre Justino, sua vocação surgiu ainda muito jovem, quando viu missionários catequizando seus avós, com muita boa vontade, mas com grande dificuldade de comunicação e de entender a língua Tuyuka. “Foi aí que eu pensei que poderia ser sacerdote para transmitir a Palavra de Deus na minha própria língua”.

Quando decidiu estudar num seminário, sofreu resistência de todos os lados, inclusive de um padre. “Os não indígenas achavam que nós não tínhamos capacidade de compreender as disciplinas exigentes da formação de sacerdotes. Meus familiares também não apoiaram. Minha mãe chorou porque queria criar os netos e essa questão da família é muito forte para os nossos povos. Meu avô disse que ser padre não é para nós Tuyukas. Até o padre que acompanhava de vez em quando nossa tribo falou que ser sacerdote não é para indígenas, nós deveríamos era jogar bola”, contou padre Justino.

O caminho não foi simples: “tive que estudar muito e continuo estudando até hoje, depois de 25 anos de sacerdócio. Precisei de uma formação básica para ser padre. Depois de concluir o seminário, voltei a estudar missiologia. Quando percebi a importância de ter mais pessoas envolvidas na educação escolar indígena, fiz um mestrado em educação. Sigo estudando para encontrar respostas para a pergunta: como nós podemos ajudar a construir novas maneiras de evangelizar na Amazônia?”, indaga o sacerdote.

Padre Justino realiza oficinas e encontros sobre inculturação e evangelização para indígenas. Ele escreveu o livro “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”, que ainda não foi publicado, mas já é usado como texto base nas catequeses das tribos onde atua. “Trouxe ao Sínodo essa ideia de que a inculturação é um processo importante e necessário, não é descaracterizar a eucaristia nem impor o catolicismo aos indígenas, é levar a Palavra dentro da nossa cultura, da nossa língua. Os indígenas precisam viver a mensagem de Jesus da melhor forma possível.”

Quando questionado sobre a proposta de ter sacerdotes casados nas tribos da Amazônia e sobre a dificuldade de os indígenas viverem o celibato, padre Justino foi enfático: “o celibato não é fácil para ninguém. É um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura no mundo podem vivê-lo. Deve ser uma decisão livre, não imposta. É difícil para mim como para qualquer outro padre não indígena”.

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